No outono, a videira entra em dormência – estágio
em que não há folhas ou atividades de crescimento, período que se estende até a
abertura das gemas na estação seguinte. Apesar deste estágio aparentar
inatividade, ele pode ser um período critico para a videira, se exposta a muito
baixas temperaturas. A habilidade da videira em estágio de dormência tolerar
baixa temperatura significa a sua resistência ao frio. A resistência ao frio é
uma condição muito dinâmica, influenciada pelo ambiente e as condições de
desenvolvimento, e varia conforme a variedade, os tecidos e da estação (Hellman, 2007).
Howell
(2000) descreve três estágios de dormência: (a) aclimatação é o período de transição entre a condição de não
resistência a plena resistência ao frio. Aclimatação é um processo gradual, que
inicia próximo ao inicio da maturação da uva (veraison) e continua após a queda
das folhas quando as temperaturas são baixas (Martinson, 2007). A combinação
da diminuição das horas de sol (fotoperíodo) e a queda da temperatura no outono
são fatores importantes que influenciam a aclimatação e a resistência ao frio (Wample, et al., 2000). O processo da aclimatação envolve simultaneamente diversas atividades
que coletivamente aumentam a resistência ao frio. Diminui o conteúdo de água em
vários tecidos, enquanto aumenta a concentração de solutos nas células, a
permeabilidade da membrana, e a estabilidade térmica de varias enzimas (Mullins, et al., 1992). (b) metade do inverno,
período de maior severidade e grande resistência ao frio. Após passar pelas
baixas temperaturas na metade do inverno, as gemas continuam a ganhar
resistência ao frio através da desidratação e a transferência de água para os
espaços intercelulares. Se ocorrer a formação de gelo fora das células, o
diferencial de pressão forçará a saída de água do interior das células para os
cristais de gelo, não danificando as gemas (Martinson,
2007). (c) desaclimatação,
período de transição entre a plena resistência ao frio a não resistência e o
crescimento ativo da nova vegetação. Após alcançar o máximo de resistência ao
frio na metade do inverno, as gemas passam pelo processo de desaclimatação em
resposta a elevação da temperatura - a desaclimatação é mais rápida do que o
processo de aclimatação. Temperatura mais alta aumenta a umidade ambiental, e
os tecidos da videira gradualmente absorvem água. Aumentando a temperatura do
solo, o efeito capilar faz com que a água penetre nas raízes e a seiva começa a
circular. Por ocasião do inchamento das gemas, as gemas reidratadas são
vulneráveis ao frio e bastam alguns graus abaixo do ponto de congelamento para
danificá-las (Martinson, 2007).
A
resistência ao frio depende das características genéticas da espécie e da
variedade de videira. O potencial genético da resistência ao frio depende das
condições ambientais e das condições em que as videiras se desenvolveram na
estação anterior. Práticas de manejo inadequadas ou condições climáticas
adversas podem inibir o processo de aclimatação, resultando em reduzida
resistência ao frio. A aclimatação é favorecida quando as folhas e os ramos se
desenvolveram em boa exposição solar, isto ocasiona boa maturação e com
relativa baixa concentração de água (Mullins,
et al., 1992). Segundo Howell (2000) a
resistência ao frio varia consideravelmente entre as variedades. Reduzida
resistência é associada à grande, densa copa (sombreamento); ramos com entrenós
longos e/ou grossos. Além disso, excesso de carga de uva ou desfolha (queda
prematura das folhas devido a estresse ou doenças) inibe a aclimatação,
provavelmente devido a reduzir a atividade fotossintética (Mullins, et al., 1992).
As videiras não estão totalmente inativas durante a
fase de dormência. Elas não fotossintetizam por que não tem folhas, mas elas
continuam respirando para manter as funções básicas do metabolismo. A sua fonte
de energia neste estágio são os carboidratos estocados no ciclo anterior (a
maioria amido) nas raízes, tronco e braços. As videiras em estado de dormência
passam a viver de suas reservas após a queda das folhas. A nova brotação, no
ciclo vegetativo seguinte, é completamente dependente destas reservas durante o
primeiro mês (AWRI).
BIBLIOGRAFIA
HELLMAN, Ed. – Grapevine Cold Hardiness. Texas Cooperative Extension.
2007.
HOWELL, G.S. – Grapevine cold hardiness: mechanisms of
cold acclimation, mid-winter hardiness maintenance, and spring deacclimation.
Proceedings of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington.
American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.
MARTINSON, T. – How
Grapevine Buds Gain and Lose cold-Hardiness. Cornell University. College of
Agriculture and Life Sciences Viticulture and enology Program. 2007.
MULLINS, M.G.,
BOUQUET, A. and WILLIANS, L.E. – Biology of grapevine. Cambridge University
Press, Cambridge. 1992.
WAMPLE, R.L.,
HARTLEY, S. and MILLS, L. – Dynamics of grapevine cold hardiness. Proceedings of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting
Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif.
2000.
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