segunda-feira, 16 de novembro de 2015

EFEITO DO FRIO NO DESENVOLVIMENTO DA VIDEIRA


               Plantas de clima temperado podem sofrer estresse pelo frio quando expostas a temperaturas entre 0 ºC e 4 ºC (resfriamento) ou abaixo de 0 ºC (congelamento). Tanto o resfriamento como o congelamento causam efeitos adversos ao desenvolvimento da planta, retém o crescimento espacial e produtividade. O frio pode disparar o processo de adaptação ou causar alterações fisiológicas quando o estresse ultrapassar certo umbral. Adaptação ao frio pode incluir; a) - alteração do cálcio na lamela média, resultando na ativação de vias metabólicas de resistência ao frio, - b) - acúmulo de moléculas osmoprotectantes como açucares  ou aminoácidos, - c)- regulação das proteínas envolvidas na aclimatação ao frio. Quando o mecanismo de proteção não for induzido a tempo, os tecidos da planta são danificados pelo frio, particularmente se houver redução da mobilidade dos lipídios da membrana  e a redução da fotossíntese, causada pelo fechamento dos estômatos. O cloroplasto é a organela mais severamente afetada pelas baixas temperaturas, observado pela desordem da cadeia fotossintética e redução da produção de enzimas. A redução do crescimento da planta devido a baixas temperaturas também induz a redução do processo fotossintético.

                A distribuição do açúcar nos diferentes órgãos da planta também é modificada pelas baixas temperaturas, independentemente da alteração da fotossíntese. A modificação da concentração de açúcar é de grande importância, devido à concentração de carboidratos modularem e coordenar o desenvolvimento. Muitos estresses abióticos, incluindo déficit hídrico, concentração de sal ou modificação da flutuação osmótica, e baixas temperaturas, foram reportados como grandes causadores da alteração do conteúdo de carboidratos.

                Na videira, a correta formação dos órgãos sexuais e o sucesso da reprodução sexual dependem do suprimento de açúcar e pode ser afetado por qualquer limitação de carboidratos. O suprimento de carboidratos é a chave para a correta formação dos órgãos sexuais, desde a iniciação da inflorescência até a formação dos frutos. Os órgãos sexuais são sensíveis ao estresse induzido pela limitação de açúcar, especialmente durante a meiose. Na flor da videira, a meiose do órgão feminino coincide com drásticas mudanças fisiológicas em toda a planta. Neste período, o fornecimento de carbono é proveniente das reservas existentes na madeira e da fotossíntese das folhas. A inflorescência também possui clorofila desde a abertura das gemas até o início da maturação da uva, este aporte de clorofila contribui no esforço reprodutivo. Existe um, porém, os foto assimilados produzidos na inflorescência durante o seu desenvolvimento são distribuídos para os órgãos vegetativos e não aproveitados na própria inflorescência.

                Em regiões de clima temperado, noites frias podem ocorrer no início da primavera no período da meiose do órgão feminino da flor da videira. O estresse por frio pode causar distúrbios no metabolismo dos carboidratos na inflorescência, provocando o aborto do óvulo e redução da formação de frutos. Esta pode ser a maior influência da geada de Setembro sobre a produtividade da videira.



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terça-feira, 21 de julho de 2015

A PODA E O EQUILÍBRIO DA VIDEIRA


                   Considera-se uma videira equilibrada quando apresenta adequado desenvolvimento vegetativo, produtividade adequada, e qualidade da produção adequada, como teor de açúcar, acidez, e compostos aromáticos. O manejo do dossel vegetativo e as práticas agrícolas podem impactar diretamente este equilíbrio modificando a produtividade. As práticas culturais podem também influenciar a qualidade e a nutrição. O conceito de videira equilibrada é complexo devido aos muitos fatores que interferem em seu desenvolvimento, frutificação e maturação. As características locais, como solo, disponibilidade de água e clima, combinadas com o desenho do vinhedo, cultivar, práticas culturais, doenças, pragas, e produtividade são fatores que determinam o método apropriado para se obter o equilíbrio.

Poda para manejar o equilíbrio

                   A poda é fundamental para manter o tamanho da videira e sua arquitetura a fim de otimizar a produtividade. O número de gemas retidas na poda podem influenciar grandemente o desenvolvimento e a produtividade da videira. Enquanto o espaçamento e o sistema de condução nos dá uma ideia de quantas gemas devem ser deixadas para preencher o espaço, é importante considerar o estado sanitário da videira para determinar o número de gemas a ser mantidas:

Videiras vigorosas - pode-se deixar maior número de gemas porque elas tem a quantidade adequada de substâncias de reserva para suportar maior número de brotos na fase inicial do ciclo vegetativo. Videiras vigorosas normalmente tem maior sistema radicular e tem maior acesso a nutrientes no solo, consequentemente suficiente absorção de nutrientes para suportar o desenvolvimento vegetativo e a produção. Por outro lado, se restringimos o número de gemas pode levar a emissão de excesso de brotações, brotos ladrões, e redução da produção. O resultado final é que estas plantas entrarão em desequilíbrio. Devemos considerar também, quanto mais gemas deixarmos em videiras vigorosas para obter o equilíbrio, maior aglomeração de brotos ocorrerá e isto sombreará a copa.

Videiras fracas - estas plantas devem ser podadas mais severamente, deixando poucas gemas se comparadas a plantas vigorosas. Isto permite que imprima bom desenvolvimento inicial dos brotos e reduzida produtividade. Deixando muitas gemas em plantas fracas terão dificuldades em suportar a vegetação e a produção com as reservas disponíveis. Portanto, eliminação de cachos é necessário para manter o equilíbrio adequado entre a vegetação e a produção.

Método de poda para manter o equilíbrio

                   Para tomar a decisão de poda com base no desenvolvimento no ciclo anterior um dos métodos utilizados se baseia na pesagem dos sarmentos podados. Dependendo do vigor da videira, que é determinado pela pesagem dos sarmentos, um certo número de gemas são deixadas. Para as primeiras 500 gramas de peso, 10, 20 ou 30 gemas são deixadas por videira. Adicionalmente são deixadas mais 10 gemas para cada 500 gramas subselentes, dependendo do vigor da videira (ver tabela abaixo).

                Sabe-se que é impraticável calcular planta por planta, por isso, faz-se uma média de cada quadro e calcula-se o número de gemas daquele quadro.

Método de poda equilibrada
Vigor
Peso médio dos sarmentos
Número de gemas por planta
Baixo
< 10 g
10 + 10
Moderado
20 a 40 g
20 + 10
Alto
> 60 g
30 + 10

 

                Ravaz sugere que para verificar se a videira está equilibrada, necessitamos conhecer o peso da poda (na poda de inverno) e a produtividade da ultima safra. Calcular a relação existente entre a produtividade e o peso de poda (índice de Ravaz). Se a relação for de 5 a 10, a videira está equilibrada. Maior relação geralmente indica excesso de produção.

Índice de Ravaz = kg de uva (safra anterior)/ kg de sarmentos =  (5 a 10).

                Outro índice comumente usado é a relação área foliar/carga de frutos. Os valores de peso de poda ou área foliar requerido para suportar uma unidade de peso de frutos variam consideravelmente, dependendo da região, da variedade, práticas de manejo (sistema de condução), produto desejado e os métodos de medição utilizados.

                Por outro lado, em muitas regiões a fotossíntese não é somente limitada pela temperatura senão também pela intensidade luminosa. Com baixa intensidade luminosa incidente, há necessidade de uma maior área foliar para maturar a mesma quantidade de peso de frutos.

                Outro fator determinante é o período de tempo pós-colheita. É importante considerar que uma proporção significativa dos carboidratos da fruta colhida provem da mobilização das reservas. Durante o período entre a colheita e a queda das folhas, estas reservas devem ser restabelecidas para completar a diferenciação das gemas e permitir o crescimento inicial na temporada seguinte. Como resultado, em regiões frias, com um curto período de retenção das folhas fotossinteticamente ativas no pós-colheita, requer uma maior superfície foliar para maturar uma unidade de peso de fruta.

 

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A IMPORTÂNCIA DOS CUIADOS PÓS-COLHEITA


                Nas videiras (Vitis vinifera L.), a absorção de nitrogênio e a assimilação de carboidratos é pequena nas primeiras semanas após a brotação. Consequentemente, a fase inicial de crescimento é sustentada pelo processo de mobilização das reservas existentes.

                Quanto a absorção de nitrogênio, e de outros nutrientes, é sabido que este processo é realizado pelas raízes finas, mas elas iniciam a se diferenciar e se desenvolver somente algumas semanas após a abertura das gemas, alcançando o pico de crescimento no início da floração. Assim, a remobilização do nitrogênio (existente nas reservas),  na fase inicial de crescimento, é o maior processo de disponibilização deste elemento aos tecidos da videira em formação, isto até a floração.  Isto demonstra a importância das reservas de nitrogênio acumuladas pela videira no final do ciclo vegetativo anterior em relação a absorção no início do ciclo atual.

                A videira recorre as reservas de carboidratos para suportar o desenvolvimento inicial da nova brotação. Estes carboidratos encontram-se armazenados, nas raízes e tronco, na forma de amido, e frações de açúcares livres, principalmente glicose, frutose e sacarose.

                Durante o ciclo vegetativo existe um complexo intercâmbio de carboidratos nos órgãos em desenvolvimento (folhas, inflorescências e bagas) e nos perenes (raízes, tronco e braços). Os órgãos em desenvolvimento atraem nutrientes e representam os órgãos "drenos". Inversamente, os órgãos que tem capacidade de liberar açúcar sintetizado são as "fontes", como as folhas adultas. Nas angiospermas, os órgãos reprodutivos são tipicamente "drenos" ao longo do seu desenvolvimento, enquanto que os órgãos vegetativos podem se comportar como "fontes" ou como "drenos" dependendo do seu estágio de desenvolvimento.

                Em todas as cultivares, a fotossíntese nas folhas vai aumentando desde a brotação até o florescimento e após regularmente decresce até a senescência. Embora as folhas assimilem o CO2 desde o seu aparecimento, elas são órgãos "drenos" na fase inicial do seu crescimento, isto significa que elas necessitam de mais carboidratos do que produzem. Elas passam a ser "fonte" (produzem mais carboidratos do que necessitam) quando atingem cerca de um terço do seu tamanho normal. Dependendo da variedade, a capacidade fotossintética máxima é atingida por ocasião da floração.

                A relação entre a "fonte" e os "drenos" é complexa e dinâmica durante todo o ciclo vegetativo e as reservas acumuladas são importantes na fase inicial do crescimento até a floração. As folhas da videira somente passam a exportar carboidratos quando atingem cerca de um terço do seu tamanho final. A utilização dos carboidratos da reserva inicia desde a abertura das gemas, chega ao máximo quando o ramo tem de 6 a 8 folhas abertas e diminui na floração. No broto novo, as folhas basais iniciam a exportar carboidratos a partir da 5a folha aberta, e a exportação máxima é atingida quando adultas. As folhas atingem sua capacidade fotossintética máxima entre 30 e 50 dias de vida. Antes da floração, o destino dos fotoassimilados é a ponta de crescimento. Após a fixação do fruto, as bagas passam a ser um grande "dreno". A maioria dos carboidratos que abastecem os frutos são provenientes da fotossíntese das folhas. A utilização de carboidratos de reserva, neste estágio, somente ocorrerá se houver fator de estresse, ou se a produtividade é maior do que a capacidade que a videira possa suportar.

                O destino dos fotoassimilados flutua durante o ano. Da floração até o início da maturação, o fluxo de carboidratos é orientado para o crescimento dos órgãos anuais e para acumulação nos órgãos perenes. No início da maturação, ocorre acumulação de reservas de carboidratos na maioria das variedades, mas a maior quantidade é direcionada para a maturação da uva. Após a colheita, a fotossíntese declina paralelamente com a senescência das folhas, mas a planta continua armazenando carboidratos até a queda das folhas. O declínio da capacidade fotossintética deve-se principalmente a redução da condutância dos estômatos e ao conteúdo de proteína.

                Juntamente com as reservas de carboidratos, as reservas de nitrogênio desempenham importante papel na fase inicial de crescimento nas plantas lenhosas. Na videira, as reservas de nitrogênio localizam-se predominantemente nas raízes e na forma de aminoácidos (principalmente arginina) e proteínas. Além disso, a absorção de nitrogênio suplementa a mobilização durante o ciclo vegetativo. Entretanto, a absorção de nitrogênio, embora inicie cedo no ciclo vegetativo, geralmente permanece baixa até a floração, mesmo que  o solo seja rico em nitrogênio.

                A quantidade de substâncias de reserva existente durante o inverno interfere no desenvolvimento vegetativo na primavera, no número de cachos e flores por cacho, na fixação do fruto e na produtividade. A quantidade de substâncias de reserva interfere também no vigor da brotação.

 

 

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