A palavra fungicida é
originada de duas palavras latinas "caedo"
que significa matar e "fungus"
que significa fungo. Apesar da especificidade, a definição, com o tempo, se
tornou mais abrangente. Desse modo podemos definir a palavra fungicida, atualmente,
como composto químico empregado no controle de doenças de plantas, causadas por
fungos, bactérias e algas.
Os fungicidas podem ser classificados quanto à mobilidade em: contato ou
penetrantes. Independente da mobilidade, os produtos fungicidas agem melhor
quando aplicados antes que os sintomas da doença apareçam e o patógeno inicie a
reprodução (esporulação).
Fungicidas
de Contato - Tópicos ou imóveis – são os fungicidas que aplicados nos órgãos aéreos não são
absorvidos e nem translocados, permanecem na superfície da planta no local onde
foram depositados. São chamados, também, de não sistêmicos ou de contato.
Os fungicidas protetores formam uma camada na
superfície do órgão tratado e protegem a planta da infecção pelo patógeno.
Quando o esporo do fungo cair na superfície foliar e absorver água para
germinar, absorve também o fungicida e a germinação é impedida. Em geral, os
protetores inibem, inespecificamente, reações bioquímicas e afetam um grande
número de processos vitais. Há evidencias que atuam tanto na membrana como no
protoplasto. A maioria dos fungicidas
protetores tem amplo espectro e têm modo de ação multi-sítio, uma vez que atuam
em vários processos metabólicos do fungo.
Os fungicidas protetores atuam principalmente
prevenindo a germinação e penetração. Porém, podem prevenir a disseminação e
penetração dos esporos dos fungos na superfície da planta hospedeira. São
efetivos somente se aplicados antes da penetração do patógeno nos tecidos do
hospedeiro. Esses produtos são relativamente insolúveis em água. Portanto,
quando se aplica um fungicida protetor, o depósito seca na superfície do
hospedeiro, e, para que o ingrediente ativo seja liberado, torna-se necessária
a presença da água, formando por conseguinte uma suspensão na superfície da
planta.
Entre os principais representantes destes produtos destacam-se os
fungicidas a base de cobre, mancozeb, metiram, chlorothalonil, fluazinam,
propineb, captana, folpet, ditianona e estanhados. Tais fungicidas exigem
aplicações periódicas e cobertura de toda parte aérea da planta, pois somente
garantem a proteção contra infecções no local em que estão depositados. As
aplicações podem ser sequenciadas em períodos pouco favoráveis à doença ou
intercaladas a fungicidas específicos em períodos críticos. O período de
proteção destes fungicidas na planta varia em função das características
técnicas de cada produto, sendo este de 4 a 8 dias em média. De maneira geral,
as pulverizações visando renovar a proteção das plantas devem ser repetidas a
intervalos de 4 a 7 dias em períodos chuvosos ou de rápido desenvolvimento
vegetativo da cultura e de, 7 a 10 dias, em períodos secos ou em caso de
paralisação no crescimento vegetativo. São fungicidas recomendados no decorrer
de todo o ciclo da cultura.
Os fungicidas de contato aplicados sobre a
superfície do órgão da planta (folha, ramo, flor ou fruto) não penetra no
tecido deste. Ele pode ser lavado pela água da chuva ou degradado pela
exposição às condições climáticas. Por isto os fungicidas de contato devem ser
reaplicados regularmente para restabelecer a proteção dos órgãos da planta e
para proteger a ponta de crescimento. Os fungicidas de contato agem formando
uma barreira contra a invasão do fungo. Por isto, devem ser aplicados antes que
o fungo se instale.
Penetrantes
Fungicidas penetrantes podem se mover para o
interior da planta após a sua aplicação. Devido ao movimento para o interior da
planta estes fungicidas são geralmente considerados “sistêmicos”. Entretanto a
sistematicidade varia conforme o fungicida e pode ser classificada como:
-
Penetrante local (mesostêmicos) = o fungicida move-se somente em pequena
distancia, somente penetra na cera cuticular e permanece lá.
-
Penetrante translaminar (Loco-sistêmicos, de
profundidade ou translaminares) = pode se mover através da cutícula
entre as células até o lado oposto da folha.
-
Penetrante acropetal (móveis) = move-se dentro
da planta via o xilema (xilema são os vasos condutores da seiva bruta) e
move-se entre as células ao longo do gradiente potencial da água. Os
penetrantes acropetal movem-se somente para cima.
- Penetrante sistêmico = move-se através das
células e seguindo o gradiente do açúcar. Os sistêmicos podem se mover para
cima e para baixo na planta. Vários fungicidas são considerados sistêmicos.
Devemos lembrar que o fungicida sistêmico tem limitadas habilidades curativas.
Os fungicidas penetrantes somente param ou reduzem a infecção nas primeiras 24
ou 72 horas após a penetração do fungo. Portanto, melhor controle é conseguido
quando os fungicidas penetrantes são aplicados preventivamente.
Mesostêmicos –
são substâncias químicas que apresentam
afinidade com a superfície foliar podendo ser absorvidas pela camada de cera,
formando um depósito na superfície do órgão suscetível. Posteriormente, o
produto pode ser redistribuído na superfície da planta por sua fase vapor. A
substância mesostêmica penetra os tecidos apresentando atividade translaminar,
porém, com translocação vascular (via xilema ou floema) mínima ou inexistente.
Os fungicidas mesostêmicos
apresentam maior resistência à remoção pela água da chuva ou irrigação do que
os protetores, são lipofílicos (ligam-se às gorduras).
Os principais fungicidas mesostêmicos são: azoxistrobina,
cresoxim metílico, picoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina.
Loco-sistêmicos,
de profundidade ou translaminares – Segundo Reis, o
termo sistêmico pode induzir à ideia de que o fungicida pode ser translocado
para qualquer parte da planta independentemente de sua espécie botânica. Por
exemplo, em gramíneas a translocação é completa dentro da folha, da base para o
ápice. Por outro lado, muitos fungicidas móveis, em plantas de folhas largas,
apresentam uma ação loco-sistêmica, ou seja, são translocados somente a
pequenas distâncias dentro da folha a partir do ponto de deposição,
necessitando, por isso, de boa cobertura, para que seja obtida eficiência
máxima no controle.
Como
exemplo as estrobirulinas e os triazois.
Estes dois grupos (mesostêmicos e loco-sistêmicos) são, também
chamados de fungicidas com ação translaminar ou penetrantes, que se
caracterizam por penetrar e se redistribuir rapidamente no local tratado,
todavia não se translocam pela planta e não protegem brotações novas. Tal
característica garante a estes produtos a capacidade de atuarem como
preventivos, curativos e erradicantes. São fungicidas classificados como
seletivos, pois inibem processos metabólicos específicos inerentes a grupos restritos
de fungos. O fato de estes fungicidas penetrarem nos tecidos, permite que
sofram menor ação das intempéries e apresentem ação curativa em infecções com
até 48 horas de incubação, além de significativa ação antiesporulante. Estes
produtos devem ser pulverizados a intervalos de 7 a 10 dias, em caráter
preventivo, assim que as condições climáticas se tornem favoráveis à doença.
Entre os principais exemplos destes fungicidas destacam-se os produtos
dimetomorfe, cymoxanil, pyraclostrobin, fenamidone, zoxamida e famoxadona.
A famoxadona e a zoxamida são substâncias capazes de
penetrar na camada cerosa que envolve a folha, fixando-se fortemente ali. São
mais resistentes à lavagem que as substâncias de contato, mas não penetram no
interior da folha. Entretanto, o cimoxanil
é uma substância com ação penetrante local. Isto é, penetra nos tecidos
vegetais em profundidade, mas não se difunde dentro da folha nem passa de uma
folha a outra, não sendo, por isso, verdadeiramente sistêmico. Embora com ação
preventiva pouco duradoura, dado a fraca persistência, o cimoxanil tem
excelente ação curativa nos estádios iniciais das infecções (até 2 dias após a
contaminação). Essa ação curativa, por definição, é a que se exerce sobre o
micélio do fungo, travando o seu desenvolvimento no interior dos tecidos da
planta.
A azoxistrobina, a piraclostrobina, o dimetomorfe e o iprovalicarbe
são substâncias ativas com propriedades sistêmicas, essencialmente penetrantes,
mais ou menos translaminares e/ou com mobilidade lateral. Isto quer dizer que
penetram na folha, difundindo-se nela em profundidade e lateralmente. A
azoxistrobina e o dimetomorfe, por serem translaminares, podem mesmo atingir a
pagina inferior. São, pois, substâncias que possuem alguma sistemia, embora não
a suficiente para serem translocadas de folha para folha, o que as torna
ineficazes na proteção da vegetação nova. Alem da ação preventiva, estas
substâncias tem assinalável ação
curativa, desde que aplicadas logo a seguir às contaminações, bem como
considerável ação antiesporulante. Esta ultima traduz-se na limitação da
formação de esporos e/ou da sua mobilidade e sobrevivência.
Sistêmicos ou móveis – são aquelas substâncias absorvidas
pelas raízes e pelas folhas, sendo, posteriormente translocadas pelo sistema
condutor da planta via xilema e floema. Translocação é o movimento do composto
químico dentro do corpo da planta para tecidos distantes do local da deposição.
A translocação via xilema ou acropetal é a mais comum, como ocorre com os
benzimidazóis e triazóis. Os triazóis, translocam-se principalmente via xilema,
porém apresentam uma translocação parcial via floema. O movimento via floema,
ou basipetal é mais difícil, e somente o composto fosetil apresenta esta
propriedade. Por isso, os fungicidas sistêmicos diferem dos não sistêmicos por
sua habilidade de serem redistribuídos dentro dos órgãos tratados,
principalmente folhas.
Uma característica importante
dos compostos sistêmicos é a translocação ao longo da rota de transpiração da
planta. As folhas são órgãos primários de transpiração, e o movimento dentro da
planta é no sentido do sistema radicular para as folhas em expansão. Folhas
muito jovens, flores e frutos, por não transpirarem quantidades significantes
de água, recebem pequena quantidade de fungicida. É de se esperar também que os
frutos não recebam resíduos desses produtos.
Os fungicidas sistêmicos apresentam, em geral, características
semelhantes aos fungicidas translaminares. No entanto, distinguem-se pelo fato
de serem translocados pelo sistema vascular e se distribuírem pela planta como
um todo. Apresentam rápida absorção (30 minutos em média) e períodos de proteção
de 10 a 14 dias, fato condicionado por fatores como umidade relativa,
temperatura, taxa de crescimento das plantas, pressão da doença, etc. Diferente
dos fungicidas de contato e translaminares, os sistêmicos apresentam proteção
sobre os órgãos formados após a aplicação.
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