domingo, 23 de outubro de 2011

DOENÇAS DA VIDEIRA (parte 3)

Doenças da videira 

                Neste artigo vamos tratar das doenças que podem infectar a videira na floração e se manifestarem na maturação. As doenças que podem atacar e/ou se instalar nas bagas da uva durante a floração são a Botrytis e a Glomerella.
Botrytis - Botrytis cinérea (Pers)
                        Este fungo hiberna sob a forma de esclerócios (manchas alongadas de coloração negra) sobre os sarmentos, ou sob a forma de micélio nas fendas da madeira e gemas, ou, ainda,  sobre as bagas mumificadas. Ao chegar à primavera, mediante condições de umidade e temperatura, produz esporos (conídios) que são espalhados pelo vento. Há evidencias que a infestação ocorre durante a fase de floração da videira, quando os esporos infestam os estigmas das flores. Neste estagio,  pode ocorrer a destruição total ou parcial da inflorescência ou o fungo permanecer latente até as bagas começarem a acumular açúcar. Quando durante a maturação as bagas iniciam a concentração de açúcar, o fungo se desenvolve e espalha-se no interior da baga causando rachaduras e posteriormente, nas rachaduras, aparece uma camada de esporos. Os pedicelos, o pedúnculo e o raquis do cacho também são invadidos.
                        Os esporos produzidos nos frutos infestados são espalhados pelo vento e vão causar a doença sobre bagas sadias e sem infecção. A probabilidade da ocorrência desta infecção depende da concentração de açúcar, da umidade relativa, que deve estar acima de 90% e da temperatura que deve estar entre 15oC a 28oC. A infecção pode secar rapidamente ou cessar o desenvolvimento se ocorrer um período de altas temperaturas e seco.
                        Vários fatores interferem na suscetibilidade da uva à Botrytis.
                        - Variedades tintas contem compostos que inibem o seu desenvolvimento, portanto são menos suscetíveis.
                        - Variedades de cachos compactos são mais suscetíveis.
Controle
                        Cultivares suscetíveis geralmente necessita de proteção através da combinação de práticas culturais e produtos químicos. Para diminuir os riscos de ataque de botrytis deve-se controlar o vigor das plantas, via uso correto de porta-enxertos e adubação nitrogenada racional e melhorar a aeração e a insolação na altura dos cachos.
                No controle químico os produtos indicados são:
                - Contato = folpet, iprodione, clorothalonil, mancozeb e captan
                - Sistêmicos = procymidone, prymethanil e tiofanato metil.
                Devemos realizar tratamentos nas seguintes épocas:
                - Inicio da floração
                - Plena floração
                - Fechamento dos cachos
                - Inicio da maturação.
                       
Podridão da Uva Madura - Glomerella cingulata (Stonem)  Spauld e Schrenk
                   O fungo sobrevive de um ciclo vegetativo da videira a outro    nos frutos mumificados e nos pedicelos. Durante a primavera ocorrendo chuva os conídios produzidos pelos micélios sobreviventes causam a infecção primária.
                Os frutos são suscetíveis a doença durante todos os estágios de desenvolvimento desde a baga recém formada até a maturação, mas o fungo permanece latente e somente aparecem os sintomas na maturação da uva. O desenvolvimento da doença é favorecido com altas temperaturas (25 a 30 oC) e alta umidade.
                Os primeiros sintomas são o aparecimento de pequenas manchas concêntricas de coloração escura. Posteriormente estas manchas podem se alargar tomando toda a baga. Sobre as manchas apodrecidas forma-se uma camada de fungo de coloração salmão. Mais tarde a massa de esporos torna-se escura (marrom-avermelhada). As bagas apodrecidas apresentam depressões no ponto de infecção e gradualmente tornam-se murchas e mumificam, podendo permanecer no cacho ou cair.
Controle
No controle da Glomerella, algumas medidas preventivas são importantes para reduzir a fonte de inoculo, como:
                - retirada dos cachos com bagas mumificadas logo após a colheita -  retirar de dentro do vinhedo e queimar ou enterrar;
                - proporcionar boa aeração e insolação nos cachos;
                - realizar poda verde;
                - adubação racional, evitando o excesso de nitrogênio;
                - evitar ferimentos nas bagas;
                - proporcionar bom distanciamento entre os cachos;
                - evitar a exposição direta dos cachos ao sol;
                - realizar tratamento de inverno.

                   Há dois picos de liberação de conídios da Glomerella:
                Primeiro - Inicio da primavera -  como o fungo sobrevive de um ciclo vegetativo da videira a outro nos frutos mumificados e nos pedicelos, por isto é recomendado à retirada dos frutos mumificados logo após a colheita, estes se tornam o foco de inoculo primário. A infecção pelo patógeno pode ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento da baga, desde a floração até a colheita. O fungo penetra e permanece latente até que a uva comece a acumular açúcar. Portanto, os tratamentos devem começar na fase de floração.
                Segundo – na maturação – havendo frutos contaminados há a produção de conídios e estes se tornam o foco de contaminação. Portanto, deve haver tratamento, também, durante a maturação.
                Durante o florescimento e desenvolvimento do cacho recomenda-se aplicar fungicidas sistêmicos como tebuconazole ou tiofanato-metilico; ou de profundidade, piraclostrobina. Obtiveram-se melhores resultados com piraclostrobina e tebuconazole. Realizar um tratamento no início da floração, um no final da floração, pode-se realizar um terceiro antes do fechamento do cacho e um próximo ao inicio da maturação. Este último deve ser com produto de profundidade.
                Durante o período de maturação não adianta aplicar produtos sistêmicos ou de profundidade porque não serão absorvidos pelos frutos. Neste período o recomendável é a aplicação de produtos de contato, como: clorothalonil, captan, folpet e mancozeb. Sempre observar o período de carência; clorothalonil, folpet e captan 30 dias e mancozeb 7 dias.
                Um tratamento que tem dado bons resultados no controle da Glomerella é a aplicação de cálcio durante o desenvolvimento dos frutos. Este tratamento deve ser direcionado aos cachos, como todos os tratamentos para controle da Glomerella, a partir dos frutos formados, isto é; grãos tamanho ervilha. Fazer aplicações quinzenais de um adubo foliar a base de cálcio até o inicio da maturação. O cálcio enrijece a casca e da maior resistência ao ataque da Glomerella.

domingo, 9 de outubro de 2011

PODA VERDE DA VIDEIRA



                Durante o ciclo da videira todas as etapas do período vegetativo são importantes, devido às trocas fisiológicas que ocorrem. Por este motivo, o modo e o momento da realização das práticas culturais transformam-se em parâmetros críticos para a obtenção dos resultados esperados.
                Logo no inicio da brotação, devido à temperatura ser relativamente baixa, o crescimento do broto é lento, mas à medida que a temperatura aumenta o seu ritmo também aumenta, podendo chegar a crescer de 2 a 10 cm por dia. A velocidade de crescimento e o vigor do broto dependem da disponibilidade de nutrientes e de água.
                Durante esta fase inicial do desenvolvimento, assim que os cachos forem visíveis, faz-se a primeira poda verde. Nesta poda verde eliminamos os brotos inférteis e os que saem das gemas basais e casquentas, desde que não sejam necessários para a renovação ou substituição de esporões na próxima poda, e, ainda, os brotos duplos. Sempre devemos considerar que se na poda planejamos deixar um esporão com duas gemas é porque queríamos dois brotos por esporão, então tudo que tiver em excesso deve ser eliminado. A eliminação dos brotos inférteis ou os que sobram, uniformiza o crescimento da folhagem e evita o sombreamento de folhas e principalmente dos cachos. O principio da poda verde é favorecer a iluminação dos cachos e das gemas e a exposição das folhas à luz solar. Esta prática limita o uso das reservas de nutrientes aos brotos que nos interessam e assegura a fertilidade das gemas em formação.
                Nesta operação não devem ser eliminadas folhas, porque, no período que vai da brotação à floração, as folhas localizadas na zona dos cachos e logo acima deles possuem maior conteúdo de clorofila, e, portanto, maior atividade fotossintética. À medida que nos distanciamos progressivamente para a extremidade do sarmento o aumento do conteúdo de clorofila ocorre mais tarde. Por exemplo: as folhas na zona dos cachos terão a máxima capacidade fotossintética na formação dos frutos, enquanto que as folhas apicais terão na maturação dos frutos.
Para se conseguir o máximo benefício é necessário, também, conduzir os brotos na vertical. Quando esta condução é feita cedo assegura a fixação dos brotos, via gavinhas, nos arames, assegurando assim a exposição de todos os sarmentos a um micro clima favorável que permite ótimo funcionamento das folhas e dos cachos e evitam-se os danos que o vento pode causar. Além disso, a correta distribuição dos sarmentos contribuirá para o melhor controle das enfermidades e para a maturação uniforme das bagas. O maior fluxo de ar através da folhagem, quando os sarmentos forem bem conduzidos, reduz a temperatura nos grãos, que acaba melhorando a qualidade da uva, especialmente quando durante os meses de verão as temperaturas forem elevadas.
Sempre devemos manipular a planta de modo a deixarmos suficiente superfície foliar para permitir o correto desenvolvimento da uva e a entrada de luz solar no interior da folhagem, porem interceptando ao mesmo tempo o excesso de radiação sem perder energia utilizável.
É evidente que é necessário integrar bons procedimentos de gestão da folhagem dentro do ciclo de crescimento, adaptando-os aos requisitos fisiológicos da videira e as condições climáticas da região.