PRODUTIVIDADE
DA VIDEIRA
A
carga de uva que uma planta pode maturar com máxima qualidade está relacionada
com a superfície foliar efetivamente iluminada. Isto significa que a qualidade da composição da uva depende mais do
equilíbrio entre as folhas e a carga de uva do que o nível absoluto da carga
por cepa, pois cada vinhedo possui seu próprio modelo de variação da qualidade
em função do rendimento. Este modelo ou curva de comportamento dependerá da
interação entre os diferentes fatores que o regula, como clima, solo, área
foliar total da videira e da percentagem desta área exposta totalmente à luz
solar. Conhecer este comportamento é fundamental para otimizar o manejo, pois existe
uma qualidade máxima possível que corresponde a uma produtividade ótima,
segundo um modelo que está determinado pelo equilíbrio vegetativo /
produtividade das cepas e as características agro climáticas do vinhedo.
Portanto,
o conceito que alta produtividade reduz a qualidade da fruta deve-se em parte
ao efeito que a “sobrecarga” causa atrasando a acumulação de açúcar na fruta
quando comparado com aquelas plantas com menos carga. Sem dúvida, existem
antecedentes que indicam que o nível de carga por planta não afeta a acumulação
de açúcar e a qualidade da fruta, desde que seja observado o nível de carga
específico que uma planta pode amadurecer antes que um rendimento maior atrase
a maturação e afete a qualidade. É claro que a produtividade de um vinhedo
influi na qualidade da uva e do vinho, porém frequentemente caímos no erro de
analisar a relação entre estes dois parâmetros como se tratasse de uma simples
equação matemática própria das ciências exatas quando, na realidade, trata-se
de um complexo processo biológico. Como sabemos, os processos biológicos são
governados ou regulados por numerosos fatores que interagem entre si.
A
produção é determinada pela quantidade de carboidratos (açucares) fornecidos ao
fruto e a outros órgãos da planta. Existe um clássico conceito que relaciona a
interferência entre a quantidade e a qualidade, onde quando um aumenta diminui
linearmente o outro. Alem disso, muitos viticultores acreditam que se a videira
passar por um estresse produzirá uva de melhor qualidade. Entretanto, a realidade não é simples assim.
O conceito cientifico é que existe uma relação entre a quantidade e a qualidade
formada por uma curva ascendente onde as duas aumentam até alcançar um patamar
e após sim, a qualidade diminui se aumentar a quantidade. Este patamar é o
ponto que todo o viticultor deve buscar para ter qualidade.
A
qualidade da uva para vinho baixa quando se supera a capacidade fotossintética
da planta e piora o seu micro clima. Num lugar de grande radiação e amplitude
térmica diária a mesma qualidade se pode obter com um rendimento maior
manejando o micro clima e as adversidades em momentos específicos.
Para
a qualidade da uva deve-se manipular a relação folhas / fruto (poda, raleio de cachos, desbrote, posição dos
sarmentos), nutrição adequada, como também a densidade da folhagem e o comprimento dos sarmentos, para criar um
micro clima (luz e temperatura) também adequado ao desenvolvimento e a
maturação das bagas e se deve submeter o cacho a aflição para fomentar a
síntese e a concentração de fenóis. Um fator importante na qualidade da vindima
é a uniformidade de maturação dos cachos. Isto é mais importante que a
maturação média proveniente de brotações desuniformes, que contém diferente
relação folhas / frutos. A relação folhas / frutos obtem-se via raleio de
cachos.
O
raleio de cachos tem época adequada de ser realizada por que:
-
Raleio muito cedo – no caso de um
raleio precoce, o vigor das videiras é favorecido, favorecendo o engrossamento
das bagas restantes, o crescimento dos brotos e o aumento da fertilidade das
gemas latentes. E assim, o potencial da produção do ano seguinte será
aumentado, gerando o risco de uma super produção, o que obriga a ralear
novamente.
-
Raleio próximo ao inicio da maturação – poderíamos
generalizar dizendo que para variedades de vinificação o raleio poderia ser realizado
a partir do momento que as uvas possuem o tamanho de um grão de ervilha
relativamente grande. Porque neste momento, o processo de divisão celular das
bagas está concluído e não ocorrerá grande crescimento delas pela diminuição da
concorrência. Alem disso, o efeito na redução da produtividade será menor e
maior será a modificação das características do fruto.
-
Durante ou depois do inicio da maturação
– realizado nesta época, não estaremos aproveitando o pico da síntese da
cor e de outros compostos que ocorrem neste momento. Parte da cor estaria sendo
jogada ao solo com os cachos eliminados; alem disso, as perdas de rendimento
serão maiores, ocorre antecipação da data da colheita e os efeitos sobre a
qualidade são poucos. Quanto mais tarde se realiza menor será a compensação ou
recuperação do peso da fruta e o efeito sobre sua qualidade.
O
raleio de frutos deve ser feito após o fechamento do cacho e logo antes do
inicio da maturação, com o objetivo de melhorar a qualidade de vinificação e
não aumentar o tamanho da uva. Se 8 a 12 cm2 de folhas são
suficientes para o pleno desenvolvimento de um grama de uva (dependendo de cada
variedade) e, então, um broto para dois
bons cachos é aquele que tem 18 a 20 folhas bem desenvolvidas, ou o comprimento
de 1,00 a 1,40 m. Antes do inicio da maturação, se deixa dois cachos nos brotos
com 15 a 20 folhas, um cacho naqueles com 8 a 12 folhas (50 a 90 cm) e nenhum
nos que tem menos folhas (menores de 50 cm).
Resulta
evidente que é preciso integrar bons procedimentos de gestão da folhagem dentro
do ciclo de crescimento, adaptando-os aos requisitos fisiológicos da videira.
Sua estrutura física, o micro clima e a fisiologia da planta afetam de forma
global o seu rendimento e a sua gestão. O desenvolvimento da folhagem tem um
papel físico e fisiológico (também através do micro clima) sobre o potencial
que tem a planta de produzir uva de grande qualidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário