sábado, 15 de dezembro de 2012

PRODUTIVIDADE DA VIDEIRA


PRODUTIVIDADE DA VIDEIRA


 
 
                   A carga de uva que uma planta pode maturar com máxima qualidade está relacionada com a superfície foliar efetivamente iluminada. Isto significa que a qualidade da composição da uva depende mais do equilíbrio entre as folhas e a carga de uva do que o nível absoluto da carga por cepa, pois cada vinhedo possui seu próprio modelo de variação da qualidade em função do rendimento. Este modelo ou curva de comportamento dependerá da interação entre os diferentes fatores que o regula, como clima, solo, área foliar total da videira e da percentagem desta área exposta totalmente à luz solar. Conhecer este comportamento é fundamental para otimizar o manejo, pois existe uma qualidade máxima possível que corresponde a uma produtividade ótima, segundo um modelo que está determinado pelo equilíbrio vegetativo / produtividade das cepas e as características agro climáticas do vinhedo.

                Portanto, o conceito que alta produtividade reduz a qualidade da fruta deve-se em parte ao efeito que a “sobrecarga” causa atrasando a acumulação de açúcar na fruta quando comparado com aquelas plantas com menos carga. Sem dúvida, existem antecedentes que indicam que o nível de carga por planta não afeta a acumulação de açúcar e a qualidade da fruta, desde que seja observado o nível de carga específico que uma planta pode amadurecer antes que um rendimento maior atrase a maturação e afete a qualidade. É claro que a produtividade de um vinhedo influi na qualidade da uva e do vinho, porém frequentemente caímos no erro de analisar a relação entre estes dois parâmetros como se tratasse de uma simples equação matemática própria das ciências exatas quando, na realidade, trata-se de um complexo processo biológico. Como sabemos, os processos biológicos são governados ou regulados por numerosos fatores que interagem entre si.

                A produção é determinada pela quantidade de carboidratos (açucares) fornecidos ao fruto e a outros órgãos da planta. Existe um clássico conceito que relaciona a interferência entre a quantidade e a qualidade, onde quando um aumenta diminui linearmente o outro. Alem disso, muitos viticultores acreditam que se a videira passar por um estresse produzirá uva de melhor qualidade.  Entretanto, a realidade não é simples assim. O conceito cientifico é que existe uma relação entre a quantidade e a qualidade formada por uma curva ascendente onde as duas aumentam até alcançar um patamar e após sim, a qualidade diminui se aumentar a quantidade. Este patamar é o ponto que todo o viticultor deve buscar para ter qualidade.

                A qualidade da uva para vinho baixa quando se supera a capacidade fotossintética da planta e piora o seu micro clima. Num lugar de grande radiação e amplitude térmica diária a mesma qualidade se pode obter com um rendimento maior manejando o micro clima e as adversidades em momentos específicos.

                Para a qualidade da uva deve-se manipular a relação folhas / fruto (poda, raleio de cachos, desbrote, posição dos sarmentos), nutrição adequada, como também a densidade da folhagem e o comprimento dos sarmentos, para criar um micro clima (luz e temperatura) também adequado ao desenvolvimento e a maturação das bagas e se deve submeter o cacho a aflição para fomentar a síntese e a concentração de fenóis. Um fator importante na qualidade da vindima é a uniformidade de maturação dos cachos. Isto é mais importante que a maturação média proveniente de brotações desuniformes, que contém diferente relação folhas / frutos. A relação folhas / frutos obtem-se via raleio de cachos.

                O raleio de cachos tem época adequada de ser realizada por que:

                - Raleio muito cedo – no caso de um raleio precoce, o vigor das videiras é favorecido, favorecendo o engrossamento das bagas restantes, o crescimento dos brotos e o aumento da fertilidade das gemas latentes. E assim, o potencial da produção do ano seguinte será aumentado, gerando o risco de uma super produção, o que obriga a ralear novamente.

                - Raleio próximo ao inicio da maturação – poderíamos generalizar dizendo que para variedades de vinificação o raleio poderia ser realizado a partir do momento que as uvas possuem o tamanho de um grão de ervilha relativamente grande. Porque neste momento, o processo de divisão celular das bagas está concluído e não ocorrerá grande crescimento delas pela diminuição da concorrência. Alem disso, o efeito na redução da produtividade será menor e maior será a modificação das características do fruto.

                - Durante ou depois do inicio da maturação – realizado nesta época, não estaremos aproveitando o pico da síntese da cor e de outros compostos que ocorrem neste momento. Parte da cor estaria sendo jogada ao solo com os cachos eliminados; alem disso, as perdas de rendimento serão maiores, ocorre antecipação da data da colheita e os efeitos sobre a qualidade são poucos. Quanto mais tarde se realiza menor será a compensação ou recuperação do peso da fruta e o efeito sobre sua qualidade.

                O raleio de frutos deve ser feito após o fechamento do cacho e logo antes do inicio da maturação, com o objetivo de melhorar a qualidade de vinificação e não aumentar o tamanho da uva. Se 8 a 12 cm2 de folhas são suficientes para o pleno desenvolvimento de um grama de uva (dependendo de cada variedade)  e, então, um broto para dois bons cachos é aquele que tem 18 a 20 folhas bem desenvolvidas, ou o comprimento de 1,00 a 1,40 m. Antes do inicio da maturação, se deixa dois cachos nos brotos com 15 a 20 folhas, um cacho naqueles com 8 a 12 folhas (50 a 90 cm) e nenhum nos que tem menos folhas (menores de 50 cm).

                Resulta evidente que é preciso integrar bons procedimentos de gestão da folhagem dentro do ciclo de crescimento, adaptando-os aos requisitos fisiológicos da videira. Sua estrutura física, o micro clima e a fisiologia da planta afetam de forma global o seu rendimento e a sua gestão. O desenvolvimento da folhagem tem um papel físico e fisiológico (também através do micro clima) sobre o potencial que tem a planta de produzir uva de grande qualidade.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012


DESFOLHA

 
 

                A eliminação de folhas pode ser conveniente em certos casos e situações ou negativa em outras. Como norma, sempre que exista sombra na copa que prejudique a qualidade da uva e a fertilidade das gemas, a desfolha é conveniente, por favorecer o balanço fotossintético e por proporcionar um micro clima adequado para a maturação dos cachos. A sombra no interior da copa tem vários efeitos negativos que convém controlar, tais como baixas concentrações de açucares, antocianinas, fenóis e ácido tartárico; aumento de pH e do nível de potássio; e diminuição da qualidade sensorial do vinho.

                Embora esta prática seja para atingir certos objetivos, normalmente é empregada em copas muito densas desde o fechamento do cacho até o inicio da maturação para lograr uma melhor exposição à luz solar e uma melhor aeração ao redor dos cachos, o que supõem benefícios substanciais em termos de pigmentação e resistência às podridões, além de melhorar a penetração e a cobertura dos tratamentos fitossanitários sobre os frutos. A desfolha não garante necessariamente uma melhor composição da uva. Uma desfolha excessiva que sobre exponha os cachos à luz solar pode dar lugar a uma pigmentação deficiente nas bagas de variedades tintas. A excessiva exposição à luz solar pode causar perdas tanto na produtividade, como na qualidade. Perdas na produtividade ocorrem quando os frutos são danificados pelo calor e chegam a murchar. Este dano geralmente ocorre após inicio da maturação quando as uvas tem pigmentos (principalmente nas tintas) e absorvem maior quantidade de energia solar. Entretanto, podem ocorrer danos também antes do inicio da maturação, quando as bagas são totalmente ressecadas. Ou então podem permanecer intactas, mas os sintomas aparecerão quando amadurecem, pela maturação incompleta. Quanto à interferência na qualidade do vinho depende de variedade para variedade.

                É comum a realização da desfolha no terço ou quarto basal dos brotos logo antes do inicio da maturação para expor os cachos à luz direta e ao vento. Com isto perseguem melhorar a cor e a concentração de fenóis de variedades tintas, manter um ambiente seco e livre de enfermidades fungicas e amadurecer melhor o cacho pela elevação da temperatura e a exposição à luz ultravioleta (mais açucares e fenóis maduros e menos ácido málico). Esta prática tem sua origem e maior difusão nas zonas frescas e chuvosas, onde produz efeitos benéficos e é uma necessidade. Entretanto, em regiões mais quentes, onde a elevação da temperatura da uva pode ser exagerada, produz efeito adverso na cor, outros flavonóides, resveratrol e aromas, pela queimadura da casca, e na diminuição do conteúdo de nitrogênio, que torna a fermentação do mosto mais lenta. Nessas condições a desfolha, que é necessária, deve ser mais suave. Portanto, práticas que aumentem a exposição dos cachos à luz solar (como remoção de folhas) depende de vinhedo a vinhedo, isto é; temos que analisar os efeitos desta exposição nos cachos e a qualidade do vinho obtido, pois quando a folhagem da videira recebe iluminação adequada, não haverá benefícios com esta prática, ao contrário, poderá haver prejuízo. Devemos considerar que, enquanto a temperatura das folhas não apresenta diferença entre as expostas a luz solar e as que se encontram no interior da copa, devido à regulação térmica produzida pelo processo da transpiração, o mesmo não ocorre com os cachos, já que os expostos apresentam maior temperatura que os localizados em ambiente sombrio, principalmente nas uvas tintas. A situação ideal é manter uma boa exposição dos mesmos, porém com certa proteção foliar; a qual pode ser de maior ou menor grau, segundo o clima e as variedades que se cultivam.

                A atividade fotossintética das folhas dispostas ao longo do sarmento e o transporte de compostos assimilados podem aumentar se melhorar as condições microclimáticas da folhagem e diminuir a proporção entre a fonte e o receptor, graças à gestão da folhagem. No obstante, sempre devemos manipular a planta de modo a deixarmos suficiente superfície foliar para permitir o correto desenvolvimento da uva e a entrada da luz solar no interior da folhagem, porem interceptando ao mesmo tempo o excesso de radiação sem perder energia utilizável.