A frutificação da videira somente ocorre em ramos
formados no ano, portanto, em ramos jovens. Estes ramos resultam de gemas
frutíferas e passam a se desenvolver após a poda. Podem
ser identificados pela sua casca fina e clara e,
também, por serem mais retos que os ramos velhos. Estes são tortuosos e sua
casca, escura e áspera.
Na escolha do ramo a deixar como esporão ou como
vara, é importante verificar se este foi produtivo, na safra anterior a
poda, pois o ramo que produziu frutos é
uma certeza que terá gemas férteis, ao passo que aquele que não produziu na
maioria dos casos não é produtivo na próxima safra.
Na
videira não se distinguem gemas vegetativas e gemas frutíferas, como em muitas
espécies, mas sim somente gemas mistas, que originam brotos com inflorescências
e folhas ou somente folhas. A gema da videira é composta, sendo a principal
chamada de primária, que dá origem a um broto frutífero; as outras duas são
chamadas de secundárias, que geralmente brotam quando ocorrer algum dano com a
gema primária (geada, granizo, vento, dano nas gemas superiores), as quais dão
origem a brotos que podem ser férteis ou não. Em geral, são mais férteis nas
variedades americanas e híbridas que nas viníferas.
-
Gemas prontas = formam-se na
primavera-verão, cerca de uma dezena de dias antes das gemas francas. Assim que
formadas podem dar origem a uma brotação chamada feminela ou neto (ramo
antecipado), que pode ser estéril, pouco ou muito fértil, segundo a cultivar.
Localiza-se, também, na axila das folhas, ligeiramente descentralizada e abaixo
da gema franca.
- Gemas francas ou axilares - formam-se na base das gemas prontas, junto à
inserção do pecíolo foliar e permanecem dormentes durante o ano de formação,
mas sofrem uma série de transformações. A formação do esboço dos cachos se
completa somente na primavera seguinte. Durante a brotação e desenvolvimento
dos ramos, as gemas francas não germinam porque são inibidas pela atividade do
ápice vegetativo (dominância apical) e das gemas prontas (inibição
correlativa).
- Gemas latentes = são
gemas não muito desenvolvidas, localizadas na madeira velha, que foram cobertas
pela sucessiva formação de tecidos. Quando brotam dão origem a ladrões
estéreis, que surgem quando se realiza uma poda drástica; ocorre danos por
geadas tardias nas outras gemas; há problemas com a circulação da seiva.
- Gemas basilares, da coroa ou casqueiras = são um conjunto de gemas não bem diferenciadas que
se formam na base do ramo, junto à inserção do broto do ano com a madeira do
ano anterior. Somente brotam quando se fizer poda curta, aplicação de regulador
de crescimento ou ocorrer problemas com as gemas francas. Geralmente são
férteis nas cultivares americanas e inférteis nas viníferas.
- Gemas cegas = são as mais desenvolvidas das gemas basilares,
sendo as primeiras gemas visíveis localizadas logo acima dessas. Geralmente
elas são férteis nas americanas.
No
momento da poda é importante selecionar as gemas que tem maior fertilidade,
isto é; a capacidade que elas tem de produzir cachos de uva, que varia de um a
três por gema, no caso de variedades de Vitis
viniferas, e podendo chegar a quatro ou cinco nas uvas americanas.
A
fertilidade varia conforme o tipo de gema:
Gemas
prontas – baixa a média (0,5 a 1 cacho)
Gemas
francas – média a alta (1 a 3 cachos)
Gemas
latentes – baixa (0,2 a 0,4 cachos)
Gemas
da coroa – baixa (0,2 a 0,4 cachos)
Gemas
cegas – baixa (0,2 a 0,8 cachos)
Intensidade da poda
Na execução da poda, no ato de cortar os sarmentos,
uns, por serem muito fracos, ou doentes ou em numero demasiado, serão
eliminados pela base. Os que permanecerem serão aparados, ficando na videira
com uma gema apenas, com duas, três, quatro ou mais. Devemos, por este fato,
distinguir duas intensidades de poda: poda curta e poda longa.
Poda
curta – é aquela em que os sarmentos
podados ficam com uma, duas ou três gemas. Neste caso chamam-se esporões.
Poda
longa – é a que deixa cada sarmento
podado com quatro ou mais gemas e neste caso chama-se vara.
Existe ainda a poda mista, que é a que deixa sobre a videira esporões e varas.
Para determinar a carga que convém deixar, o
podador deverá estimar a capacidade da planta em produzir frutos e madeira
segundo a variedade de que se trate e as condições que se encontram. Avaliar a
simples vista a poda do ano anterior permitirá tomar uma decisão a respeito da
riqueza da poda. Podem, neste sentido, observar as seguintes situações:
- Uma boa quantidade de sarmentos, com vigor normal
e maduros nos dará a ideia de que a poda anterior foi adequada e ajustada a
capacidade da planta, portanto deverá manter-se o mesmo número de gemas do ano
anterior.
- Se os sarmentos são poucos, demasiadamente
grossos e compridos - embora maduros e além disso se desenvolveu diversos chupões,
devemos supor que a poda anterior foi pobre. Nestas condições a planta dirigiu
suas atividades para produzir madeira, em razão de não haver possuído a
possibilidade de frutificar normalmente por falta de gemas. A nova poda deverá
ser mais rica.
- Se a planta está débil, com sarmentos curtos e
finos, tem-se a evidência de uma poda anterior muito rica que produziu frutos
em demasia e que rompeu o equilíbrio que deve existir entre as produções. Para
restituí-lo, devemos fazer uma poda pobre, diminuindo radicalmente o número de
gemas.
Consideram que
a decisão a respeito da riqueza da poda que se deixa a cada ano dependerá
de como avaliamos o balanço do crescimento vegetativo e produtivo do ciclo
anterior. Para determinar quando uma planta está balanceada podemos considerar
os seguintes parâmetros:
Vigor do ramo (sarmento) - Uma planta balanceada com ótimo vigor tem sarmentos bem
maduros quanto a cor, com comprimento de 1,0 a 1,2 m, com diâmetro médio de 7
mm e com entre-nós com cerca de 6 a 8 cm de comprimento, os quais devem ser
arredondados ou levemente elípticos e possuir gemas bem desenvolvidas, de
aspecto globoso.
Número de sarmentos - Uma planta balanceada possui, em média, 15 a 16
sarmentos por metro linear.
Relação produção/peso de poda (Índice de Ravaz) - Esta relação dá uma indicação
do balanço entre a produção de frutos e o crescimento vegetativo. A relação
varia de acordo com a variedade e o ambiente. Valores entre 5 e 10 parecem ser
ótimos para se obter mosto de qualidade, nas mais diversas situações. Isto
significa que uma planta equilibrada deveria produzir entre 5 e 10 kg de uva
por quilograma de sarmentos. Valores inferiores a 5 seriam indicadores de alto
vigor e superiores a 10 indicam situações de baixo vigor e carga excessiva.
Peso da madeira de poda - o peso ótimo está entre 0,3 a 0,6 kg de madeira
por planta.
Peso do sarmento - Este é um bom indicador do vigor. Vigor excessivo está caracterizado
por sarmentos longos e grossos, geralmente mais elípticos do que redondos e
geralmente com excessivo crescimento de feminelas. Além disso suas gemas são
geralmente pequenas e menos desenvolvidas, apresentando forma mais cônica do
que globosa. Um sarmento de diâmetro médio deve pesar entre 20 a 40 g, como
valor ótimo.
Devemos considerar que a poda de produção tem como
objetivo principal manter um determinado equilíbrio entre a vegetação (vigor,
superfície folhar) e produção (numero e peso dos cachos). Está implícito que a
poda regula as duas atividades, sobretudo determinando a carga de gemas (número
por planta) e a distribuição no espaço vital reservado a cada videira conforme
o sistema de sustentação, que obviamente deve ser mantida durante os anos,
renovada, e, se necessitar, modificada ou substituída.
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