Nos
últimos anos verificou-se maior incidência da podridão ácida na uva e isto deve
estar associado à mudança climática, onde há maior ocorrência de chuvas no
período da maturação da uva.
A podridão ácida é uma doença
atípica, visto que os agentes causadores não são considerados patogênicos
primários e não existe um agente etiológico específico. Esta doença se
desenvolve sempre após o início da maturação, e está associada simultaneamente
a condições fisiológicas favoráveis, determinadas pelo clima e pelas práticas
culturais e devido às características de sensibilidade da variedade. Pois os
agentes causadores desta doença são diversos fungos como Aspergillus niger,
Alternaria tenuis, Cladosporium herbareum, Rhizopus arrhizus, Penicillium spp entre
outros; bactérias, como a Acetobacter
e leveduras.
Guerzoni e Marchetti (1987) verificaram que as populações de
leveduras presentes em uvas afetadas por podridão ácida diferem da flora que
coloniza a superfície das uvas sadias quer em quantidade ou na variedade de
espécies.
Trabalhos desenvolvidos por Barata et al., (2009), afirmam que o
desenvolvimento da podridão ácida na uva é dependente da presença da mosca
Drosophila sp. Afirmam também que a Drosophila sp. induz o aumento da população
bacteriana das uvas danificadas pela podridão ácida.
De acordo com vários autores
para o desenvolvimento da podridão ácida é necessário à ocorrência de condições
favoráveis como:
- Existência de feridas na
película das bagas devido à ação de agentes bióticos: o estado fitossanitário
da videira reveste-se de grande importância, uma vez que outros inimigos da
cultura, como os agentes do míldio, do oídio, as traças da uva, cochonilhas, vespas,
pássaros, etc., podem danificar seriamente a casca das bagas.
- Utilização de variedades cuja
uva tem casca fina, ou cachos muito compactos e com bagas grandes. Neste caso
verifica-se o aparecimento de microfissuras, que constituem locais
privilegiados para a instalação da flora microbiana. Além disso, a
sensibilidade aumenta com a maturação.
- Presença de vetores no vinhedo,
como os insetos, principalmente a Drosophila,
efetuam posturas nas lesões existentes nas bagas, sendo vetores de leveduras,
bactérias, nematoides e fungos.
- Acontecimentos climáticos,
como a ocorrência de períodos chuvosos no período da maturação, após um período
de seca, provoca um aumento repentino do tamanho das bagas, com a consequente rachadura
da casca, o granizo bem como, temperaturas e umidade elevada próximo da
maturação e especialmente durante a noite, são favoráveis ao desenvolvimento da
doença.
- Práticas culturais que favoreçam
o aumento do vigor das videiras, provocando um aumento da densidade da
folhagem, o sistema de condução utilizado, a fertilização, o porta-enxerto, enfim,
práticas que permitam aumentar teores de
umidade relativa no interior da videira devem ser evitadas.
A podridão ácida manifesta-se
após o início da maturação, em particular na fase avançada da maturação, onde
ocorre o aumento do teor de açúcar favorecendo o desenvolvimento desta doença.
O ataque inicia-se na proximidade da zona de inserção peduncular ou ao nível
das feridas existentes nas bagas, principalmente devido a bicadas de pássaros,
ação de insetos, agentes patogênicos, granizo e micro/macro fissuras
resultantes das variações do tamanho das bagas, associados à alternância de
períodos de estresse hídrico com outros de abundância de água. Esta doença é
responsável por alterações típicas e facilmente reconhecidas, caracterizadas
pela coloração castanha e desagregação da polpa.
Após o inicio da infecção a
podridão ácida alastra-se rapidamente à totalidade da baga, fazendo com que a casca
se torne frágil até a ocorrência da ruptura da baga. Como consequência, ocorre
escorrimento de suco. Esta situação favorece as contaminações secundárias por
escorrimento ou por contato entre bagas podres e bagas sadias, sobretudo nos
cachos compactos. Por último, as bagas ficam ocas/secas em relação ao seu
conteúdo visto que este é utilizado na sua totalidade devido à completa
fermentação e desintegração da polpa restando apenas à casca seca e mumificada.
Outra característica da podridão ácida é o odor a ácido acético ou vinagre, por
vezes bastaste forte, que emana dos cachos e das videiras parcialmente atacadas.
Quando a podridão ácida ainda
está na fase inicial, é difícil de diagnosticar os sintomas podendo ser
confundidos com outras doenças, principalmente com Botrytis. A partir da
mudança de cor, este fungo, a Botrytis, desenvolve coloração castanha nas bagas,
adquirindo coloração cinza escura, no entanto, a alteração das bagas limita-se
aos tecidos situados imediatamente abaixo da casca, não se verificando a
desintegração total da polpa como acontece na podridão ácida.
MEIOS DE PROTEÇÃO
Os
meios de proteção devem contemplar medidas que evitem tudo o que possa causar
feridas nas bagas, recorrendo a todos os meios que possibilitem uma redução do
vigor da vegetação e evitem uma folhagem muito densa, de forma a reduzir a
umidade ao nível dos cachos. Deste modo, torna-se importante uma boa proteção
fitossanitária relativa a inimigos que
possam danificar a casca das bagas, sobretudo a partir da mudança de cor, como
seja o míldio, o oídio e a traça da uva. É importante também ter cuidado com as
fertilizações nitrogenadas e a condução e poda das videiras (efetuando inclusive
podas em verde que favoreçam uma boa ventilação da zona dos cachos) com a
escolha dos porta-enxertos (não muito vigoroso, devem estar adaptados ao solo e
apresentar sistemas radiculares profundos) e das variedades (evitando, se
possível, as mais sensíveis), de forma a evitar aglomeração de cachos e
folhagem, conseguindo cachos de tamanho médio. A manutenção de cobertura
vegetal sobre o solo também poderá contribuir para a limitação da doença,
através da redução do vigor da videira.
A aplicação de meios de proteção
química contra a podridão ácida é muito limitada. Segundo Laurent (1998), nenhum dos fungicidas existentes para combater a podridão
cinzenta tem qualquer ação sobre os agentes da podridão ácida, embora Paños (1998) refira que as
dicarboximidas (Captan, Orthocide, Sumilex, Sialex) permitam ligeiras
diminuições da doença. Segundo Bisiach et al. (1986), a atividade destes
fungicidas (ineficazes contra leveduras e bactérias) na redução da podridão
ácida, resulta na eliminação da Botrytis cinérea, que causa feridas nas
bagas. O mesmo papel é desempenhado pelos fungicidas antimíldio e anti-oídio,
relativamente, à redução das feridas causadas por estas doenças. Para, além
disso, não existem substâncias ativas eficazes que se possam usar contra os
agentes da podridão ácida (bactérias e leveduras). Bisiach et al. (1986),
referem que os fungicidas do grupo das ftalimidas (Folpet, Folpan) apresentam
uma grande toxicidade as leveduras, permitindo uma boa redução da podridão
ácida, mesmo em baixas concentrações, no entanto, a sua utilização depende dos
resíduos que deixa no mosto, que é bastante elevada.
Hall et al (2017) num experimento que associaram a aplicação de
inseticida (zeta-cipermetrina) e antimicóticos (peróxido de hidrogênio e
metabissulfito de potássio a 0,5 a 1,0%) obtiveram bons resultados. Quando
aplicaram somente o inseticida verificaram que as parcelas tratadas tinham
cerca de 40% menos podridão do que as não tratadas e quando associaram o
inseticida com um antimicótico, o resultado foi que as parcelas tratadas tinham
cerca de 70 a 80% menos podridão do que as não tratadas. Estes tratamentos
foram iniciados quando a uva continha 15 ºBrix.
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