sexta-feira, 5 de abril de 2019

PODRIDÃO ÁCIDA DA UVA


               Nos últimos anos verificou-se maior incidência da podridão ácida na uva e isto deve estar associado à mudança climática, onde há maior ocorrência de chuvas no período da maturação da uva.

                A podridão ácida é uma doença atípica, visto que os agentes causadores não são considerados patogênicos primários e não existe um agente etiológico específico. Esta doença se desenvolve sempre após o início da maturação, e está associada simultaneamente a condições fisiológicas favoráveis, determinadas pelo clima e pelas práticas culturais e devido às características de sensibilidade da variedade. Pois os agentes causadores desta doença são diversos fungos como Aspergillus niger, Alternaria tenuis, Cladosporium herbareum, Rhizopus arrhizus, Penicillium spp entre outros;  bactérias, como a Acetobacter e leveduras.

                Guerzoni e Marchetti (1987) verificaram que as populações de leveduras presentes em uvas afetadas por podridão ácida diferem da flora que coloniza a superfície das uvas sadias quer em quantidade ou na variedade de espécies.

                Trabalhos desenvolvidos por Barata et al., (2009), afirmam que o desenvolvimento da podridão ácida na uva é dependente da presença da mosca Drosophila sp. Afirmam também que a Drosophila sp. induz o aumento da população bacteriana das uvas danificadas pela podridão ácida.

                De acordo com vários autores para o desenvolvimento da podridão ácida é necessário à ocorrência de condições favoráveis como:

                - Existência de feridas na película das bagas devido à ação de agentes bióticos: o estado fitossanitário da videira reveste-se de grande importância, uma vez que outros inimigos da cultura, como os agentes do míldio, do oídio, as traças da uva, cochonilhas, vespas, pássaros, etc., podem danificar seriamente a casca das bagas.

                - Utilização de variedades cuja uva tem casca fina, ou cachos muito compactos e com bagas grandes. Neste caso verifica-se o aparecimento de microfissuras, que constituem locais privilegiados para a instalação da flora microbiana. Além disso, a sensibilidade aumenta com a maturação.

                - Presença de vetores no vinhedo, como os insetos, principalmente a Drosophila, efetuam posturas nas lesões existentes nas bagas, sendo vetores de leveduras, bactérias, nematoides e fungos.

                - Acontecimentos climáticos, como a ocorrência de períodos chuvosos no período da maturação, após um período de seca, provoca um aumento repentino do tamanho das bagas, com a consequente rachadura da casca, o granizo bem como, temperaturas e umidade elevada próximo da maturação e especialmente durante a noite, são favoráveis ao desenvolvimento da doença.

                - Práticas culturais que favoreçam o aumento do vigor das videiras, provocando um aumento da densidade da folhagem, o sistema de condução utilizado, a fertilização, o porta-enxerto, enfim,  práticas que permitam aumentar teores de umidade relativa no interior da videira devem ser evitadas.

                A podridão ácida manifesta-se após o início da maturação, em particular na fase avançada da maturação, onde ocorre o aumento do teor de açúcar favorecendo o desenvolvimento desta doença. O ataque inicia-se na proximidade da zona de inserção peduncular ou ao nível das feridas existentes nas bagas, principalmente devido a bicadas de pássaros, ação de insetos, agentes patogênicos, granizo e micro/macro fissuras resultantes das variações do tamanho das bagas, associados à alternância de períodos de estresse hídrico com outros de abundância de água. Esta doença é responsável por alterações típicas e facilmente reconhecidas, caracterizadas pela coloração castanha e desagregação da polpa.

                Após o inicio da infecção a podridão ácida alastra-se rapidamente à totalidade da baga, fazendo com que a casca se torne frágil até a ocorrência da ruptura da baga. Como consequência, ocorre escorrimento de suco. Esta situação favorece as contaminações secundárias por escorrimento ou por contato entre bagas podres e bagas sadias, sobretudo nos cachos compactos. Por último, as bagas ficam ocas/secas em relação ao seu conteúdo visto que este é utilizado na sua totalidade devido à completa fermentação e desintegração da polpa restando apenas à casca seca e mumificada. Outra característica da podridão ácida é o odor a ácido acético ou vinagre, por vezes bastaste forte, que emana dos cachos e das videiras parcialmente atacadas.

                Quando a podridão ácida ainda está na fase inicial, é difícil de diagnosticar os sintomas podendo ser confundidos com outras doenças, principalmente com Botrytis. A partir da mudança de cor, este fungo, a Botrytis, desenvolve coloração castanha nas bagas, adquirindo coloração cinza escura, no entanto, a alteração das bagas limita-se aos tecidos situados imediatamente abaixo da casca, não se verificando a desintegração total da polpa como acontece na podridão ácida.

MEIOS DE PROTEÇÃO

                   Os meios de proteção devem contemplar medidas que evitem tudo o que possa causar feridas nas bagas, recorrendo a todos os meios que possibilitem uma redução do vigor da vegetação e evitem uma folhagem muito densa, de forma a reduzir a umidade ao nível dos cachos. Deste modo, torna-se importante uma boa proteção fitossanitária relativa a inimigos que possam danificar a casca das bagas, sobretudo a partir da mudança de cor, como seja o míldio, o oídio e a traça da uva. É importante também ter cuidado com as fertilizações nitrogenadas e a condução e poda das videiras (efetuando inclusive podas em verde que favoreçam uma boa ventilação da zona dos cachos) com a escolha dos porta-enxertos (não muito vigoroso, devem estar adaptados ao solo e apresentar sistemas radiculares profundos) e das variedades (evitando, se possível, as mais sensíveis), de forma a evitar aglomeração de cachos e folhagem, conseguindo cachos de tamanho médio. A manutenção de cobertura vegetal sobre o solo também poderá contribuir para a limitação da doença, através da redução do vigor da videira.

                A aplicação de meios de proteção química contra a podridão ácida é muito limitada. Segundo Laurent (1998), nenhum dos fungicidas existentes para combater a podridão cinzenta tem qualquer ação sobre os agentes da podridão ácida, embora Paños (1998) refira que as dicarboximidas (Captan, Orthocide, Sumilex, Sialex) permitam ligeiras diminuições da doença. Segundo Bisiach et al. (1986), a atividade destes fungicidas (ineficazes contra leveduras e bactérias) na redução da podridão ácida, resulta na eliminação da Botrytis cinérea, que causa feridas nas bagas. O mesmo papel é desempenhado pelos fungicidas antimíldio e anti-oídio, relativamente, à redução das feridas causadas por estas doenças. Para, além disso, não existem substâncias ativas eficazes que se possam usar contra os agentes da podridão ácida (bactérias e leveduras). Bisiach et al. (1986), referem que os fungicidas do grupo das ftalimidas (Folpet, Folpan) apresentam uma grande toxicidade as leveduras, permitindo uma boa redução da podridão ácida, mesmo em baixas concentrações, no entanto, a sua utilização depende dos resíduos que deixa no mosto, que é bastante elevada.

                Hall et al (2017) num experimento que associaram a aplicação de inseticida (zeta-cipermetrina) e antimicóticos (peróxido de hidrogênio e metabissulfito de potássio a 0,5 a 1,0%) obtiveram bons resultados. Quando aplicaram somente o inseticida verificaram que as parcelas tratadas tinham cerca de 40% menos podridão do que as não tratadas e quando associaram o inseticida com um antimicótico, o resultado foi que as parcelas tratadas tinham cerca de 70 a 80% menos podridão do que as não tratadas. Estes tratamentos foram iniciados quando a uva continha 15 ºBrix.



BIBLIOGRAFIA

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Bisiach, M., Minervini, G. e Zerbetto, F. - Possible integrated of grapevine sour rot. Vitis 25: 118-128. 1986.





Blancard, D., Gravot, E., Jailoux, F., e Fermaud, M. - Etiologie de la pourriturre acide de la vigne dans le Sud-ouest de la France. Integrated Control in Viticulture IOBC/wprs Bulletin, 23 (4): 51-54. 2000.



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Garrido, L. R. e Sonego, O. R. - Doenças fungicas e medidas de controle. Sistema de Produção 4. Embrapa Uva e Vinho. Versão eletrônica. 2003.



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Laurent, J.C. (1998). La pourriture acide. Progrès Agricole et Viticole. 115 (1): 7-9. 1998.



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Paños, J.T. - Podredume acide del racimo. In: Los parasitos de la vid. Estratégias de protecion razonada. 4ª Ed. Ministerio de Agricultura, Pescas y Alimentacion. Ediciones Mundi-Prensa. Madrid. pp. 230-232. 1998.



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