Devido
ao alto custo das aplicações de defensivos que elevam o custo de produção,
combustível e mão de obra, bem como o impacto ambiental, é importante obter o
máximo de benefícios possíveis na aplicação de defensivos. Há várias coisas a
considerar para melhorar a eficácia e a eficiência da pulverização.
Segundo
Vargas e Gleber (2005), a tecnologia de aplicação não se resume ao ato de
aplicar o produto, mas sim na interação entre vários fatores (cultura, praga,
doença, planta invasora, produto, equipamento e ambiente) buscando um controle
eficiente, com custo baixo e mínima contaminação ambiental. Ainda, segundo
estes autores, os principais erros na aplicação de defensivos são:
a)- Produto
utilizado -Uso do produto
inadequado; dose incorreta (sub ou superdosagem); momento ou estágio de
aplicação incorreto; sobreposição de aplicação.
b)-
Misturas de tanque.
c)-
Equipamento desregulado; escorrimento e gotejamento.
d)-
Aplicação com condições climáticas inadequadas.
e)-
Água usada para mistura do agrotóxico no tanque de má qualidade (excesso de partículas
em suspensão, pH incompatível com produtos, entre outros).
ESCOLHA DO PRODUTO DE APLICAÇÃO
Verifique
diariamente as condições climáticas e a previsão do tempo para os próximos
dias. Examine diariamente a cultura para verificar se há presença de doenças.
Faça sempre tratamentos preventivos. Mas, se por acaso, ocorrer ataque de
doença, aplique fungicidas o mais rápido possível após um período de infecção.
Durante os períodos chuvosos, os fungicidas
sistêmicos têm melhor desempenho do que os fungicidas protetores ou de contato,
pois são menos suscetíveis à lavagem pela chuva (embora,
eventualmente, uma parte dos fungicidas sistêmicos também seja lavada pela chuva). Para
obter a ação mais curativa (pós-infecção) de um fungicida sistêmico, aplique a
maior taxa rotulada, uma vez que a atividade depende da concentração. O
mesmo vale para a ação preventiva; geralmente, uma taxa mais alta (dentro
da quantidade indicada) normalmente prolonga o período residual. Você pode
precisar reaplicar fungicidas protetores após 15 a 20 mm de chuva. Os
fungicidas sistêmicos estão protegidos da lavagem.
Adicione
um adjuvante (surfactante, adesivo, penetrante), se recomendado no rótulo - Alguns adjuvantes têm
bloqueadores de luz ultravioleta (UV) que retardam a degradação dos pesticidas
pelos raios UV. No entanto, muitos fungicidas modernos são formulados de
tal maneira que os adjuvantes não são necessários. De fato, alguns rótulos
de fungicidas proíbem o uso de adjuvantes devido ao aumento do potencial de
fitotoxicidade. Em alguns casos, os adjuvantes têm um efeito supressor de
doenças porque são prejudiciais aos patógenos; por exemplo os surfactantes
fazem explodir os zoósporos de míldio.
Aplique
fungicidas de proteção (contato) durante condições de sol e seco para permitir
a secagem rápida das folhas - De
fato, parece que os fungicidas protetores se tornam melhor adsorvidos à
superfície da planta e mais resistentes à chuva ao longo de vários dias após a
aplicação. Qualquer formação de orvalho durante a noite ajudará a
redistribuir o produto sobre a superfície da planta. Embora seja melhor
ter aplicações de fungicidas protetores antes de uma chuva ou evento de orvalho
pesado que poderia representar um período de infecção, evite aplicar fungicidas
de proteção dentro de algumas horas antes de uma tempestade, pois você pode
perder muito pela lavagem.
Aplique
fungicidas sistêmicos sob condições úmidas e nebulosas quando o solo estiver
úmido - Dessa forma, a
cutícula, ou a camada de cera que cobre a superfície da planta, será inchada e
permitirá que os ingredientes ativos passem rapidamente. Sob condições prolongadas
de calor e seca, a cutícula fica achatada e menos permeável; qualquer
produto que não seja absorvido pode permanecer na superfície da planta e degradar
devido à luz UV ou micróbios ou ser lavado pela chuva.
Se
você não está tendo o controle que costumava obter com um produto em
particular, considere a possibilidade de resistência a fungicidas - Isso
poderia ser um problema com patógenos que têm alto potencial reprodutivo
(oídio, míldio e ferrugem) que foram expostos a repetidas pulverizações de
fungicidas sistêmicos, como as estrobilurinas (Azoxistrobina, Piraclostrobina,
Cresomin-methyl, etc.), inibidores de esterol (Bitertanol, Propiconazole,
Triadimefon, Triforine), benzimidazoles (Benomil, Carbendazin, Tiofanato
metílico, Thiabendazole), fenilamidas (Ridomil) e dicarboximides (Iprodione). No
entanto, você deve primeiro descartar o mau tempo e a cobertura de pulverização
como possíveis causas do baixo desempenho do fungicida. As formas de
reduzir o risco de resistência a fungicidas incluem fungicidas alternados ou
misturas de tanque com diferentes modos de ação e evitando a pulverização de
fungicidas sistêmicos com taxas abaixo do indicado no rótulo. Além disso,
tente evitar a aplicação de fungicidas sistêmicos em colônias altamente esporuladas,
à medida que aumenta a probabilidade de seleção de mutantes com densidades
populacionais mais elevadas de patógenos. Neste caso, é preferível
utilizar um fungicida de contato apropriado para matar os esporos.
Não
aplique fungicidas sistêmicos em folhas mortas ou parcialmente mortas - isto
também se aplica às folhas nas quais as nervuras foram mortas. Produtos
sistêmicos não podem se mover em tecidos mortos ou através das nervuras mortas
e, portanto, não serão bem distribuídos na planta (folhas senescentes, folhas
danificadas).
Para
melhorar a cobertura de fungicidas na zona dos frutos, será útil a retirada
oportuna de folhas e a remoção de rebentos na zona de frutos - Além
disso, o posicionamento da parte aérea ajudará a abrir a copa e melhorará a
cobertura de fungicida, bem como a penetração da luz solar, o que ajudará a
suprimir o desenvolvimento de fungos. No geral, podar e conduzir as videiras
para ter um dossel mais exposto e aberto ajudará no controle da doença.
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
As
condições ambientais no momento da aplicação são fundamentais, principalmente
para garantir que o defensivo seja depositado no alvo desejado.
Umidade
relativa do ar - A
condição climática mais importante para o sucesso ou fracasso na deposição das
gotas é a umidade relativa do ar, principalmente, quando trabalhamos com
formulações diluídas em água. É através da maior ou menor porcentagem de
umidade no ar, que a velocidade de evaporação de uma gota aquosa é reduzida ou
aumentada, respectivamente, ou permitindo que se reduzam ou não os volumes de
aplicação e influindo diretamente no rendimento operacional do equipamento.
Quanto
mais baixa for à umidade do ar, mais rapidamente as gotas evaporam e com elas o
produto químico aplicado. Gotas pequenas com menos de 100 micras que podem
compor até 30% do volume total, dependendo do bico e da pressão utilizada,
dificilmente atingirão o alvo. Por isso não são recomendadas aplicações de
defensivos agrícolas quando a umidade do ar for próxima ou inferior a 50%.
Vento – Evidentemente
que, com ventos fortes, principalmente superiores a 10 km/hora, a qualidade da
aplicação também fica prejudicada em função do excessivo carregamento lateral
que as gotas vão sofrer, resultando no que é designado como deriva. Em consequência,
pode-se não atingir o alvo em dose suficiente.
Pulverizar fungicidas quando há uma leve brisa, como
2 a 6 km/h no nível do bico, é realmente melhor do que a pulverização durante
condições tranquilas - porque mesmo sem vento pode haver
correntes de ar causadas pelo movimento do equipamento de pulverização que carrega
o fungicida fora do alvo. Um pouco de vento ajudará a deposição; você
saberá para onde o produto está indo e poderá ajustar sua configuração de
pulverização de acordo com a situação. Se as condições não forem boas para
a pulverização, é melhor esperar um dia extra para melhores condições do que
perder a maior parte do produto.
Outra
consideração importante do momento é a hora do dia, particularmente no que se
refere às relações de temperatura e umidade. Tanto a temperatura quanto a
umidade podem afetar a deriva dos fungicidas. Quanto maior a temperatura e
menor a umidade relativa, maior a oportunidade de evaporação ou volatilização
do fungicida. Isso pode ser evitado pela pulverização no início da manhã,
quando as temperaturas são mais baixas e a umidade relativa é maior. Além
do risco reduzido de deriva da volatilização de fungicidas no início da manhã,
a deriva também pode ser minimizada nas horas da manhã devido a ventos mais
calmos e menor turbulência convectiva do ar.
Temperatura - O
início da manhã, o final da tarde e à noite são períodos onde a umidade
relativa é maior e a temperatura é menor, sendo considerados mais adequados
para as aplicações. Do ponto de vista prático, é possível e recomendável a
utilização de gotas finas nestes horários. Porém, é necessário um monitoramento
das condições ambientais com o passar das horas do dia, pois no caso de haver
um aumento considerável da temperatura (com redução da umidade relativa), o
padrão de gotas precisa ser mudado (passando-se a usar gotas maiores). Neste
caso, o volume de aplicação deve ser aumentado, para não haver efeito negativo
na cobertura dos alvos.
Luz – A luminosidade
necessita estar presente no momento da aplicação ou algumas horas após,
principalmente para os herbicidas. Normalmente, aplicações realizadas com esses
produtos, em dias sombrios ou à noite, as quais se segue uma chuva, são de
baixa eficiência. Dessa forma, aplicações sem luminosidade adequada só seriam
recomendadas na certeza da ocorrência da mesma nas próximas horas.
Chuva
e orvalho - Chuva e orvalho são fatores climáticos que
também requerem atenção no momento do planejamento das aplicações. No caso da
chuva, recomenda-se bastante cuidado na observação do intervalo mínimo de tempo
entre a aplicação e a ocorrência da chuva, visando permitir o tempo mínimo para
a ação dos produtos. No caso do orvalho, a presença de água nas folhas quando
das aplicações noturnas (madrugada) e/ou no início da manhã pode causar
interferência na técnica de aplicação. Neste caso, problemas podem ocorrer
tanto pela diluição do produto como por um eventual escorrimento, em virtude do
excesso de água e da ação do espalhante contido na calda. Entretanto, existem
situações, dependendo da técnica empregada e do tipo de defensivo utilizado, em
que a ação do orvalho pode até ser benéfica. A aplicação noturna deve
considerar, ainda, a existência de limitações técnicas relativas aos próprios
defensivos, no que se refere às questões de eficiência e velocidade de absorção
nas situações de ausência de luz ou baixas temperaturas.
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