Numa
única inflorescência existem centenas de flores, mas nem todas irão formar frutos.
Em média somente 50% destas flores se transformarão em frutos. Se ocorrer uma
percentagem maior se formará um cacho compacto, aumentando o risco de
desenvolver podridões, especialmente nas regiões com alta umidade durante a
maturação. Por outro lado, se uma percentagem menor de flores for fecundada se
desenvolverá um cacho ralo.
O abortamento das flores pode
ocorrer por vários motivos e por diferentes formas. Pode acontecer a perda
total da inflorescência, conhecida como necrose da inflorescência, ou a perda
individual de flores, chamada de necrose das flores. Algumas inflorescências podem
cair antes do florescimento, enquanto que outras podem abortar no
florescimento. Finalmente, pode também ocorrer que algumas flores desenvolvam
pequenas bagas que não amadurecem e podem cair antes da colheita, ou
permanecerem no cacho.
O desenvolvimento da flor inicia
logo após a abertura da gema e demora de seis a oito semanas para estar pronta
para a floração. Condições adversas que ocorram durante este período podem
interferir no seu desenvolvimento e causar o abortamento na floração.
Os eventos causadores do
abortamento das flores podem estar associados a: nutrição da planta, vigor da
planta, clima e a outros eventos prejudiciais.
Nutrição da planta = A
pesquisa tem demonstrado o impacto que a nutrição causa sobre a formação de
gemas frutíferas (numero de flores por cacho, cachos por gema e cachos por
ramo) desenvolvidas durante o ciclo vegetativo anterior a floração e na
diferenciação floral que ocorre no ciclo vegetativo da floração. A concentração
de carbono e de nitrogênio existentes na planta demonstrou ser uma potencial
causa do abortamento de flores e de necrose da inflorescência. A influência da
relação carbono / nitrogênio na videira é complexa e ainda não completamente
conhecida. Entretanto, sabe-se que teores muito altos ou baixos de nitrogênio podem
induzir a baixa fecundação das flores e necrose da inflorescência. Isto não
ocorre somente devido a concentração de nitrogênio nos tecidos, mas sim a
relação existente entre carbono e nitrogênio, pois isto se refere diretamente
ao vigor da planta.
Deficiência de micronutrientes
como boro e zinco pode também resultar em baixa fecundação das flores e estes
micronutrientes são especialmente importantes no inicio do crescimento dos
sarmentos. O boro é muito importante durante a floração por interferir no
desenvolvimento do tubo polínico, necessário para a fertilização da flor.
Estresse hídrico próximo ao período
da floração também tem relação com a baixa fecundação das flores e isto pode
ser explicado por causar redução no crescimento do broto que vai originar baixa
absorção de nutrientes.
Vigor da planta = As
videiras com excesso de vigor tendem a ter alta concentração de nitrogênio em
seus tecidos, diminuindo a relação carbono / nitrogênio. Contrariamente, videira
fraca tem baixo teor de nitrogênio e alto de carbono, alta relação carbono / nitrogênio.
Em ambos os casos há uma relação desequilibrada entre o carbono e o nitrogênio e
isto tende a induzir fraca fecundação das flores. Isto também causa uma competição
entre os ramos e as inflorescências. Videiras muito vigorosas – os ramos podem
competir com as inflorescências por carboidratos na pré-floração e pode reduzir
a fecundação das flores. Entretanto, videira com fraco vigor tem poucas
reservas de carbono e nitrogênio, devido ao fraco desenvolvimento. Esta
deficiência de substancias de reserva, nas videiras fracas, não vai abastecer
as flores e isto causa baixa fecundação. Por estes motivos é importante regular
o vigor da videira para se obter boa fecundação das flores, deve existir um
balanço entre o sistema vegetativo e reprodutivo. O segredo é ter videiras
moderadamente vigorosas.
Clima = baixas temperaturas e alta umidade, durante a
floração, podem prejudicar a fecundação das flores; embora a interferência seja
diferente em relação ao período em que ocorram (na iniciação floral, no
desenvolvimento, na floração e na formação dos frutos). Frio e alta umidade na
pré-floração pode causar problemas no desenvolvimento da flor. Estes fatores
climáticos interferem na relação carbono / nitrogênio, particularmente se
ocorrerem no estágio inicial do ciclo vegetativo. Se ocorrer baixas
temperaturas durante a floração, retarda a floração e provavelmente ocasiona
abortamento de flores.
O fator climático tem grande influência na
fecundação da flor e formação do fruto. Com temperaturas abaixo de 15,6 oC
ou acima de 37,8 oC há inibição da formação do tubo polínico e
consequentemente não ocorre à fecundação do ovulo. Baixas temperaturas estão
associadas a não abertura da caliptra, enquanto que tanto nas baixas como nas
altas há menor fecundação do ovulo por dificultar o desenvolvimento do tubo
polínico e a própria fecundação do ovulo. Chuvas durante a floração, ou alta
umidade, também reduzem a fecundação do óvulo por impedir a completa abertura
da caliptra. A chuva pode também diluir o fluido estimático e isto interfere na
germinação do grão de pólen.
Outros
eventos prejudiciais = qualquer
evento que cause grandes danos a copa (folhas) da videira pode induzir a baixa
fertilidade das flores. Nestes eventos se incluem todos os que possam causar a
desfolhação precoce da videira. Após a colheita os carboidratos elaborados nas
folhas são armazenados no tronco e raízes, formando as substancias de reserva,
e no outono, antes da queda das folhas, transferem os nutrientes armazenados
nas folhas para o tronco e raízes para se incorporarem as reservas. Se ocorrer
qualquer evento que cause a desfolhação precocemente, pode evitar esta transferência
de nutrientes e carboidratos deixando as videiras com poucas reservas para a
primavera seguinte. Assim como, danos nas folhas no inicio do ciclo vegetativo
podem induzir a fraco desenvolvimento floral. Ambos os casos, ocasionam baixa fecundação
das flores por reduzir a assimilação de carbono e a sua estocagem.
Bibliografia consultada
DOKOOZLIAN,
N. K. – Grape Berry Growth and Development.
GALET, P – Pecis de Viticulture. Imprimierie De’han,
Monpellier, 1988.
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