terça-feira, 21 de outubro de 2014

OS FUNGICIDAS


                 A palavra fungicida é originada de duas palavras latinas "caedo" que significa matar e "fungus" que significa fungo. Apesar da especificidade, a definição, com o tempo, se tornou mais abrangente. Desse modo podemos definir a palavra fungicida, atualmente, como composto químico empregado no controle de doenças de plantas, causadas por fungos, bactérias e algas.

                Os fungicidas podem ser classificados quanto à mobilidade em: contato ou penetrantes. Independente da mobilidade, os produtos fungicidas agem melhor quando aplicados antes que os sintomas da doença apareçam e o patógeno inicie a reprodução (esporulação).

Fungicidas de Contato - Tópicos ou imóveis – são os fungicidas que aplicados nos órgãos aéreos não são absorvidos e nem translocados, permanecem na superfície da planta no local onde foram depositados. São chamados, também, de não sistêmicos ou de contato.

                Os fungicidas protetores formam uma camada na superfície do órgão tratado e protegem a planta da infecção pelo patógeno. Quando o esporo do fungo cair na superfície foliar e absorver água para germinar, absorve também o fungicida e a germinação é impedida. Em geral, os protetores inibem, inespecificamente, reações bioquímicas e afetam um grande número de processos vitais. Há evidencias que atuam tanto na membrana como no protoplasto. A maioria dos fungicidas protetores tem amplo espectro e têm modo de ação multi-sítio, uma vez que atuam em vários processos metabólicos do fungo.

                        Os fungicidas protetores atuam principalmente prevenindo a germinação e penetração. Porém, podem prevenir a disseminação e penetração dos esporos dos fungos na superfície da planta hospedeira. São efetivos somente se aplicados antes da penetração do patógeno nos tecidos do hospedeiro. Esses produtos são relativamente insolúveis em água. Portanto, quando se aplica um fungicida protetor, o depósito seca na superfície do hospedeiro, e, para que o ingrediente ativo seja liberado, torna-se necessária a presença da água, formando por conseguinte uma suspensão na superfície da planta.

Entre os principais representantes destes produtos destacam-se os fungicidas a base de cobre, mancozeb, metiram, chlorothalonil, fluazinam, propineb, captana, folpet, ditianona e estanhados. Tais fungicidas exigem aplicações periódicas e cobertura de toda parte aérea da planta, pois somente garantem a proteção contra infecções no local em que estão depositados. As aplicações podem ser sequenciadas em períodos pouco favoráveis à doença ou intercaladas a fungicidas específicos em períodos críticos. O período de proteção destes fungicidas na planta varia em função das características técnicas de cada produto, sendo este de 4 a 8 dias em média. De maneira geral, as pulverizações visando renovar a proteção das plantas devem ser repetidas a intervalos de 4 a 7 dias em períodos chuvosos ou de rápido desenvolvimento vegetativo da cultura e de, 7 a 10 dias, em períodos secos ou em caso de paralisação no crescimento vegetativo. São fungicidas recomendados no decorrer de todo o ciclo da cultura.

Os fungicidas de contato aplicados sobre a superfície do órgão da planta (folha, ramo, flor ou fruto) não penetra no tecido deste. Ele pode ser lavado pela água da chuva ou degradado pela exposição às condições climáticas. Por isto os fungicidas de contato devem ser reaplicados regularmente para restabelecer a proteção dos órgãos da planta e para proteger a ponta de crescimento. Os fungicidas de contato agem formando uma barreira contra a invasão do fungo. Por isto, devem ser aplicados antes que o fungo se instale.

 

 Penetrantes

                   Fungicidas penetrantes podem se mover para o interior da planta após a sua aplicação. Devido ao movimento para o interior da planta estes fungicidas são geralmente considerados “sistêmicos”. Entretanto a sistematicidade varia conforme o fungicida e pode ser classificada como:

                - Penetrante local (mesostêmicos) = o fungicida move-se somente em pequena distancia, somente penetra na cera cuticular e permanece lá.

                - Penetrante translaminar (Loco-sistêmicos, de profundidade ou translaminares) = pode se mover através da cutícula entre as células até o lado oposto da folha.

                - Penetrante acropetal (móveis) = move-se dentro da planta via o xilema (xilema são os vasos condutores da seiva bruta) e move-se entre as células ao longo do gradiente potencial da água. Os penetrantes acropetal movem-se somente para cima.

                        - Penetrante sistêmico = move-se através das células e seguindo o gradiente do açúcar. Os sistêmicos podem se mover para cima e para baixo na planta. Vários fungicidas são considerados sistêmicos. Devemos lembrar que o fungicida sistêmico tem limitadas habilidades curativas. Os fungicidas penetrantes somente param ou reduzem a infecção nas primeiras 24 ou 72 horas após a penetração do fungo. Portanto, melhor controle é conseguido quando os fungicidas penetrantes são aplicados preventivamente.

Mesostêmicos – são substâncias químicas que apresentam afinidade com a superfície foliar podendo ser absorvidas pela camada de cera, formando um depósito na superfície do órgão suscetível. Posteriormente, o produto pode ser redistribuído na superfície da planta por sua fase vapor. A substância mesostêmica penetra os tecidos apresentando atividade translaminar, porém, com translocação vascular (via xilema ou floema) mínima ou inexistente.

                Os fungicidas mesostêmicos apresentam maior resistência à remoção pela água da chuva ou irrigação do que os protetores, são lipofílicos (ligam-se às gorduras).

Os principais fungicidas mesostêmicos são: azoxistrobina, cresoxim metílico, picoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina.

Loco-sistêmicos, de profundidade ou translaminares – Segundo Reis, o termo sistêmico pode induzir à ideia de que o fungicida pode ser translocado para qualquer parte da planta independentemente de sua espécie botânica. Por exemplo, em gramíneas a translocação é completa dentro da folha, da base para o ápice. Por outro lado, muitos fungicidas móveis, em plantas de folhas largas, apresentam uma ação loco-sistêmica, ou seja, são translocados somente a pequenas distâncias dentro da folha a partir do ponto de deposição, necessitando, por isso, de boa cobertura, para que seja obtida eficiência máxima no controle.

                Como exemplo as estrobirulinas e os triazois.

Estes dois grupos (mesostêmicos e loco-sistêmicos) são, também chamados de fungicidas com ação translaminar ou penetrantes, que se caracterizam por penetrar e se redistribuir rapidamente no local tratado, todavia não se translocam pela planta e não protegem brotações novas. Tal característica garante a estes produtos a capacidade de atuarem como preventivos, curativos e erradicantes. São fungicidas classificados como seletivos, pois inibem processos metabólicos específicos inerentes a grupos restritos de fungos. O fato de estes fungicidas penetrarem nos tecidos, permite que sofram menor ação das intempéries e apresentem ação curativa em infecções com até 48 horas de incubação, além de significativa ação antiesporulante. Estes produtos devem ser pulverizados a intervalos de 7 a 10 dias, em caráter preventivo, assim que as condições climáticas se tornem favoráveis à doença. Entre os principais exemplos destes fungicidas destacam-se os produtos dimetomorfe, cymoxanil, pyraclostrobin, fenamidone, zoxamida e famoxadona.  

A famoxadona e a zoxamida são substâncias capazes de penetrar na camada cerosa que envolve a folha, fixando-se fortemente ali. São mais resistentes à lavagem que as substâncias de contato, mas não penetram no interior da folha. Entretanto, o cimoxanil é uma substância com ação penetrante local. Isto é, penetra nos tecidos vegetais em profundidade, mas não se difunde dentro da folha nem passa de uma folha a outra, não sendo, por isso, verdadeiramente sistêmico. Embora com ação preventiva pouco duradoura, dado a fraca persistência, o cimoxanil tem excelente ação curativa nos estádios iniciais das infecções (até 2 dias após a contaminação). Essa ação curativa, por definição, é a que se exerce sobre o micélio do fungo, travando o seu desenvolvimento no interior dos tecidos da planta.

                        A azoxistrobina, a piraclostrobina, o dimetomorfe e o iprovalicarbe são substâncias ativas com propriedades sistêmicas, essencialmente penetrantes, mais ou menos translaminares e/ou com mobilidade lateral. Isto quer dizer que penetram na folha, difundindo-se nela em profundidade e lateralmente. A azoxistrobina e o dimetomorfe, por serem translaminares, podem mesmo atingir a pagina inferior. São, pois, substâncias que possuem alguma sistemia, embora não a suficiente para serem translocadas de folha para folha, o que as torna ineficazes na proteção da vegetação nova. Alem da ação preventiva, estas substâncias  tem assinalável ação curativa, desde que aplicadas logo a seguir às contaminações, bem como considerável ação antiesporulante. Esta ultima traduz-se na limitação da formação de esporos e/ou da sua mobilidade e sobrevivência.

Sistêmicos ou móveis – são aquelas substâncias absorvidas pelas raízes e pelas folhas, sendo, posteriormente translocadas pelo sistema condutor da planta via xilema e floema. Translocação é o movimento do composto químico dentro do corpo da planta para tecidos distantes do local da deposição. A translocação via xilema ou acropetal é a mais comum, como ocorre com os benzimidazóis e triazóis. Os triazóis, translocam-se principalmente via xilema, porém apresentam uma translocação parcial via floema. O movimento via floema, ou basipetal é mais difícil, e somente o composto fosetil apresenta esta propriedade. Por isso, os fungicidas sistêmicos diferem dos não sistêmicos por sua habilidade de serem redistribuídos dentro dos órgãos tratados, principalmente folhas.

                Uma característica importante dos compostos sistêmicos é a translocação ao longo da rota de transpiração da planta. As folhas são órgãos primários de transpiração, e o movimento dentro da planta é no sentido do sistema radicular para as folhas em expansão. Folhas muito jovens, flores e frutos, por não transpirarem quantidades significantes de água, recebem pequena quantidade de fungicida. É de se esperar também que os frutos não recebam resíduos desses produtos.

                        Os fungicidas sistêmicos apresentam, em geral, características semelhantes aos fungicidas translaminares. No entanto, distinguem-se pelo fato de serem translocados pelo sistema vascular e se distribuírem pela planta como um todo. Apresentam rápida absorção (30 minutos em média) e períodos de proteção de 10 a 14 dias, fato condicionado por fatores como umidade relativa, temperatura, taxa de crescimento das plantas, pressão da doença, etc. Diferente dos fungicidas de contato e translaminares, os sistêmicos apresentam proteção sobre os órgãos formados após a aplicação.

 

BIBLIOGRAFIA

ALBERT, G.; THOMAS, A. and GUHNE, N.  – Fungicidal activity of Dimethomorph on different stages in the life cyclo of Phytophthora infestans. 3 rd International Conference on Plant Diseases. NAPP. Paris. 1991.

 

AZEVEDO, L. A. S.  - Proteção integrada de plantas com fungicidas. Campinas:        EMOPI, 2001.

 

AZEVEDO, L.A.S. -  Fungicidas protetores – fundamentos para uso racional. Campinas: Emopi Edit. e Graf., 2003.

 

AZEVEDO, L.A.S. - Fungicidas sistêmicos: teoria e prática. fundamentos para o uso 419 racional. Campinas: Emopi Gráfica Editora Ltda. 2007.

 

BASF – Agriculture

BAYER – CropScience Portugal

DELEN, N.; TOSUN, N. Fungicidas: mecanismo de ação e resistência. Parte 1: fungicidas com mecanismo de ação não-específica. In: Luz, W.C.; Fernandes, J.M.; Prestes, A.M.; Picinini, E.C. Revisão anual de patologia de plantas. v.11, 2003.

 

DURIATTI, A. BENZEKRI, R.; LEFEBVRE, J.P. and DRIANT, D. - La zoxamide: fongicide antimildiou. Phytoma 557, 2003

 

FAGRO UDELAR – Productos específicos para Oomicetes. 2010.

FORCELINI, C. A.  - Fungicidas inibidores da síntese de esteróis. I. triazoles. RAPP,   v.2, 1994.

 

GALLI, F., H. TOKESI, P.C.T.CARVALHO, E. BALMER, H.KIMATI, C.O.N.CARDOSO e C.L. SALGADO – Manual de Fitopatologia – Doenças das plantas e seu controle. Biblioteca Agronômica Ceres. São Paulo, 1968.

 

GENIX, P.; VILLIER, A. -  Fenamidone inhibits mitochondrial respiration, a property not shared by its metabolites. Pflanzenschutz-Nachrichten Bayer, , 2003.

 

GHELER, J.A. – Principais Grupos de Fungicidas. Defesa Fitossanitária

 

JORDAN, D.B.; LIVINGSTON, R.S.; BISAHA, J.J.; DUNCAN, K.E.; PEMPER, S.O.; PICOLLELLI, M.A.; SCHWARTZ, R.S.; STERNBERG, J.A.; TANG, X.S. Mode of action of famoxadone. Pest. Sci., v.55, 1999.

 

JULIATTI, F. C. – Modo de ação dos fungicidas sobre plantas e fungos. Departamento de Fitopatologia, ICIAG/Universidade Federal de Uberlandia, MG.

MEDEIROS, F. – Modo de Ação de Fungicidas. pt.scribd.com/doc

POSSENTI, J. C. – Defensivos Agricolas – Unid. III. UTFPR/CAMDV.

REIS, M. R, e BRESOLIN, A. C. R., - Fungicidas: aspectos gerais. Revista Plantio      Direto.

 

SANTOS, A. – Os Fungicidas. Universidade Estadual do Sudeste da Bahia.

SMITH, D. L. – Undertanding fungicides to Improve their use and efficacy.  Department of Plant Pathology. University of Wisconsin-Madison, Madison. 2013.

 UFV - Programa de Pós-Graduação de Fitopatologia da Universidade Federal de       Viçosa

ZAMBOLIN, L. JESUS Jr, W.C. - O essencial dos fungicidas empregados no controle de doenças –parte básica. (Eds). Produtos Fitossanitários (Fungicidas, Inseticidas, Acaricidas e Herbicidas). Viçosa, MG. 2008

sábado, 13 de setembro de 2014

A FLORAÇÃO DA VIDEIRA




                A flor da videira passa por três processos na sua formação: (a) formação do embrião floral; (b) diferenciação da inflorescência e (c) formação das flores. O embrião floral é formado nesta estação e pode se desenvolver em inflorescência ou em gavinha. Geralmente as flores são formadas da inflorescência na abertura das gemas na estação seguinte.

                Após a brotação, as inflorescências aparecem rapidamente entre as primeiras folhas. A maioria das cultivares a inserção da primeira inflorescência situa-se entre a 3a e 4a folha, algumas pode aparecer na segunda e outras na quarta. Após uma a duas semanas, se as condições climáticas e o vigor do ramo forem favoráveis, os botões florais, que se apresenta num amontoado, se separam e adquirem a forma definitiva.

                A floração ocorre quando a caliptra se abre expondo os estames (órgãos masculinos) e o pistilo (órgão feminino). Isto ocorre normalmente 6 a 8 semanas após a brotação, dependendo das condições climáticas, e dura normalmente ao redor de duas semanas. Imediatamente após a queda da caliptra, as anteras, localizadas nos estames, se abrem e libertam os grãos de pólen. Alguns destes grãos aderem-se na substancias liberadas pelo estigma localizado na ponta do pistilo. A secreção estimática consiste de açúcar, proteínas e nutrientes minerais essências ao desenvolvimento do tubo polínico. Se as condições climáticas são favoráveis, os grãos de pólen germinam e formam o tubo polínico que penetra no estigma, percorrendo todo o pistilo até alcançar o ovulo e então ocorrerá a fecundação.

                Condições climáticas desfavoráveis durante o período de floração causam má fecundação das flores. Isto pode ser devido à interferência no processo fotossintético (causam redução momentânea de açúcar), ou pela ação direta na flor, como ocorre pelo excesso de chuva que causa a aglomeração dos grãos de pólen. O calor é necessário para favorecer a abertura das flores e a germinação do pólen. Para ocorrer uma boa floração é necessário que a temperatura permaneça ente 15 oC e 25 oC durante o período de floração.

                O fator climático tem grande influência na fecundação da flor e formação do fruto. Com temperaturas abaixo de 15,6 oC ou acima de 37,8 oC há inibição da formação do tubo polínico e consequentemente não ocorre à fecundação do ovulo. Baixas temperaturas estão associadas a não abertura da caliptra, enquanto que tanto as baixas como nas altas há menor fecundação do ovulo por dificultar o desenvolvimento do tubo polínico e a própria fecundação do ovulo. Chuvas durante a floração, ou alta umidade, também reduzem a fecundação do óvulo por impedir a completa abertura da caliptra. A chuva pode também diluir o fluido estimático e isto interfere na germinação do grão de pólen.

 

 

BIBLIOGRAFIA

DOKOOZLIAN, N. K. – Grape Berry Growth and Development.

GALET, P – Pecis de Viticulture Imprimierie De’han, Monpellier, 1988.

MILLARDET, A. – Essais sur l’hybridation de la vigne. Mém. Soc. Sc. Phys. et Nat. Bordeaux. 1981.

SRINIVASAN, C. and MULLINS, M. – Control of Flowering in the Grapevine (Vitis vinifera L.). Department of Agronomy and Horticultural Science, University of Sydnei, Australia. 2006.

 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PERÍODO DA BROTAÇÃO DA VIDEIRA

               No final do inverno ou inicio da primavera quando a temperatura aumenta e as gemas são rehidratadas (chuva, neblina, alta umidade relativa do ar), elas gradualmente desaclimatam e perdem a resistência a baixas temperaturas. As enzimas dependentes da temperatura começam a ser ativadas, seu grau de ativação dobra a cada 10 oC de aumento da temperatura.  Com o aquecimento do solo, a atividade radicular é ativada e o sistema capilar conduz a água para o tronco e parte aérea, resultando na circulação da seiva e aumentando a hidratação das gemas. As gemas incham e iniciam a nova conexão vascular.
                No interior das gemas dormentes encontra-se um diminuto broto totalmente formado (gema primária), composto pelos primórdios florais e alguns nós com os primórdios foliares. Quando este broto inicia a sua expansão, o seu meristema apical torna-se ativo e inicia a formação das novas folhinhas. Se esta gema primária for danificada, as gemas menores (secundárias ou terciárias) são ativadas. Estas gemas secundárias e terciárias carregam algumas folhas e alguns cachos ou não e vão formar o dossel vegetativo, mas com pouca produção.
                        A ponta apical do pequeno broto em formação produz auxinas, que é um hormônio que ativa a reativação e o desenvolvimento do sistema vascular. Estas auxinas enviam sinais para as gemas emergentes que resulta no desenvolvimento do novo sistema vascular, unindo a gema ao ramo e estimulam o ramo a ativar a divisão celular no cambio. Este estimulo expande-se via o cambio para os braços e tronco; e assim vão se formar os novos vasos do xilema e do floema. Se as gemas e o tronco forem danificados pelo frio do inverno este processo pode ser interrompido causando a interrupção da conectividade entre as gemas e as raízes.
                Na primavera, o solo normalmente se aquece mais lentamente do que o ar, então a formação do novo xilema e floema do sistema radicular também sofrem atraso em relação ao desenvolvimento aéreo. O desenvolvimento radicular também é dependente do sinal da auxina da ponta de crescimento, e o sistema vascular – da ponta de crescimento para as raízes – somente é reativado plenamente uma semana ou duas após a floração. Por este motivo, a nova brotação é dependente das reservas existentes nos braços, tronco e raízes. O nitrogênio e o amido necessários para o desenvolvimento inicial provem dos braços e tronco (1/3) e raízes (2/3). Amido e nitrogênio armazenados nos tecidos são mobilizados no período da brotação até a floração, inicialmente nos tecidos dos ramos próximo as gemas. Durante a floração a nova vegetação já é capaz de produzir suficiente carboidratos para suportar o seu crescimento. O sistema vascular já está conectado e apto a absorver os nutrientes, inclusive o nitrogênio, e água necessária para a vegetação.
Fatores que afetam o período de abertura das gemas
Temperatura – O efeito da temperatura é predominante e provavelmente a soma das temperaturas para cada variedade. Alta temperatura na parte final do inverno adianta o período de inicio da brotação. O numero de gemas brotadas por dia é grandemente correlacionada com a temperatura do ar no dia da sua abertura.
Variedade – Independente do clima e das condições sazonais, a ordem de brotação das diferentes variedades tendem a ser mantida. Por exemplo, Chardonnay continua brotando mais cedo, enquanto o Cabernet Sauvignon continua brotando mais tarde.
Temperatura na região das raízes – A data da brotação das gemas é positivamente relacionada com a temperatura do solo na região das raízes. Temperatura do solo de 25 oC induz a brotação mais precoce do que a 12 oC. Esta relação tem influência na escolha do local do vinhedo e no manejo do solo. Isto porque solo bem drenado, rochoso ou calcárico aquecem mais rapidamente na primavera do que o úmido e argilosos, isto pode ser uma alternativa para aumentar o comprimento do ciclo vegetativo e para aumentar o período de maturação.
Outros fatores – Genótipo do porta-enxerto, praticas culturais, época da poda e o uso de reguladores de crescimento como a cianamida hidrogenada podem influenciar na época de brotação.


BIBLIOGRAFIA
AWRI – Bud dormancy an budburst. Research to Practice. www.awri.com.au
HELLMAN, Ed. – Grapevine Cold Hardiness. Texas Cooperative Extension. 2007.
HOWELL, G.S.  – Grapevine cold hardiness: mechanisms of cold acclimation, mid-winter hardiness maintenance, and spring deacclimation. Proceedings of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.
MARTINSON, T. and GOFFINET, M.  – How Grapevines Reconnect in the Spring. Cornell University. College of Agriculture and Life Sciences Viticulture and enology Program.
MARTINSON, T. – How Grapevine Buds Gain and Lose cold-Hardiness. Cornell University. College of Agriculture and Life Sciences Viticulture and enology Program. 2007.
MULLINS, M.G., BOUQUET, A. and WILLIANS, L.E. – Biology of grapevine. Cambridge University Press, Cambridge. 1992.
WAMPLE, R.L., HARTLEY, S. and MILLS, L. – Dynamics of grapevine cold hardiness. Proceedings  of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.


terça-feira, 3 de junho de 2014

PERÍODO DE DORMÊNCIA DA VIDEIRA

                      No outono, a videira entra em dormência – estágio em que não há folhas ou atividades de crescimento, período que se estende até a abertura das gemas na estação seguinte. Apesar deste estágio aparentar inatividade, ele pode ser um período critico para a videira, se exposta a muito baixas temperaturas. A habilidade da videira em estágio de dormência tolerar baixa temperatura significa a sua resistência ao frio. A resistência ao frio é uma condição muito dinâmica, influenciada pelo ambiente e as condições de desenvolvimento, e varia conforme a variedade, os tecidos e da estação (Hellman, 2007).
               Howell (2000) descreve três estágios de dormência: (a) aclimatação é o período de transição entre a condição de não resistência a plena resistência ao frio. Aclimatação é um processo gradual, que inicia próximo ao inicio da maturação da uva (veraison) e continua após a queda das folhas quando as temperaturas são baixas (Martinson, 2007). A combinação da diminuição das horas de sol (fotoperíodo) e a queda da temperatura no outono são fatores importantes que influenciam a aclimatação e a resistência ao frio (Wample, et al., 2000). O processo da aclimatação envolve simultaneamente diversas atividades que coletivamente aumentam a resistência ao frio. Diminui o conteúdo de água em vários tecidos, enquanto aumenta a concentração de solutos nas células, a permeabilidade da membrana, e a estabilidade térmica de varias enzimas (Mullins, et al., 1992). (b) metade do inverno, período de maior severidade e grande resistência ao frio. Após passar pelas baixas temperaturas na metade do inverno, as gemas continuam a ganhar resistência ao frio através da desidratação e a transferência de água para os espaços intercelulares. Se ocorrer a formação de gelo fora das células, o diferencial de pressão forçará a saída de água do interior das células para os cristais de gelo, não danificando as gemas (Martinson, 2007). (c) desaclimatação, período de transição entre a plena resistência ao frio a não resistência e o crescimento ativo da nova vegetação. Após alcançar o máximo de resistência ao frio na metade do inverno, as gemas passam pelo processo de desaclimatação em resposta a elevação da temperatura -   a desaclimatação é mais rápida do que o processo de aclimatação. Temperatura mais alta aumenta a umidade ambiental, e os tecidos da videira gradualmente absorvem água. Aumentando a temperatura do solo, o efeito capilar faz com que a água penetre nas raízes e a seiva começa a circular. Por ocasião do inchamento das gemas, as gemas reidratadas são vulneráveis ao frio e bastam alguns graus abaixo do ponto de congelamento para danificá-las (Martinson, 2007).
                A resistência ao frio depende das características genéticas da espécie e da variedade de videira. O potencial genético da resistência ao frio depende das condições ambientais e das condições em que as videiras se desenvolveram na estação anterior. Práticas de manejo inadequadas ou condições climáticas adversas podem inibir o processo de aclimatação, resultando em reduzida resistência ao frio. A aclimatação é favorecida quando as folhas e os ramos se desenvolveram em boa exposição solar, isto ocasiona boa maturação e com relativa baixa concentração de água (Mullins, et al., 1992). Segundo Howell (2000) a resistência ao frio varia consideravelmente entre as variedades. Reduzida resistência é associada à grande, densa copa (sombreamento); ramos com entrenós longos e/ou grossos. Além disso, excesso de carga de uva ou desfolha (queda prematura das folhas devido a estresse ou doenças) inibe a aclimatação, provavelmente devido a reduzir a atividade fotossintética (Mullins, et al., 1992).
   As videiras não estão totalmente inativas durante a fase de dormência. Elas não fotossintetizam por que não tem folhas, mas elas continuam respirando para manter as funções básicas do metabolismo. A sua fonte de energia neste estágio são os carboidratos estocados no ciclo anterior (a maioria amido) nas raízes, tronco e braços. As videiras em estado de dormência passam a viver de suas reservas após a queda das folhas. A nova brotação, no ciclo vegetativo seguinte, é completamente dependente destas reservas durante o primeiro mês (AWRI).


BIBLIOGRAFIA
AWRI – Bud dormancy an budburst. Research to Practice. www.awri.com.au
HELLMAN, Ed. – Grapevine Cold Hardiness. Texas Cooperative Extension. 2007.
HOWELL, G.S.  – Grapevine cold hardiness: mechanisms of cold acclimation, mid-winter hardiness maintenance, and spring deacclimation. Proceedings of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.
MARTINSON, T. – How Grapevine Buds Gain and Lose cold-Hardiness. Cornell University. College of Agriculture and Life Sciences Viticulture and enology Program. 2007.
MULLINS, M.G., BOUQUET, A. and WILLIANS, L.E. – Biology of grapevine. Cambridge University Press, Cambridge. 1992.

WAMPLE, R.L., HARTLEY, S. and MILLS, L. – Dynamics of grapevine cold hardiness. Proceedings  of the ASEV Fiftieth Anniversary Meeting Seattle, Washington. American Society of Enology and Viticulture, Davis, Calif. 2000.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

PODRIDÃO DA UVA MADURA


                Esta doença é causada pelo fungo Glomerella cingulata (Stonem)  Spauld e Schrenk, fase perfeita ou sexual de Colletotrichum gloeosporioides (Penz) Penz e Sacc,  fase imperfeita ou assexual.

                O fungo sobrevive de um ciclo vegetativo da videira a outro nos frutos mumificados e nos pedicelos que são a fonte de inoculo primário. Durante a primavera ocorrendo chuvas os conídios produzidos pelos micélios sobreviventes causam a infecção primaria. Os conídios causam todas as infecções secundárias durante todas as estações, tão logo a temperatura e umidade tornam-se favoráveis, sendo que a disseminação ocorre pela ação da chuva, vento, animais e insetos.

A produção de conídios é abundante durante a primavera, mas decresce no verão. Os frutos são suscetíveis a infecção durante todos os estágios de desenvolvimento desde as bagas recém formadas até a maturação, mas não apresentam nenhum sintoma antes da maturação. O desenvolvimento da doença é favorecido com altas temperaturas (25 a 30 oC) e umidade.  A hifa penetra na cutícula da uva e permanece latente até a uva iniciar a maturação, quando então aparecem os sintomas primários. Quando os frutos estão maduros a hifa coloniza o pericarpo inter e intracelular e os acérvulos são formados sobre a superfície do fruto. Estudos indicam que o processo da infecção desde a germinação dos conídios, formação de apressório e penetração em bagas em desenvolvimento ocorrem dentro de 48 a 72 horas, entretanto o patógeno permanece em estado latente até a maturação dos frutos.

 A literatura mostra que há dois picos de liberação de conídios, no inicio da primavera, quando os frutos mumificados, da safra anterior, estão presentes e, durante a maturação da uva, devido à presença de frutos em estado de apodrecimento.

                O desenvolvimento de epidemias da doença é restringido pela disponibilidade de água livre em todas as fases do ciclo do patógeno. Não somente a esporulação requer alta umidade, mas também a liberação e a dispersão dos esporos, molhamento no mínimo por 4 horas e temperatura entre 20 a 25 oC são condições requeridas para a germinação e a infecção.

                As perdas causadas por esta doença variam de região para região e conforme a suscetibilidade da cultivar. A sua incidência é maior em anos com temperaturas elevadas e muita umidade durante o período de maturação da uva. Além da uva este fungo ataca maçã, moranguinhos, e outras frutas e vegetais.

Sintomas

                   Os primeiros sintomas, nos frutos, são o aparecimento de pequenas manchas concêntricas de coloração escura. Posteriormente estas manchas podem se alargar tomando toda a baga. Sobre as manchas apodrecidas forma-se uma camada de fungo de coloração salmão. Mais tarde a massa de esporos torna-se escura (marrom-avermelhada). As bagas apodrecidas apresentam depressões no ponto de infecção e gradualmente tornam-se murchas e mumificam, podendo permanecer no cacho ou cair.

                Não se conhece sintomas desta doença sobre outros órgãos verdes da planta.

 
 
 
Controle
                Algumas medidas preventivas são importantes para reduzir a fonte de inoculo, como a retirada dos cachos com bagas mumificadas logo após a colheita e aplicação de calda bordalesa durante o inverno. Durante o ciclo vegetativo: boa aeração e insolação dos cachos; realizar poda verde; utilizar adubação adequada evitando o excesso de nitrogênio; evitar ferimentos nas bagas; proporcionar um bom distanciamento dos cachos; retirar as folhas próximas aos cachos, mas evitando a exposição direta dos cachos ao sol.
                Tratamento com fungicidas específicos devem começar logo após a floração e seguir até próximo a colheita. No controle químico os produtos indicados são: fungicidas de contato – clorotalonil, folpet, folpan, dithianon, mancozeb; Fungicidas de profundidade – famoxadone e pyraclostrobina e fungicidas sistêmicos – tiofanato metílico e tebuconazole.       
                O controle químico deve ser efetuado nos seguintes estágios:
a)   – após a floração, grão limpo – aplicar um fungicida sistêmico.
b)   -  inicio da compactação do cacho e inicio da maturação – aplicar um fungicida de profundidade.
c)   – a partir do inicio da maturação aplicar produtos de contato que ao mesmo tempo servirão para o controle do míldio, sempre respeitando o período de carência de cada produto.
   
BIBLIOGRAFIA
BERTON, O -  Avaliação da eficiência de Dithane e Cercap com e sem Agróleo no     controle da    Mancha Foliar da Gala.    Epagri/Estação Experimental de          Caçador.
 
GARRIDO, L. R. e SONEGO, O.R. – Podridão da Uva Madura ou Podridão de Glomerella – Biologia, Epidemiologia e Controle. EMBRAPA-CNPUV, Bento Gonçalves, 2004.
PEARSON, R.C. and GOHEEN, A.C. – Compendium of grape diseases. 1st ed. American Phytopathological Society Press, St. Paul, Minnesota, USA. 1988.