quinta-feira, 3 de março de 2022

 

POR QUE É IMPORTANTE A ADUBAÇÃO PÓS COLHEITA

 

                               Uma das maiores diferença que a videira apresenta em relação às demais árvores frutíferas, e que pode ser a origem de alguns problemas importantes no início do desenvolvimento vegetativo, é o descompasso entre o início do crescimento dos brotos e das raízes (Callejas e Benavidez, 2005).

                Existem dois a três períodos de crescimento radicular. O primeiro ocorre no final do inverno, logo após a brotação, quando a temperatura do solo ultrapassa os 10 oC, até a floração, e alcança sua taxa máxima pouco depois à do crescimento dos brotos, às vezes pouco antes do início da maturação; o segundo ou terceiro ocorre no final do verão e no outono, depois da colheita, de menor magnitude, cuja taxa máxima ocorre na queda das folhas (Gonzalo e Pszczotkowski, 2007). 

                As plantas lenhosas são muito dependentes das reservas para suportar o rápido crescimento na fase inicial do ciclo vegetativo (Zimmermann, 1971; Loescher et al, 1990; Mooney e Gartner, 1991). A mobilização das reservas nas plantas perenes é considerado determinante para se obter boas produções. Nas videiras (Vitis vinifera L.), a absorção de nitrogênio e a assimilação de carboidratos é pequena nas primeiras semanas após a brotação (Hale e Weaver, 1962; Kriedemann et al, 1970; Conradie, 1980; Lohnertz, 1988). Consequentemente, a fase inicial de crescimento é sustentada pelo processo de mobilização das reservas (Scholefield et al, 1978; Conradie, 1980, 1986).

No início do ciclo vegetativo a demanda por nutrientes não pode ser atendida unicamente pelas raízes, os nutrientes armazenados antes da dormência também são requeridos para suportar o desenvolvimento da vegetação. O ciclo dos nutrientes, e a habilidade da planta em estocá-los e mobilizá-los, depende da mobilidade de cada um. Neste caso, o  nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre e magnésio são muito móveis na planta, mas o cálcio é pouco móvel. Quanto aos micro nutrientes, com exceção do manganês que é pouco móvel, os demais: zinco, ferro, cobre, molibdênio e boro tem mobilidade média. Estudos indicam que em videiras adultas cerca de 50% do nitrogênio e do fósforo requerido no ciclo vegetativo provem das reservas existentes nas raízes e tronco. Assim como, cerca de 15% do potássio, e 5% do magnésio e do cálcio. Dos principais macro nutrientes armazenados, o nitrogênio é armazenado em grande quantidade, seguido pelo potássio e fósforo. A proporção de magnésio estocado nas raízes e tronco é semelhante ao fósforo, e o cálcio é encontrado em quantidade semelhante ao potássio. Há poucas informações sobre o armazenamento de micro nutrientes (Smith e Holzapfeld, 2012).

Antes da queda das folhas a videira armazena substancial quantidade de nutrientes na estrutura perene (Rogiers et al), dependendo das condições ambientais e do manejo. Por exemplo, O total de nitrogênio estocado antes da dormência da videira é de 25 a 70 g/planta, semelhante às reservas de carboidratos, mais da metade encontra-se nas raízes. O fósforo, que é o segundo elemento em proporção (em termos da proporção total de reservas mobilizadas no início da brotação), estoca cerca de 2,5 a 4,5 g/planta. Para os outros macro elementos, varia de 10 a 25 g de potássio, 4 a 8 g de magnésio e 25 a 40 g de cálcio. Em regiões quentes, aproximadamente um terço da demanda anual de nitrogênio e fósforo requeridos durante o ciclo provem das reservas, 20% do magnésio e 15% do potássio. A armazenagem de nutrientes após a colheita deve-se a absorção radicular e a transferência dos existentes nas folhas por ocasião de sua queda (Smith e Holzapfeld, 2012).

A aplicação de adubação após a colheita é recomendada, principalmente N, P e K, mas a quantidade a ser aplicada deve ser em função do processo fisiológico da videira na reposição de carboidratos e nutrientes (Smith e Holzapfel, 2012).

                Em regiões quentes o melhor é aplicar a adubação próximo a queda das folhas. Aplicação precoce de N pode promover um desnecessário crescimento em certas variedades.  A quantidade e que nutrientes aplicar neste período deve ser em função do estado nutricional da videira, determinado pela análise de tecidos, e em função da quantidade estimada de nutrientes removidos pela produção. Para a adubação nitrogenada, o N é facilmente lixiviado, aplica-se cerca de um quarto da necessidade total. A necessidade de P no período pós-colheita é similar, mas a mobilidade do P no solo é baixa, o período de aplicação independe (Smith e Holzapfel, 2012).

 

 

BIBLIOGRAFIA

CALLEJAS, R. B. e BENAVIDES, Z. C. – La raiz de la vid: su estúdio es garantia Del incremento del potencial productivo. Cevid, Universidad de Chile. 2005

CONRADIE, W. J. - Seasonal uptake of nutrients by Chenin blanc in sand culture: I. Nitrogen. South       African Journal of Enology and Viticulture, 1, 1980.

CONRADIE, W.J. - Utilization of nitrogen by the grapevine as affected by time of application and soil type.           South Afr J Enol Viticult 1986;

 

GONZALO, F. G. e PSZCZCÓTKOWSKI, Ph – Viticultura – Fundamentos para Otimizar Producción y Calidad. Ediciones Univ. Cat. De Chile, Santiago, 2007.

HALE,C. e WEAVER, R.J.-The effect of developmental stage on direction          translocationofphotosynthate in Vitis vinifera. Hilgardia, 1962.

KRIEDEMANN, P. E.; KLIEWER, W. M. e HARRIS, J. M. – Leaf age and photosynthesis in Vitis vinifera L. Vitis        9: 1970

 

LOESCHER,W.H.,McCAMANT,T., e ELLER,J.D.  Carbohydratereserves,translocation,andstorage in            woody plant roots. HortScience, 25.1990.

LOHNERTZ, O. - Untersuchungen zum zeitlichen Verlauf der Nährstoffaufnahme bei Vitis vinifera (cv. Riesling). Geisenheim, Universität Giessen. 1988

MOONEY, H.A. e GARTNER, B.L. -  Reserve economy of vines. In: Putz FE, Mooney HA, editors. The       biology of vines. Cambridge: Cambridge University Press; 1991.

ROGIERS, S.; CLARKE, S.; HOLZAPFEL, B.; SMITH, J.; GREER,D.; FIELD, S.; WATT, J.; THOMAS, M. e HARDIE, J. – Multiseasonal impacts on vine productivity and grape composition. National Wine and Grape Industry Center.

 

SCHOLEFIELD, P. B.; NEALES, T. P. e MAY, P.; - Carbon balance of the Sultana vine (Vitis vinifera L.) and the      effects of autumn defoliation by harvest pruning. Aust. J. plant physiol. 5. 1978.

SMITH, J. e  HALZAPFEL, B. – Post-Harvest care of grapevine: Irrigation and nutrition. Factset. 2012.

ZIMMERMANN, N.H. - Storage, metabolization e circulation of assimilates. In "Trees" structure and        function. (Eds. N.H. Zimmermann. C.L. Brown). 1971.

Nenhum comentário:

Postar um comentário