Nas
videiras (Vitis vinifera L.), a
absorção de nitrogênio e a assimilação de carboidratos é pequena nas primeiras
semanas após a brotação. Consequentemente, a fase inicial de crescimento é
sustentada pelo processo de mobilização das reservas existentes.
Quanto a absorção de nitrogênio,
e de outros nutrientes, é sabido que este processo é realizado pelas raízes
finas, mas elas iniciam a se diferenciar e se desenvolver somente algumas
semanas após a abertura das gemas, alcançando o pico de crescimento no início
da floração. Assim, a remobilização do nitrogênio (existente nas reservas), na fase inicial de crescimento, é o maior
processo de disponibilização deste elemento aos tecidos da videira em formação,
isto até a floração. Isto demonstra a
importância das reservas de nitrogênio acumuladas pela videira no final do
ciclo vegetativo anterior em relação a absorção no início do ciclo atual.
A videira recorre as reservas de
carboidratos para suportar o desenvolvimento inicial da nova brotação. Estes
carboidratos encontram-se armazenados, nas raízes e tronco, na forma de amido,
e frações de açúcares livres, principalmente glicose, frutose e sacarose.
Durante o ciclo vegetativo
existe um complexo intercâmbio de carboidratos nos órgãos em desenvolvimento
(folhas, inflorescências e bagas) e nos perenes (raízes, tronco e braços). Os
órgãos em desenvolvimento atraem nutrientes e representam os órgãos
"drenos". Inversamente, os órgãos que tem capacidade de liberar
açúcar sintetizado são as "fontes", como as folhas adultas. Nas
angiospermas, os órgãos reprodutivos são tipicamente "drenos" ao
longo do seu desenvolvimento, enquanto que os órgãos vegetativos podem se
comportar como "fontes" ou como "drenos" dependendo do seu
estágio de desenvolvimento.
Em todas as cultivares, a
fotossíntese nas folhas vai aumentando desde a brotação até o florescimento e
após regularmente decresce até a senescência. Embora as folhas assimilem o CO2
desde o seu aparecimento, elas são órgãos "drenos" na fase inicial do
seu crescimento, isto significa que elas necessitam de mais carboidratos do que
produzem. Elas passam a ser "fonte" (produzem mais carboidratos do
que necessitam) quando atingem cerca de um terço do seu tamanho normal.
Dependendo da variedade, a capacidade fotossintética máxima é atingida por
ocasião da floração.
A relação entre a
"fonte" e os "drenos" é complexa e dinâmica durante todo o
ciclo vegetativo e as reservas acumuladas são importantes na fase inicial do
crescimento até a floração. As folhas da videira somente passam a exportar
carboidratos quando atingem cerca de um terço do seu tamanho final. A
utilização dos carboidratos da reserva inicia desde a abertura das gemas, chega
ao máximo quando o ramo tem de 6 a 8 folhas abertas e diminui na floração. No
broto novo, as folhas basais iniciam a exportar carboidratos a partir da 5a
folha aberta, e a exportação máxima é atingida quando adultas. As folhas
atingem sua capacidade fotossintética máxima entre 30 e 50 dias de vida. Antes
da floração, o destino dos fotoassimilados é a ponta de crescimento. Após a
fixação do fruto, as bagas passam a ser um grande "dreno". A maioria
dos carboidratos que abastecem os frutos são provenientes da fotossíntese das
folhas. A utilização de carboidratos de reserva, neste estágio, somente
ocorrerá se houver fator de estresse, ou se a produtividade é maior do que a
capacidade que a videira possa suportar.
O destino dos fotoassimilados
flutua durante o ano. Da floração até o início da maturação, o fluxo de
carboidratos é orientado para o crescimento dos órgãos anuais e para acumulação
nos órgãos perenes. No início da maturação, ocorre acumulação de reservas de
carboidratos na maioria das variedades, mas a maior quantidade é direcionada
para a maturação da uva. Após a colheita, a fotossíntese declina paralelamente
com a senescência das folhas, mas a planta continua armazenando carboidratos
até a queda das folhas. O declínio da capacidade fotossintética deve-se
principalmente a redução da condutância dos estômatos e ao conteúdo de
proteína.
Juntamente com as reservas de
carboidratos, as reservas de nitrogênio desempenham importante papel na fase
inicial de crescimento nas plantas lenhosas. Na videira, as reservas de nitrogênio
localizam-se predominantemente nas raízes e na forma de aminoácidos
(principalmente arginina) e proteínas. Além disso, a absorção de nitrogênio
suplementa a mobilização durante o ciclo vegetativo. Entretanto, a absorção de
nitrogênio, embora inicie cedo no ciclo vegetativo, geralmente permanece baixa
até a floração, mesmo que o solo seja
rico em nitrogênio.
A quantidade de substâncias de
reserva existente durante o inverno interfere no desenvolvimento vegetativo na
primavera, no número de cachos e flores por cacho, na fixação do fruto e na
produtividade. A quantidade de substâncias de reserva interfere também no vigor
da brotação.
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