quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A IMPORTÂNCIA DOS CUIADOS PÓS-COLHEITA


                Nas videiras (Vitis vinifera L.), a absorção de nitrogênio e a assimilação de carboidratos é pequena nas primeiras semanas após a brotação. Consequentemente, a fase inicial de crescimento é sustentada pelo processo de mobilização das reservas existentes.

                Quanto a absorção de nitrogênio, e de outros nutrientes, é sabido que este processo é realizado pelas raízes finas, mas elas iniciam a se diferenciar e se desenvolver somente algumas semanas após a abertura das gemas, alcançando o pico de crescimento no início da floração. Assim, a remobilização do nitrogênio (existente nas reservas),  na fase inicial de crescimento, é o maior processo de disponibilização deste elemento aos tecidos da videira em formação, isto até a floração.  Isto demonstra a importância das reservas de nitrogênio acumuladas pela videira no final do ciclo vegetativo anterior em relação a absorção no início do ciclo atual.

                A videira recorre as reservas de carboidratos para suportar o desenvolvimento inicial da nova brotação. Estes carboidratos encontram-se armazenados, nas raízes e tronco, na forma de amido, e frações de açúcares livres, principalmente glicose, frutose e sacarose.

                Durante o ciclo vegetativo existe um complexo intercâmbio de carboidratos nos órgãos em desenvolvimento (folhas, inflorescências e bagas) e nos perenes (raízes, tronco e braços). Os órgãos em desenvolvimento atraem nutrientes e representam os órgãos "drenos". Inversamente, os órgãos que tem capacidade de liberar açúcar sintetizado são as "fontes", como as folhas adultas. Nas angiospermas, os órgãos reprodutivos são tipicamente "drenos" ao longo do seu desenvolvimento, enquanto que os órgãos vegetativos podem se comportar como "fontes" ou como "drenos" dependendo do seu estágio de desenvolvimento.

                Em todas as cultivares, a fotossíntese nas folhas vai aumentando desde a brotação até o florescimento e após regularmente decresce até a senescência. Embora as folhas assimilem o CO2 desde o seu aparecimento, elas são órgãos "drenos" na fase inicial do seu crescimento, isto significa que elas necessitam de mais carboidratos do que produzem. Elas passam a ser "fonte" (produzem mais carboidratos do que necessitam) quando atingem cerca de um terço do seu tamanho normal. Dependendo da variedade, a capacidade fotossintética máxima é atingida por ocasião da floração.

                A relação entre a "fonte" e os "drenos" é complexa e dinâmica durante todo o ciclo vegetativo e as reservas acumuladas são importantes na fase inicial do crescimento até a floração. As folhas da videira somente passam a exportar carboidratos quando atingem cerca de um terço do seu tamanho final. A utilização dos carboidratos da reserva inicia desde a abertura das gemas, chega ao máximo quando o ramo tem de 6 a 8 folhas abertas e diminui na floração. No broto novo, as folhas basais iniciam a exportar carboidratos a partir da 5a folha aberta, e a exportação máxima é atingida quando adultas. As folhas atingem sua capacidade fotossintética máxima entre 30 e 50 dias de vida. Antes da floração, o destino dos fotoassimilados é a ponta de crescimento. Após a fixação do fruto, as bagas passam a ser um grande "dreno". A maioria dos carboidratos que abastecem os frutos são provenientes da fotossíntese das folhas. A utilização de carboidratos de reserva, neste estágio, somente ocorrerá se houver fator de estresse, ou se a produtividade é maior do que a capacidade que a videira possa suportar.

                O destino dos fotoassimilados flutua durante o ano. Da floração até o início da maturação, o fluxo de carboidratos é orientado para o crescimento dos órgãos anuais e para acumulação nos órgãos perenes. No início da maturação, ocorre acumulação de reservas de carboidratos na maioria das variedades, mas a maior quantidade é direcionada para a maturação da uva. Após a colheita, a fotossíntese declina paralelamente com a senescência das folhas, mas a planta continua armazenando carboidratos até a queda das folhas. O declínio da capacidade fotossintética deve-se principalmente a redução da condutância dos estômatos e ao conteúdo de proteína.

                Juntamente com as reservas de carboidratos, as reservas de nitrogênio desempenham importante papel na fase inicial de crescimento nas plantas lenhosas. Na videira, as reservas de nitrogênio localizam-se predominantemente nas raízes e na forma de aminoácidos (principalmente arginina) e proteínas. Além disso, a absorção de nitrogênio suplementa a mobilização durante o ciclo vegetativo. Entretanto, a absorção de nitrogênio, embora inicie cedo no ciclo vegetativo, geralmente permanece baixa até a floração, mesmo que  o solo seja rico em nitrogênio.

                A quantidade de substâncias de reserva existente durante o inverno interfere no desenvolvimento vegetativo na primavera, no número de cachos e flores por cacho, na fixação do fruto e na produtividade. A quantidade de substâncias de reserva interfere também no vigor da brotação.

 

 

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