segunda-feira, 27 de maio de 2013

MORTE DESCENDENTE DA VIDEIRA


MORTE DESCENDENTE DA VIDEIRA

 

                As doenças do lenho são hoje responsáveis por significativos prejuízos em vinhedos de todo o mundo, atacando em todos os estágios de crescimento da videira,  causando o declínio lento e perda de produtividade. A infecção pode ocorrer através do material de propagação ou via as feridas da poda de inverno.

                Este é um problema que preocupa todos os viticultores, principalmente por não existir um tratamento curativo para as plantas infectadas, ainda mais, por ser doenças que podem passar despercebidas durante grande parte da sua evolução  e só se manifestar muitas vezes quando os danos já são irreparáveis.

O risco de ocorrer à infecção é determinado, em grande parte, pela suscetibilidade da ferida. Neste sentido numerosos fatores contribuem, como: período do ano em que é feito o corte, o tempo que a ferida demora para cicratizar,  movimento da seiva e temperatura. As feridas feitas no inicio do inverno são suscetíveis por quatro a cinco semanas, enquanto que as feitas no final do inverno ou inicio da primavera são suscetíveis por 10 a 14 dias. As feridas cicatrizam mais rapidamente quando feitas mais tarde do que no inicio do inverno devido ao mecanismo natural da videira. As feridas também tendem a secar mais rapidamente com temperatura mais alta, que ajuda a cicatrizar. A temperatura mais alta no final do inverno também favorece o desenvolvimento de outros microorganismos na superfície da ferida, promovendo competição por nutrientes e antagonismo entre eles reduzindo a possibilidade de infecção. Alem disso, próximo ao inicio da brotação ocorre exsudação de seiva que pode expulsar os esporos de dentro dos vasos do xilema.

O tamanho da ferida também influencia na suscetibilidade. Os cortes maiores tem maior possibilidade de infecção, visto terem maior área para o fungo se instalar. Alem disso, demoram mais para cicatrizar. Estudos demonstraram que não há diferença de suscetibilidade entre cortes na madeira de dois ou três anos. Entretanto, cortes feitos na madeira de um ano tendem a ter muito menor risco dos feitos em madeira velha.

No vinhedo, o período decorrido entre a infecção nas feridas e o aparecimento de sintomas nas folhas varia de 1 a 8 anos. A invasão do micélio na madeira das diferentes variedades de uva é na base de 10 a 18 mm por ano. Os sintomas na madeira aparecem após diversos anos, e provavelmente contribui pela morte das plantas, entretanto, a severidade dos sintomas nas folhas varia de ano a ano, provavelmente devido aos fatores ambientais. Existem poucas informações sobre o efeito do ambiente no desenvolvimento da infecção, crescimento e aparecimento dos sintomas.

Os sintomas da morte descendente do lenho podem ser verificados  nos braços e no tronco pelo aparecimento, interno, de manchas necróticas e de consistência dura e com coloração acastanhada e nas folhas pelo tamanho reduzido, crispamento, necroses marginais  e que podem estender-se a toda a folha . A morte do lenho dá-se a partir de uma ferida e caminha pelo ramo no sentido descendente.

 


Os estragos desta doença refletem-se ao nível produtivo, causando desavinho e redução da produção, na perda de qualidade, podendo em algumas variedades haver a redução do componente aromático, e perdas econômicos devido ao replantio das videiras mortas.

Entre os fatores que favorecem o desenvolvimento destas doenças convém salientar:

- Clima (temperatura e umidade) exerce um papel importante no desenvolvimento destas doenças. Os períodos de chuva e frio durante a época da poda são favoráveis à dispersão dos esporos e ao desenvolvimento.

- Época da poda, especialmente durante período de chuva e de frio. Quando a poda ocorre no inicio do inverno as feridas de poda mantêm-se receptivas à doença por períodos mais ou menos longos 4 a 5 semanas, enquanto que quando a poda é feita no final do inverno ou inicio da primavera diminui a suscetibilidade à doença;

- Todos os sistemas de poda que originam grandes feridas promovem a instalação destas doenças, sendo a condução em Guyot citada como mais favorável que a poda em cordão esporonado;

- A receptividade da videira à doença está também relacionada com a idade das plantas, ou seja, as videiras adultas com 25 a 30 anos apresentam a máxima susceptibilidade, embora possa contaminar videiras jovens;

- Há autores que referem à influência de certos porta-enxerto, como do gênero Rupestris. (devido à sua riqueza em taninos);

- Fatores que aumentem o vigor da videira, especialmente nos primeiros cinco anos da plantação (solos férteis, porta-enxerto vigoroso, adubações excessivas);

- Todas as técnicas culturais que possam provocar feridas (cortes de poda de grandes dimensões, acidentes com maquinas e ferramentas, escarificações profundas, etc);

- Falta de desinfecção dos utensílios de corte bem como plantas mortas deixadas sobre o solo, favorecem a disseminação dos fungos responsáveis por estas doenças.

Controle

                   Na ausência de tratamentos químicos eficazes, torna-se assim imperativo adotar medidas profiláticas (meios de luta cultural) de forma a reduzir a fonte de inoculo e o risco de contaminação, e paralelamente proceder à reconversão ou replantio das videiras afetadas, a fim de diminuir os impactos destas doenças.

Diversas práticas de manejo são preconizadas para evitar o ataque dos fungos causadores da morte descendentes, como a retirada e queima de toda a madeira da poda de dentro do vinhedo, não podar quando chove ou houver alta umidade e podar o mais tarde possível e pincelamento das feridas com pasta protetora.

No caso de videiras atacadas é recomendável eliminar toda a parte com sintomas até cerca de 10 cm abaixo do local em que não aparecem mais sintomas.

A eliminação da parte das videiras atacadas de dentro do vinhedo pode reduzir o nível da fonte de inoculo, entretanto somente isto não é suficiente. Os esporos do fungo podem ser carregados pelo vento por cerca de 50 km e há muitas fontes de inoculo, como árvores frutíferas, árvores nativas e plantas ornamentais.

A transmissão via ferramentas de trabalho é sem duvida o maior fator de disseminação da doença. Entretanto, o uso de fungicida sobre a ferida elimina qualquer fungo disseminado pela ferramenta. Mas a desinfecção da ferramenta é uma prática aconselhável.

Há estudos indicando que o Tebuconazole, Fenarimol, Cyprodinil + Fludioxonil e Tetraconazole são os fungicidas que mais inibem a germinação de esporos e também inibem o desenvolvimento das hifas.

Portanto, como medida de prevenção devemos adotar a estratégia de pincelamento das feridas feitas sobre o lenho, quer seja de poda, eliminação de parte atacada ou acidentais, com um dos seguintes produtos:

1 – Pasta bordalesa = em 10 litros de água dissolver 2 kg de Sulfato de Cobre e 2 kg de cal.

2 – Tinta plástica = em um litro de tinta plástica adicionar 20 ml (g) de um dos fungicidas acima indicados.

 

 

Bibliografia consultada

ALMEIDA, F. – Doenças do lenho da videira – Eutipiose e Esca. Cadernos Técnicos ADVID. 2007.
BESTER, W., CROUS, P.W. and FOURIE, P.H. - Evaluation of fungicides as potential grapevine pruning wound protectants against Botryosphaeria species. Australasian Plant Pathology 36. 2007.
 
CARTER, M.V. - The status of Eutypa lata as a pathogen. Monograph – Phytopathological Paper No. 32. (International Mycological Institute, Surrey, UK). 1991.

HALLEEN, F., FOURIE, P.H. and CALITZ, F.J. - In vitro sensitivity of Eutypa lata to various fungicides. Wynboer. 2001.

SOSNOWSKI, M.R., WICKS, T.J., LARDNER, R. and SCOTT, E.S. - The influence of grapevine cultivar and isolate of Eutypa lata on wood and foliar symptoms. Plant Disease 91. 2007.

SOSNOWSKI,M.CREZSER,T. WICKS, R. LARDNER, R and SCOTT,E. -  Protection of grapevine pruning wounds from infection by Eutypa lata. Australian Journal of Grape and Wine Research, 14. 2008.

SOSNOWSKI,M., LOSCHIAVO, A., WICKS, T. and SCOTT,E.- Managing eutypa dieback in grapevines. Australian & New Zealand Grapegrower and Winemaker. 2009.

SOSNOWSKI, M. & LOSCHIAVO, A. -  Management of Eutypa dieback and Botryosphaeria canker in south-western Western Australian vineyards. 2010.

TEY-RULH, P., PHILIPPE, I., RENAUD, J.M,, TSOUPRAS, G., De ANGELIS, P., FALLOT, J. and TABACCHI, R. - Eutypine, a phytotoxin produced by Eutypa lata the causal agent of dying-arm disease of grapevine. Phytochemistry 30. 1991.

 

sábado, 11 de maio de 2013

VITICULTURA - Poda da Videira



A PODA DA VIDEIRA

 

                Embora a gestão da copa esteja mais relacionada com a operação de poda verde, as decisões tomadas durante a poda de inverno (número de gemas, comprimento da poda, posição dos esporões e das varas, etc.) podem ter uma influência determinante no crescimento da copa, na produção e na composição final da uva. Neste sentido, um dos temas mais debatidos, embora ainda por resolver, é a eleição entre a poda curta (esporões) ou longa (varas). É verdade que com a poda em esporões se obtém uma brotação bem mais numerosa, porém o sistema Guyot garante uma maior fertilidade das gemas e cachos maiores, equilibrando a situação, e o resultado final é uma produção por videira muito parecida. Como conseqüência é conveniente observar que tampouco diferem quanto à composição da uva, sólidos solúveis do mosto e concentração de antocianina. Por outro lado, se levarmos em consideração a mão-de-obra, esta comparação inclinaria a balança em favor da adoção da poda longa, pois embora a poda em cordão esporonado implique num significativo ganho de mão-de-obra por ocasião da poda de inverno, requer maior número de horas para a poda verde e levando-se em consideração a falta de mão-de-obra é conveniente diminuir a necessidade para a poda verde. Porém, tem outro detalhe a considerar: o hábito de brotação de cada variedade - é de conhecimento geral que existem variedades de uva de difícil brotação em poda longa e isto pode resultar em grande perda de produção e é variável de região a região.

                A característica principal que relaciona uma variedade com o tipo de poda é a fertilidade das gemas, entendendo-se esta como o número de inflorescências por broto. Variedades férteis em suas gemas basais admitem poda curta, inclusive esporões de uma única gema. Ao contrário, existem outras variedades que somente possuem fertilidade nas gemas mais altas, quarta, quinta ou mais; exigindo, por tanto, uma poda longa.

                Geralmente fala-se de fertilidade média, que é dada pelo número total de cachos divididos pelo numero de gemas deixadas na planta por ocasião da poda de inverno. A fertilidade pode flutuar entre valores abaixo de uma unidade até o máximo ao redor de três unidades. A fertilidade é condicionada grandemente a variedade, ao clima, às condições gerais de nutrição e sanitárias, ao tipo de poda, ao porta-enxerto, etc. Dentro de certos limites, a fertilidade da gema é correlacionada positivamente ao vigor do sarmento e do tronco; vigor excessivamente baixo e alto deprime a fertilidade das gemas.

                O método mais comum de determinar a carga de gemas é empírico e se baseia no vigor, tomando-se como base o desenvolvimento dos sarmentos (diâmetro, comprimento e ramificações). De ano em ano faz-se ajustamentos para mais ou para menos. Outro método baseia-se na pesagem dos sarmentos resultantes da poda, de certo número de plantas representativas, comparando-se com o do ano anterior.

ÉPOCA DA PODA - A poda de inverno, como é de conhecimento, realize-se durante o período de dormência da videira. Sabe-se que este período, no hemisfério Sul, vai de Maio a final de Agosto, agora, quando podar dentro deste espaço de tempo depende das condições macro e mesoclimáticas do local, e de cada estação, e da disponibilidade de mão-de-obra em relação a área cultivada.

                O período da poda tem potencial influência no desenvolvimento das inflorescências nas gemas e na brotação da videira. Há estudos que demonstraram que ocorre redução da brotação das gemas distais, em varas,  quando a poda for realizada no final do período de dormência. Este fenômeno é importante porque o desenvolvimento apical que é normal na videira é modificado pela poda tardia, resultando na diminuição da brotação das gemas distais e na melhor brotação das gemas ao longo da vara. Isto se deve a melhor distribuição da auxina, fito hormônio que induz a divisão celular e o desenvolvimento, quando as gemas estão mais maduras no final do período de dormência. Neste estágio as gemas terminais estão aptas a iniciarem a produção de auxinas para dar inicio a brotação e isto inibe a dominância apical observada nas gemas distais.