terça-feira, 3 de junho de 2014

PERÍODO DE DORMÊNCIA DA VIDEIRA

                      No outono, a videira entra em dormência – estágio em que não há folhas ou atividades de crescimento, período que se estende até a abertura das gemas na estação seguinte. Apesar deste estágio aparentar inatividade, ele pode ser um período critico para a videira, se exposta a muito baixas temperaturas. A habilidade da videira em estágio de dormência tolerar baixa temperatura significa a sua resistência ao frio. A resistência ao frio é uma condição muito dinâmica, influenciada pelo ambiente e as condições de desenvolvimento, e varia conforme a variedade, os tecidos e da estação (Hellman, 2007).
               Howell (2000) descreve três estágios de dormência: (a) aclimatação é o período de transição entre a condição de não resistência a plena resistência ao frio. Aclimatação é um processo gradual, que inicia próximo ao inicio da maturação da uva (veraison) e continua após a queda das folhas quando as temperaturas são baixas (Martinson, 2007). A combinação da diminuição das horas de sol (fotoperíodo) e a queda da temperatura no outono são fatores importantes que influenciam a aclimatação e a resistência ao frio (Wample, et al., 2000). O processo da aclimatação envolve simultaneamente diversas atividades que coletivamente aumentam a resistência ao frio. Diminui o conteúdo de água em vários tecidos, enquanto aumenta a concentração de solutos nas células, a permeabilidade da membrana, e a estabilidade térmica de varias enzimas (Mullins, et al., 1992). (b) metade do inverno, período de maior severidade e grande resistência ao frio. Após passar pelas baixas temperaturas na metade do inverno, as gemas continuam a ganhar resistência ao frio através da desidratação e a transferência de água para os espaços intercelulares. Se ocorrer a formação de gelo fora das células, o diferencial de pressão forçará a saída de água do interior das células para os cristais de gelo, não danificando as gemas (Martinson, 2007). (c) desaclimatação, período de transição entre a plena resistência ao frio a não resistência e o crescimento ativo da nova vegetação. Após alcançar o máximo de resistência ao frio na metade do inverno, as gemas passam pelo processo de desaclimatação em resposta a elevação da temperatura -   a desaclimatação é mais rápida do que o processo de aclimatação. Temperatura mais alta aumenta a umidade ambiental, e os tecidos da videira gradualmente absorvem água. Aumentando a temperatura do solo, o efeito capilar faz com que a água penetre nas raízes e a seiva começa a circular. Por ocasião do inchamento das gemas, as gemas reidratadas são vulneráveis ao frio e bastam alguns graus abaixo do ponto de congelamento para danificá-las (Martinson, 2007).
                A resistência ao frio depende das características genéticas da espécie e da variedade de videira. O potencial genético da resistência ao frio depende das condições ambientais e das condições em que as videiras se desenvolveram na estação anterior. Práticas de manejo inadequadas ou condições climáticas adversas podem inibir o processo de aclimatação, resultando em reduzida resistência ao frio. A aclimatação é favorecida quando as folhas e os ramos se desenvolveram em boa exposição solar, isto ocasiona boa maturação e com relativa baixa concentração de água (Mullins, et al., 1992). Segundo Howell (2000) a resistência ao frio varia consideravelmente entre as variedades. Reduzida resistência é associada à grande, densa copa (sombreamento); ramos com entrenós longos e/ou grossos. Além disso, excesso de carga de uva ou desfolha (queda prematura das folhas devido a estresse ou doenças) inibe a aclimatação, provavelmente devido a reduzir a atividade fotossintética (Mullins, et al., 1992).
   As videiras não estão totalmente inativas durante a fase de dormência. Elas não fotossintetizam por que não tem folhas, mas elas continuam respirando para manter as funções básicas do metabolismo. A sua fonte de energia neste estágio são os carboidratos estocados no ciclo anterior (a maioria amido) nas raízes, tronco e braços. As videiras em estado de dormência passam a viver de suas reservas após a queda das folhas. A nova brotação, no ciclo vegetativo seguinte, é completamente dependente destas reservas durante o primeiro mês (AWRI).


BIBLIOGRAFIA
AWRI – Bud dormancy an budburst. Research to Practice. www.awri.com.au
HELLMAN, Ed. – Grapevine Cold Hardiness. Texas Cooperative Extension. 2007.
HOWELL, G.S.  – Grapevine cold hardiness: mechanisms of cold acclimation, mid-winter hardiness maintenance, and spring deacclimation. Proceedings of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.
MARTINSON, T. – How Grapevine Buds Gain and Lose cold-Hardiness. Cornell University. College of Agriculture and Life Sciences Viticulture and enology Program. 2007.
MULLINS, M.G., BOUQUET, A. and WILLIANS, L.E. – Biology of grapevine. Cambridge University Press, Cambridge. 1992.

WAMPLE, R.L., HARTLEY, S. and MILLS, L. – Dynamics of grapevine cold hardiness. Proceedings  of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.

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