segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Má fecundação das flores da videria

                         Numa única inflorescência existem centenas de flores, mas nem todas irão formar frutos. Em média somente 50% destas flores se transformarão em frutos. Se ocorrer uma percentagem maior se formará um cacho compacto, aumentando o risco de desenvolver podridões, especialmente nas regiões com alta umidade durante a maturação. Por outro lado, se uma percentagem menor de flores for fecundada se desenvolverá um cacho ralo.
                O abortamento das flores pode ocorrer por vários motivos e por diferentes formas. Pode acontecer a perda total da inflorescência, conhecida como necrose da inflorescência, ou a perda individual de flores, chamada de necrose das flores. Algumas inflorescências podem cair antes do florescimento, enquanto que outras podem abortar no florescimento. Finalmente, pode também ocorrer que algumas flores desenvolvam pequenas bagas que não amadurecem e podem cair antes da colheita, ou permanecerem no cacho.
                O desenvolvimento da flor inicia logo após a abertura da gema e demora de seis a oito semanas para estar pronta para a floração. Condições adversas que ocorram durante este período podem interferir no seu desenvolvimento e causar o abortamento na floração.
                Os eventos causadores do abortamento das flores podem estar associados a: nutrição da planta, vigor da planta, clima e a outros eventos prejudiciais.
Nutrição da planta = A pesquisa tem demonstrado o impacto que a nutrição causa sobre a formação de gemas frutíferas (numero de flores por cacho, cachos por gema e cachos por ramo) desenvolvidas durante o ciclo vegetativo anterior a floração e na diferenciação floral que ocorre no ciclo vegetativo da floração. A concentração de carbono e de nitrogênio existentes na planta demonstrou ser uma potencial causa do abortamento de flores e de necrose da inflorescência. A influência da relação carbono / nitrogênio na videira é complexa e ainda não completamente conhecida. Entretanto, sabe-se que teores muito altos ou baixos de nitrogênio podem induzir a baixa fecundação das flores e necrose da inflorescência. Isto não ocorre somente devido a concentração de nitrogênio nos tecidos, mas sim a relação existente entre carbono e nitrogênio, pois isto se refere diretamente ao vigor da planta.
                Deficiência de micronutrientes como boro e zinco pode também resultar em baixa fecundação das flores e estes micronutrientes são especialmente importantes no inicio do crescimento dos sarmentos. O boro é muito importante durante a floração por interferir no desenvolvimento do tubo polínico, necessário para a fertilização da flor.
                Estresse hídrico próximo ao período da floração também tem relação com a baixa fecundação das flores e isto pode ser explicado por causar redução no crescimento do broto que vai originar baixa absorção de nutrientes.
Vigor da planta = As videiras com excesso de vigor tendem a ter alta concentração de nitrogênio em seus tecidos, diminuindo a relação carbono / nitrogênio. Contrariamente, videira fraca tem baixo teor de nitrogênio e alto de carbono, alta relação carbono / nitrogênio. Em ambos os casos há uma relação desequilibrada entre o carbono e o nitrogênio e isto tende a induzir fraca fecundação das flores. Isto também causa uma competição entre os ramos e as inflorescências. Videiras muito vigorosas – os ramos podem competir com as inflorescências por carboidratos na pré-floração e pode reduzir a fecundação das flores. Entretanto, videira com fraco vigor tem poucas reservas de carbono e nitrogênio, devido ao fraco desenvolvimento. Esta deficiência de substancias de reserva, nas videiras fracas, não vai abastecer as flores e isto causa baixa fecundação. Por estes motivos é importante regular o vigor da videira para se obter boa fecundação das flores, deve existir um balanço entre o sistema vegetativo e reprodutivo. O segredo é ter videiras moderadamente vigorosas.
Clima = baixas temperaturas e alta umidade, durante a floração, podem prejudicar a fecundação das flores; embora a interferência seja diferente em relação ao período em que ocorram (na iniciação floral, no desenvolvimento, na floração e na formação dos frutos). Frio e alta umidade na pré-floração pode causar problemas no desenvolvimento da flor. Estes fatores climáticos interferem na relação carbono / nitrogênio, particularmente se ocorrerem no estágio inicial do ciclo vegetativo. Se ocorrer baixas temperaturas durante a floração, retarda a floração e provavelmente ocasiona abortamento de flores.       
                        O fator climático tem grande influência na fecundação da flor e formação do fruto. Com temperaturas abaixo de 15,6 oC ou acima de 37,8 oC há inibição da formação do tubo polínico e consequentemente não ocorre à fecundação do ovulo. Baixas temperaturas estão associadas a não abertura da caliptra, enquanto que tanto nas baixas como nas altas há menor fecundação do ovulo por dificultar o desenvolvimento do tubo polínico e a própria fecundação do ovulo. Chuvas durante a floração, ou alta umidade, também reduzem a fecundação do óvulo por impedir a completa abertura da caliptra. A chuva pode também diluir o fluido estimático e isto interfere na germinação do grão de pólen.
Outros eventos prejudiciais = qualquer evento que cause grandes danos a copa (folhas) da videira pode induzir a baixa fertilidade das flores. Nestes eventos se incluem todos os que possam causar a desfolhação precoce da videira. Após a colheita os carboidratos elaborados nas folhas são armazenados no tronco e raízes, formando as substancias de reserva, e no outono, antes da queda das folhas, transferem os nutrientes armazenados nas folhas para o tronco e raízes para se incorporarem as reservas. Se ocorrer qualquer evento que cause a desfolhação precocemente, pode evitar esta transferência de nutrientes e carboidratos deixando as videiras com poucas reservas para a primavera seguinte. Assim como, danos nas folhas no inicio do ciclo vegetativo podem induzir a fraco desenvolvimento floral. Ambos os casos, ocasionam baixa fecundação das flores por reduzir a assimilação de carbono e a sua estocagem.


Bibliografia consultada
DOKOOZLIAN, N. K. – Grape Berry Growth and Development.
GALET, P – Pecis de Viticulture. Imprimierie De’han, Monpellier, 1988.
MAY, P. - Flowering and Fruitset in Grapevines. Adelaide: Lythrum Press. 2004.
SKINKIS, P – Causes of poor fruit set in grapes. Oregon State Univirsity. 2013.
 

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