MORTE DESCENDENTE DA VIDEIRA
As doenças do lenho são hoje responsáveis por
significativos prejuízos em vinhedos de todo o mundo, atacando em todos os
estágios de crescimento da videira,
causando o declínio lento e perda de produtividade. A infecção pode
ocorrer através do material de propagação ou via as feridas da poda de inverno.
Este
é um problema que preocupa todos os viticultores, principalmente por não
existir um tratamento curativo para as plantas infectadas, ainda mais, por ser
doenças que podem passar despercebidas durante grande parte da sua
evolução e só se manifestar muitas vezes
quando os danos já são irreparáveis.
O risco de ocorrer à infecção é determinado, em
grande parte, pela suscetibilidade da ferida. Neste sentido numerosos fatores
contribuem, como: período do ano em que é feito o corte, o tempo que a ferida
demora para cicratizar, movimento da
seiva e temperatura. As feridas feitas no inicio do inverno são suscetíveis por
quatro a cinco semanas, enquanto que as feitas no final do inverno ou inicio da
primavera são suscetíveis por 10 a 14 dias. As feridas cicatrizam mais
rapidamente quando feitas mais tarde do que no inicio do inverno devido ao
mecanismo natural da videira. As feridas também tendem a secar mais rapidamente
com temperatura mais alta, que ajuda a cicatrizar. A temperatura mais alta no
final do inverno também favorece o desenvolvimento de outros microorganismos na
superfície da ferida, promovendo competição por nutrientes e antagonismo entre
eles reduzindo a possibilidade de infecção. Alem disso, próximo ao inicio da
brotação ocorre exsudação de seiva que pode expulsar os esporos de dentro dos
vasos do xilema.
O tamanho da ferida também influencia na
suscetibilidade. Os cortes maiores tem maior possibilidade de infecção, visto
terem maior área para o fungo se instalar. Alem disso, demoram mais para
cicatrizar. Estudos demonstraram que não há diferença de suscetibilidade entre
cortes na madeira de dois ou três anos. Entretanto, cortes feitos na madeira de
um ano tendem a ter muito menor risco dos feitos em madeira velha.
No vinhedo, o período decorrido entre a infecção
nas feridas e o aparecimento de sintomas nas folhas varia de 1 a 8 anos. A
invasão do micélio na madeira das diferentes variedades de uva é na base de 10
a 18 mm por ano. Os sintomas na madeira aparecem após diversos anos, e
provavelmente contribui pela morte das plantas, entretanto, a severidade dos
sintomas nas folhas varia de ano a ano, provavelmente devido aos fatores
ambientais. Existem poucas informações sobre o efeito do ambiente no
desenvolvimento da infecção, crescimento e aparecimento dos sintomas.
Os sintomas da morte descendente do lenho podem ser
verificados nos braços e no tronco pelo
aparecimento, interno, de manchas necróticas e de consistência dura e com
coloração acastanhada e nas folhas pelo tamanho reduzido, crispamento, necroses
marginais e que podem estender-se a toda
a folha . A morte do lenho dá-se a partir de uma ferida e caminha pelo ramo no
sentido descendente.
Os estragos desta doença refletem-se ao nível
produtivo, causando desavinho e redução da produção, na perda de qualidade,
podendo em algumas variedades haver a redução do componente aromático, e perdas
econômicos devido ao replantio das videiras mortas.
Entre os fatores que
favorecem o desenvolvimento destas doenças convém salientar:
- Clima (temperatura e
umidade) exerce um papel importante no desenvolvimento destas doenças. Os
períodos de chuva e frio durante a época da poda são favoráveis à dispersão dos
esporos e ao desenvolvimento.
- Época da poda,
especialmente durante período de chuva e de frio. Quando a poda ocorre no
inicio do inverno as feridas de poda mantêm-se receptivas à doença por períodos
mais ou menos longos 4 a 5 semanas, enquanto que quando a poda é feita no final
do inverno ou inicio da primavera diminui a suscetibilidade à doença;
- Todos os sistemas de poda
que originam grandes feridas promovem a instalação destas doenças, sendo a
condução em Guyot citada como mais favorável que a poda em cordão esporonado;
- A receptividade da videira
à doença está também relacionada com a idade das plantas, ou seja, as videiras
adultas com 25 a 30 anos apresentam a máxima susceptibilidade, embora possa
contaminar videiras jovens;
- Há autores que referem à
influência de certos porta-enxerto, como do gênero Rupestris. (devido à sua
riqueza em taninos);
- Fatores que aumentem o
vigor da videira, especialmente nos primeiros cinco anos da plantação (solos
férteis, porta-enxerto vigoroso, adubações excessivas);
- Todas as técnicas
culturais que possam provocar feridas (cortes de poda de grandes dimensões,
acidentes com maquinas e ferramentas, escarificações profundas, etc);
- Falta de desinfecção dos
utensílios de corte bem como plantas mortas deixadas sobre o solo, favorecem a
disseminação dos fungos responsáveis por estas doenças.
Controle
Na ausência de tratamentos químicos eficazes,
torna-se assim imperativo adotar medidas profiláticas (meios de luta cultural)
de forma a reduzir a fonte de inoculo e o risco de contaminação, e
paralelamente proceder à reconversão ou replantio das videiras afetadas, a fim
de diminuir os impactos destas doenças.
Diversas
práticas de manejo são preconizadas para evitar o ataque dos fungos causadores
da morte descendentes, como a retirada e queima de toda a madeira da poda de
dentro do vinhedo, não podar quando chove ou houver alta umidade e podar o mais
tarde possível e pincelamento das feridas com pasta protetora.
No caso
de videiras atacadas é recomendável eliminar toda a parte com sintomas até
cerca de 10 cm abaixo do local em que não aparecem mais sintomas.
A
eliminação da parte das videiras atacadas de dentro do vinhedo pode reduzir o
nível da fonte de inoculo, entretanto somente isto não é suficiente. Os esporos
do fungo podem ser carregados pelo vento por cerca de 50 km e há muitas fontes
de inoculo, como árvores frutíferas, árvores nativas e plantas ornamentais.
A
transmissão via ferramentas de trabalho é sem duvida o maior fator de
disseminação da doença. Entretanto, o uso de fungicida sobre a ferida elimina
qualquer fungo disseminado pela ferramenta. Mas a desinfecção da ferramenta é
uma prática aconselhável.
Há
estudos indicando que o Tebuconazole, Fenarimol, Cyprodinil + Fludioxonil e
Tetraconazole são os fungicidas que mais inibem a germinação de esporos e
também inibem o desenvolvimento das hifas.
Portanto,
como medida de prevenção devemos adotar a estratégia de pincelamento das
feridas feitas sobre o lenho, quer seja de poda, eliminação de parte atacada ou
acidentais, com um dos seguintes produtos:
1 – Pasta
bordalesa = em 10 litros de água dissolver 2 kg de Sulfato de Cobre e 2 kg de
cal.
2 – Tinta
plástica = em um litro de tinta plástica adicionar 20 ml (g) de um dos
fungicidas acima indicados.
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