quarta-feira, 28 de junho de 2017

DOENÇAS DO LENHO DA VIDEIRA


         O período da poda está chegando e é importante considerar a probabilidade de infestação de fungos causadores da morte descendente da videira que possa ocorrer via feridas da poda.

                As doenças do tronco da videira são consideradas as mais danosas nas últimas três décadas e estão se expandindo rapidamente em todos os vinhedos do mundo. Estas doenças são muito prejudiciais porque atacam todos os órgãos aéreos causando a morte das plantas a curto ou longo prazo. Esca, Eutypa e Botryosphaeria são os fungos causadores desta doença. Em vinhedos afetados, a substituição de plantas podem ser afetadas também. Outras doenças como Petri e/ou pé-preto (Campylocarpon, Cylindrocladiella, Dactylonectria, Ilyonectria e Neonectria spp) são as doenças que podem atacar as plantas novas, reduzindo sua produtividade e sua longevidade, causando assim perdas econômicas ao setor vitivinícola.

                Este é um problema que preocupa todos os viticultores, principalmente por não existir um tratamento curativo para as plantas infectadas, ainda mais, por serem doenças que podem passar despercebidas durante grande parte da sua evolução e só se manifestar muitas vezes quando os danos já são irreparáveis.  

                Segundo Garrido (2015) três doenças principais foram identificadas, no Brasil, como doenças do tronco da videira: Eutipiose, Esca e Botryosphaeria dieback, esta última conhecida no Brasil por podridão ou morte descendente da videira, todas elas envolvendo fungos colonizadores do xilema das plantas. Estas três doenças já foram relatadas no Brasil, como causadoras da morte de plantas em vinhedos, tanto em plantas adultas, como também em vinhedos recém-implantados. A baixa qualidade fitossanitária do material propagativo é uma das causas da morte de plantas jovens de videira. Já a morte de plantas adultas resulta das infecções constantes, que ocorrem a cada ano, nos ferimentos ocasionados pela poda e a ausência da prática de proteção dos ferimentos, com algum produto químico ou agente de controle biológico.

                As doenças do lenho da videira se enquadram perfeitamente na síndrome do depauperamento. Em termo geral, por depauperamento se entende a perda de vigor da planta que pode ocorrer devido a múltiplos fatores de natureza biótica (infecção parasitária ou viral, infestação de pragas) e abiótica (estresse hídrico, nutricional, geadas, condições pedológicas desfavoráveis, etc.); tais fatores podem levar a planta à morte. Muitas vezes o depauperamento é devido à concomitância de diversas causas; em fim, os vários fatores de estresse, abióticos ou bióticos, aumentam a suscetibilidade e/ou a receptividade da planta a outros patógenos, embora secundários.

                As doenças do lenho da videira estão se tornando um problema mundial. Os sintomas são variáveis e inconsistentes, mas geralmente envolvem a madeira, necrose nas folhas, fraco desenvolvimento e em muitos casos a morte da planta. A interação entre estes patógenos e seu meio ambiente parece ser complexo e muitas vezes específico da espécie e da localização, com o estresse ambiental influenciando muito, potencializam-se a infecção latente.

                Na madeira podem aparecer sintomas de necrose setorial e/ou central, com a presença de estrias ou cancros, e nas folhas descoloração e necrose, que podem aparecer de repente.

                Em vinhedos em formação, sintomas externos como menor vigor, retardamento ou inibição do crescimento, entrenós curtos, clorose nas folhas com margens necrosadas, murchamento e morte pode ser causada pelo pé-preto ou pela doença de Petri (declínio das plantas jovens), mas frequentemente são indistinguíveis. Além disso, as plantas afetadas por estas doenças apresentam lesões nas raízes com redução da biomassa radicular e das radicelas.   

                O ciclo vital e epidemiológico é muito similar em todos os fungos causadores da doença do tronco. Estas doenças são ocultas e seus sintomas podem demorar diversos anos para aparecerem. Como são internos, são difíceis de notar. As feridas da poda é a principal porta de entrada destes fungos, mas também pode ocorrer por lesões mecânicas ou lesões causadas pelo frio. Posteriormente a invasão se desenvolver, causa o declínio e morte da planta. Os corpos de frutificação produzidos na madeira morta e seus esporos são liberados na presença de água, dispersados pelo vento, e finalmente, podem infectar novas feridas.  

                Um dos grandes problemas é que estes fungos são endofíticos, isto significa que podem viver assintomaticamente boa parte da sua vida, mas devemos observar que até certo ponto está associado com o estresse da planta, alterando seu comportamento e patogenicidade, assim conduzindo a expressão dos sintomas da doença.

                Até algumas décadas passadas, as doenças do tronco da videira causavam danos somente em plantas velhas, e a sua substituição com videiras sadias era um procedimento comum e eficiente para restringir a disseminação da doença. Recentemente, estas doenças foram observadas em rápida expansão em videiras com 2 a 3 anos de idade. Hoje em dia, as doenças do tronco das videiras aparecem frequentemente em vinhedos com 7 anos de idade.

Meios de prevenção e controle

                Temos que considerar que, tanto em videiras velhas, como em plantações novas, para o controle das enfermidades fúngicas da madeira não existem no mercado produtos fitossanitários curativos. Se deve recorrer como única opção, nestes momentos, a aplicação de medidas e tratamentos preventivos para evitar tanto sua instalação como a difusão.

                Considerando a facilidade com que uma planta possa ser infectada, é praticamente impossível evitar que isto ocorra: de um lado a presença de esporos e conídios no ar é assegurada pela extrema polifagia do agente patogênico, além das práticas vitícolas normais assegurar uma constante possibilidade de entrada do patógeno. Do outro lado, é impossível curar uma planta infetada, sobretudo por meio químico. Embora dispuséssemos substâncias ativas eficazes, existem muitas dificuldades de execução, primeiro pela dificuldade de identificar precocemente as plantas com alterações no lenho (a única onde se poderia ter alguma possibilidade de sucesso), devido somente à planta apresentar sintomas nas folhas após o lenho estar severamente atacado.

                Na ausência de tratamentos químicos eficazes, torna-se assim imperativo adotar medidas profiláticas (meios de luta cultural) de forma a reduzir a fonte de inoculo e o risco de contaminação, e paralelamente proceder à reconversão ou replantio das videiras afetadas, a fim de diminuir os impactos destas doenças.

                Recomendam-se as seguintes práticas culturais:

                - Utilizar material sadio na plantação de vinhedos novos. Verificar as mudas antes do plantio e numa amostra do material, observar a possível existência de necroses no lenho e, em caso afirmativo, efetuar uma análise microbiológica.

                - Adotar sistemas de condução que exijam podas menos severas;

                - Evitar todas as operações que aumentem o vigor da videira, particularmente nos primeiros cinco anos de vida, e favorecem o desenvolvimento da Eutipiose. As causas mais referidas são os solos férteis, as adubações excessivas e porta-enxerto vigoroso;

                 - Identificar as videiras atacadas na Primavera (Eutipiose) e Verão (Esca), marcá-las e deixar para o final a poda dessas videiras doentes;

                - A época de poda é também um fator importante para a receptividade da videira à doença, especialmente no caso da Eutipiose. Deve assim efetuar-se a poda o mais tarde possível, em períodos secos e sem vento;

                - Evitar grandes feridas de poda, a fim de limitar as possibilidades de entrada do fungo na planta;

                - Evitar todas as operações culturais que possam provocar feridas;

                - Arrancar as videiras mortas e nas videiras com infecções severas, cortar os braços atacados até ao tecido sadio. Este material não deve ser deixado no terreno, mas sim queimado;

                - Desinfetar os instrumentos de poda sempre que utilizados em videiras atacadas, com hipoclorito de sódio ou álcool;

                - Não só em relação a esta doença como em todas as doenças do lenho, convém proteger as feridas, sobretudo as de maiores dimensões com pincelamento de pasta protetora.

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