O período da poda está chegando e é importante considerar a probabilidade de
infestação de fungos causadores da morte descendente da videira que possa
ocorrer via feridas da poda.
As doenças do tronco da videira
são consideradas as mais danosas nas últimas três décadas e estão se expandindo
rapidamente em todos os vinhedos do mundo. Estas doenças são muito prejudiciais
porque atacam todos os órgãos aéreos causando a morte das
plantas a curto ou longo prazo. Esca, Eutypa e Botryosphaeria são os fungos
causadores desta doença. Em vinhedos afetados, a substituição de plantas podem
ser afetadas também. Outras doenças como Petri e/ou pé-preto (Campylocarpon, Cylindrocladiella, Dactylonectria,
Ilyonectria e Neonectria spp)
são as doenças que podem atacar as plantas novas, reduzindo sua produtividade e
sua longevidade, causando assim perdas econômicas ao setor vitivinícola.
Este
é um problema que preocupa todos os viticultores, principalmente por não
existir um tratamento curativo para as plantas infectadas, ainda mais, por serem
doenças que podem passar despercebidas durante grande parte da sua evolução e
só se manifestar muitas vezes quando os danos já são irreparáveis.
Segundo
Garrido (2015) três doenças principais foram identificadas, no Brasil, como
doenças do tronco da videira: Eutipiose, Esca e Botryosphaeria dieback, esta
última conhecida no Brasil por podridão ou morte descendente da videira, todas
elas envolvendo fungos colonizadores do xilema das
plantas. Estas três doenças já foram relatadas no Brasil, como causadoras da
morte de plantas em vinhedos, tanto em plantas adultas, como também em vinhedos
recém-implantados. A baixa qualidade fitossanitária do material propagativo é
uma das causas da morte de plantas jovens de videira. Já a morte de plantas
adultas resulta das infecções constantes, que ocorrem a cada ano, nos
ferimentos ocasionados pela poda e a ausência da prática de proteção dos
ferimentos, com algum produto químico ou agente de controle biológico.
As
doenças do lenho da videira se enquadram perfeitamente na síndrome do depauperamento.
Em termo geral, por depauperamento se entende a perda de vigor da planta que
pode ocorrer devido a múltiplos fatores de natureza biótica (infecção
parasitária ou viral, infestação de pragas) e abiótica (estresse hídrico,
nutricional, geadas, condições pedológicas desfavoráveis, etc.); tais fatores
podem levar a planta à morte. Muitas vezes o depauperamento é devido à
concomitância de diversas causas; em fim, os vários fatores de estresse,
abióticos ou bióticos, aumentam a suscetibilidade e/ou a receptividade da
planta a outros patógenos, embora secundários.
As doenças do lenho da videira
estão se tornando um problema mundial. Os sintomas são variáveis e
inconsistentes, mas geralmente envolvem a madeira, necrose nas folhas, fraco
desenvolvimento e em muitos casos a morte da planta. A interação entre estes
patógenos e seu meio ambiente parece ser complexo e muitas vezes específico da
espécie e da localização, com o estresse ambiental influenciando muito, potencializam-se
a infecção latente.
Na madeira podem aparecer
sintomas de necrose setorial e/ou central, com a presença de estrias ou
cancros, e nas folhas descoloração e necrose, que podem aparecer de repente.
Em vinhedos em formação,
sintomas externos como menor vigor, retardamento ou inibição do crescimento,
entrenós curtos, clorose nas folhas com margens necrosadas, murchamento e morte
pode ser causada pelo pé-preto ou pela doença de Petri (declínio das plantas
jovens), mas frequentemente são indistinguíveis. Além disso, as plantas
afetadas por estas doenças apresentam lesões nas raízes com redução da biomassa
radicular e das radicelas.
O ciclo vital e epidemiológico é
muito similar em todos os fungos causadores da doença do tronco. Estas doenças
são ocultas e seus sintomas podem demorar diversos anos para aparecerem. Como
são internos, são difíceis de notar. As feridas da poda é a principal porta de
entrada destes fungos, mas também pode ocorrer por lesões mecânicas ou lesões
causadas pelo frio. Posteriormente a invasão se desenvolver, causa o declínio e
morte da planta. Os corpos de frutificação produzidos na madeira morta e seus
esporos são liberados na presença de água, dispersados pelo vento, e finalmente,
podem infectar novas feridas.
Um dos grandes problemas é que
estes fungos são endofíticos, isto significa que podem viver assintomaticamente
boa parte da sua vida, mas devemos observar que até certo ponto está associado
com o estresse da planta, alterando seu comportamento e patogenicidade, assim
conduzindo a expressão dos sintomas da doença.
Até algumas décadas passadas, as
doenças do tronco da videira causavam danos somente em plantas velhas, e a sua substituição
com videiras sadias era um procedimento comum e eficiente para restringir a
disseminação da doença. Recentemente, estas doenças foram observadas em rápida
expansão em videiras com 2 a 3 anos de idade. Hoje em dia, as doenças do tronco
das videiras aparecem frequentemente em vinhedos com 7 anos de idade.
Meios de prevenção e controle
Temos que considerar que, tanto
em videiras velhas, como em plantações novas, para o controle das enfermidades
fúngicas da madeira não existem no mercado produtos fitossanitários curativos.
Se deve recorrer como única opção, nestes momentos, a aplicação de medidas e
tratamentos preventivos para evitar tanto sua instalação como a difusão.
Considerando a facilidade com
que uma planta possa ser infectada, é praticamente impossível evitar que isto
ocorra: de um lado a presença de esporos e conídios no ar é assegurada pela
extrema polifagia do agente patogênico, além das práticas vitícolas normais assegurar
uma constante possibilidade de entrada do patógeno. Do outro lado, é impossível
curar uma planta infetada, sobretudo por meio químico. Embora dispuséssemos
substâncias ativas eficazes, existem muitas dificuldades de execução, primeiro
pela dificuldade de identificar precocemente as plantas com alterações no lenho
(a única onde se poderia ter alguma possibilidade de sucesso), devido somente à
planta apresentar sintomas nas folhas após o lenho estar severamente atacado.
Na ausência de tratamentos
químicos eficazes, torna-se assim imperativo adotar medidas profiláticas (meios
de luta cultural) de forma a reduzir a fonte de inoculo e o risco de
contaminação, e paralelamente proceder à reconversão ou replantio das videiras
afetadas, a fim de diminuir os impactos destas doenças.
Recomendam-se as seguintes
práticas culturais:
- Utilizar material sadio na
plantação de vinhedos novos. Verificar as mudas antes do plantio e numa amostra
do material, observar a possível existência de necroses no lenho e, em caso
afirmativo, efetuar uma análise microbiológica.
- Adotar sistemas de condução
que exijam podas menos severas;
- Evitar todas as operações que
aumentem o vigor da videira, particularmente nos primeiros cinco anos de vida,
e favorecem o desenvolvimento da Eutipiose. As causas mais referidas são os
solos férteis, as adubações excessivas e porta-enxerto vigoroso;
- Identificar as videiras atacadas na
Primavera (Eutipiose) e Verão (Esca), marcá-las e deixar para o final a poda
dessas videiras doentes;
- A época de poda é também um
fator importante para a receptividade da videira à doença, especialmente no
caso da Eutipiose. Deve assim efetuar-se a poda o mais tarde possível, em
períodos secos e sem vento;
- Evitar grandes feridas de
poda, a fim de limitar as possibilidades de entrada do fungo na planta;
- Evitar todas as operações
culturais que possam provocar feridas;
- Arrancar as videiras mortas e
nas videiras com infecções severas, cortar os braços atacados até ao tecido
sadio. Este material não deve ser deixado no terreno, mas sim queimado;
- Desinfetar os instrumentos de
poda sempre que utilizados em videiras atacadas, com hipoclorito de sódio ou
álcool;
- Não só em relação a esta
doença como em todas as doenças do lenho, convém proteger as feridas, sobretudo
as de maiores dimensões com pincelamento de pasta protetora.
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