quinta-feira, 10 de outubro de 2013

MÍLDIO DA VIDEIRA

                            A doença é causada pelo fungo Plasmopora vitícola (Berk & Curt).
                O fungo hiberna sob a forma de oósporos no interior das folhas infectadas e caídas sobre o solo e pode, também, passar o inverno na forma de micélio dormente sobre os sarmentos atacados. Estes esporos são muito resistentes e podem sobreviver por mais de cinco anos. Nas manchas de Míldio existentes nas folhas no final do ciclo, a produção de oósporos pode acontecer com qualquer temperatura, mas parece que ocorre preferencialmente quando há pouca umidade, porque  neste caso, não é possível a esporulação, ou então quando as folhas estão em senescência. A quantidade de oósporos produzida é extremamente alta, facilmente pode alcançar 250/mm2. Estes esporos amadurecem durante o inverno e somente germinam rapidamente, no inicio do ciclo vegetativo da videira, formando esporângio quando expostos a um filme de água.
                Na primavera quando a temperatura do solo estiver ao redor de 12 oC a 13 oC e umidade, ocorre à germinação do oósporo formando o esporângio. Uma vez que o esporângio  se desenvolveu, libera os zoósporos que são transportados para as folhas novas pela ação dos pingos da chuva ou pelo vento.
                A primeira infecção somente ocorre quando a temperatura mínima do ar estiver acima de 10 oC, com a queda de no mínimo 10 mm de chuva nas ultimas 48 horas e que as folhas tenham no mínimo 6 a 8 cm2 de área (isto corresponde, aproximadamente, ao comprimento do broto de 10 cm).
                Uma vez os zoósporos caindo sobre a folha, por possuir cílios que se movimentam, incistam-se no estômato da mesma e penetram, instalando-se na câmara estomática, daí o pro-micélio se expande através do espaço intercelular colonizando o tecido do hospedeiro. Sob condições favoráveis de temperatura e umidade o tempo decorrido entre a penetração e a germinação é de 90 minutos.
                O tempo decorrido entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas (mancha de óleo na parte superior da folha) é de aproximadamente 4 dias, dependendo da idade da folha, cultivar, temperatura e umidade. Isto ocorre porque o micélio, depois de certo período, chamado de incubação, destroem os cloroplastos, surgindo então à mancha amarelada (mancha de óleo), e cerca de um a três dias após o aparecimento da mancha de óleo surge à mancha de conídios na parte inferior da folha. Mas para que isto ocorra é necessário que a temperatura mínima esteja ao redor de 14 oC e umidade relativa acima de 80%, a partir disto poderão ocorrer às infecções secundárias.


               Todos os fatores que contribuem para aumentar o teor de água no solo, ar e planta favorecem o desenvolvimento do Míldio. Dificilmente ocorre infecção se a umidade do ar for inferior a 75%, porém, ela será grande quando o período de água livre (chuva, orvalho ou neblina) for maior de três horas e sob condições de céu encoberto.
       O fungo incide sobre todos os órgãos verdes da planta, preferencialmente naqueles mais tenros, desenvolvendo um micélio que neles penetra para absorver a seiva.
                Dependendo da temperatura, umidade e a suscetibilidade da variedade, o ciclo da doença completa-se em 4 a 18 dias. Havendo elevação de temperatura e período seco, o míldio entra em dormência reaparecendo quando as condições climáticas forem favoráveis.
                O ataque do míldio sobre a inflorescência (antes da floração) ou no cacho recém formado (logo após a floração), causa perda elevada de produção. Quando ocorre sobre a inflorescência a danifica deixando-a em forma de gancho. Na floração, o patógeno provoca o escurecimento e destruição das flores afetadas, sintomas muito semelhantes aos ocasionados pela antracnose. Nos estádios da pré-floração e em bagas pequenas, o fungo penetra pelos estômatos, causando escurecimento e secagem destes órgãos, observando- se uma eflorescência branca que é a frutificação do fungo.  

                 Controle
Algumas medidas profiláticas ligadas à condução da videira e que podem ser utilizadas para a prevenção do Míldio:
- Favorecer uma boa drenagem do solo evitando a formação de poças de água;
- Controlar o vigor excessivo das videiras, através de uma correta adubação, especialmente atenção com o excesso de nitrogênio;
- Eliminar por ocasião da poda hibernal os ramos ladrões da base das cepas (fonte primária para o ataque do Míldio);
- Realizar poda verde precoce a fim de melhorar o arejamento e a insolação dos cachos.
Tratamento químico = Até que ocorra a infecção pelo Míldio, todos os produtos são eficientes, isto é; como preventivos. A partir da infestação, até 24 ou 48 horas após, pode-se obter o controle mediante o emprego de fungicidas translaminares ou sistêmicos.
                Quando aparecer a mancha amarela (mancha de óleo) na superfície superior da folha, mas antes do aparecimento da mancha branca na face inferior, obtem-se bom controle mediante o uso de fungicidas de ação antiesporulante, como é o caso do Dimetomorf, Fenamidona e Iprovalicarb.
Como estratégia de controle, no inicio do ciclo vegetativo da videira quando a área foliar ainda é pequena, a temperatura não está dentro da faixa ótima para o desenvolvimento do míldio e a quantidade de inoculo é pequena, embora ocorram chuvas, os estragos que podem ser causados pelas infecções primárias são insignificantes. Nesta fase corresponde aos primeiros tratamentos,  às intervenções podem ser feitas com produtos de contato, mesmo com tempo chuvoso. Embora não seja errado o uso de produtos sistêmicos ou translaminares. Entretanto, devemos considerar que estamos usando produtos sistêmicos ou translaminares numa fase que não são necessários, comprometendo a sua utilização mais tarde (devido o risco de resistência é aconselhável usá-los 3 a 4 vezes por ciclo vegetativo) e além disso, são mais caros. Numa fase posterior que vai dos cachos separados ao inicio da floração, podemos usar qualquer tipo de fungicida, dependendo das condições climáticas: tempo seco e sem míldio visível usar fungicidas de contato; tempo úmido, embora sem a presença de míldio, é aconselhável usar produtos sistêmicos ou translaminares.
                Na fase de floração é aconselhável o uso de produtos sistêmicos ou translaminares, a não ser que o tempo seja seco e então podemos usar produtos de contato.
                A partir do inicio da formação do grão, que geralmente coincide com o final de Outubro, entramos num período critico onde a ocorrência de míldio é muito grande, devido às condições de umidade e temperatura, e este período se estende normalmente até final de Novembro. Neste período devemos seguir tratando com produtos de ação sistêmica ou translaminar. A partir desta data, final de Novembro, se o tempo for seco podemos tratar com produtos de contato, mas se o tempo for chuvoso é aconselhável utilizar produtos translaminares. Sempre observando que a partir do grão tamanho de ervilha, como neste estágio a transpiração deste órgão é muito pequena, os produtos sistêmicos terão pouca ação no controle da doença sobre o grão.
                Dentre os fungicidas recomendados para o controle do Míldio encontramos:
                - Produtos de contato = Os fungicidas protetores (de contato) formam uma camada na superfície do órgão tratado e protegem a planta da infecção pelo patógeno. Quando o esporo do fungo cair na superfície foliar e absorver água para germinar, absorve também o fungicida e a germinação é impedida. Os principais produtos são =  dithianon, captan, folpet, mancozeb, hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre, metiran, propineb, maneb e sulfato de cobre.
                - Produtos translaminares ou de profundidade =  
                - Penetrante local (mesostêmicos) = o fungicida move-se somente em pequena distancia, somente penetra na cera cuticular e permanece lá = Famoxadona e Zoxamida
                - Penetrante translaminar (Loco-sistêmicos, de profundidade ou translaminares) = pode se mover através da cutícula entre as células até o lado oposto da folha. = azoxistrobina, cymoxanil, fenamidone, iprovalicarbe e piraclostrobina.
                - Produtos sistêmicos =  movem-se através das células e seguindo a rota da transpiração. Os sistêmicos podem se mover para cima e para baixo na planta. Vários fungicidas são considerados sistêmicos. Devemos lembrar que o fungicida sistêmico tem limitadas habilidades curativas. Os fungicidas penetrantes somente param ou reduzem a infecção nas primeiras 24 ou 72 horas após a penetração do fungo. Portanto, melhor controle é conseguido quando os fungicidas penetrantes são aplicados preventivamente =  benalaxil, metalaxil e fosetil alumínio.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BALDACCI, E and REFATTI, E. - . La lotta contro le due maggiori ampelopatie: peronospora (Plasmopara viticola) e oidio (Uncinula necator) in relazione alla conoscenza dei periodi di incubazione e dei cicli biologici. Annali della Facoltà di Agraria di Milano. 1956.
COSTA, J. P. N. – Míldio da Videira. Div. Doc. Inf. e Relações Públicas. Min. Agr. do Des. Rural e da Pesca. Portugal.
COSTA, JORGE P. N. – Míldio da Videira (Plasmopora viticola) – Fungicidas e estratégia de luta química. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Portugal.
GARRIDO, L. R. e SONEGO, O.R. – Mildio da Videira. Cultivar HF. Dez.2001/Jan 2002.
GESSLER, C; PEROT, I and PERAZZOLLI, M. - Plasmopara viticola: a review of knowledge on downy mildew of grapevine and effective disease management. Phytopathol. Mediterr. (2011).

MYERS. A. L - Downy mildew of grape. Grape Pathology Extension Specialist, Department of lant Pathology, Physiology, and Weed Sciences, Virginia Tech. AHS Agric. Res. Expt. Station, Winchester, VA

National Wine & Grape Industry Center. Australia
PEARSON, R.C. and GOHEEN, A.C. – Compendium of grape diseases. 1st ed. American Phytopathological Society Press, St. Paul, Minnesota, USA. 1988.

SMITH, D. L. – Undertanding fungicides to Improve their use and efficacy. Department of Plant Pathology. University of Wisconsin-Madison, Madison. 2013.

VCR – Guida Pratica Allá Lotta Antiparasitaria della Vite. Vivai Cooperativi Rauschedo.