segunda-feira, 5 de setembro de 2011


DOENÇAS DA VIDEIRA (parte 1)

                Com o aumento da temperatura a videira tende iniciar a brotação, algumas mais cedo (variedades mais precoces) e outras mais tarde (variedades tardias) e então começa a preocupação do viticultor em cuidá-la com esmero para conseguir uma boa safra, mas principalmente tratá-la corretamente para evitar o surgimento de enfermidades.
                A doença das plantas é o resultado da interação entre a suscetibilidade do hospedeiro (planta) com a presença do organismo patogênico, mediante condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença. A videira, como as outras plantas, está sujeita a várias doenças que podem ser de origem fúngica, bacteriológica, virótica e abiótica, sendo a última causada por agentes não vivos, como desequilíbrio nutricional, condições de estresse e toxicidade química. Estas doenças podem causar grandes perdas na produção.
                As doenças que ocorrem em cada região vitícola dependem dos agentes causais presentes na região, da suscetibilidade da cultivar e das condições climáticas. Quanto às condições climáticas, a doença pode se tornar tão severa que os vinhedos não poderão ser conservados nos locais favoráveis ao desenvolvimento da doença ou, pode limitar as variedades de uva possíveis de serem cultivadas. Em resumo, quanto mais úmida a primavera e o verão, maior será o risco de ocorrer doenças fungicas.
                Na fase inicial do desenvolvimento da videira, especialmente na região Sul do país, por se desenvolver num período com alta umidade e com temperaturas baixas, está propicia ao ataque de fungos que se desenvolvem nestas condições, como a Escoriose e a Antracnose.
ESCORIOSE – o fungo causador desta doença é o Phomopsis viticola Sacc.
Este fungo hiberna na casca ou nas gemas dormentes da base do sarmento, onde se localizam as feridas do ataque do ano anterior. Próximo ao inicio da brotação, o fungo entra em atividade. A estrutura de sobrevivência do fungo na presença de umidade resultante de chuva ou orvalho liberta os esporos. Os pingos da chuva projetam os esporos sobre os tecidos novos e estes, facilmente, contaminam as brotações novas, quando estas permanecerem molhadas por um período aproximado de 10 horas, temperatura superior a 8 oC e umidade relativa acima de 80% (nestas condições a doença pode ser muito agressiva). Após o período de incubação, que dura de uma a três semanas, surge os primeiros sintomas da doença, de forma pouco visível no início, mas que evolui em lesões nos entrenós da base dos novos brotos.
Sintomatologia
FOLHAS –  as folhas basais são as mais atacadas, devido à proximidade da fonte de  inoculo. Sobre a lâmina foliar aparecem manchas escuras (marrom escuro) rodeadas por um halo amarelo. As manchas podem aparecer também ao longo das nervuras das folhas. Quando ocorre um grande número de lesões, podem necrosar parte da folha e cair. As folhas mais atacadas ficam distorcidas e geralmente não atingem o tamanho normal. Quando o ataque for muito severo, tanto na folha como no pecíolo, as folhas amarelam e caem. Normalmente estas lesões ocorrem até a altura da terceira camada de folhas e as que se localizam acima destas desenvolvem-se normalmente.
BROTOS – logo após o aparecimento das primeiras folhinhas, sobre os brotos aparecem os primeiros sintomas na forma de manchas escuras e alongadas, muito parecidas com as das folhas, e, geralmente sobre os primeiros três entrenós. Sobre os entrenós atacados, no local das manchas, formam-se fissuras e com o passar do tempo tendem a cicatrizar, mas esta região permanecerá áspera no amadurecimento do ramo.
CACHOS E UVA – Quando ocorre ataque muito forte podem aparecer sintomas sobre o ráquis da inflorescência e do cacho na forma de manchas escuras ao longo do mesmo.
                O fungo pode causar podridão no fruto. A infecção do fruto parece que ocorre durante a floração, por ocasião da queda das sépalas. Estas lesões permanecem inativas durante o verão, mas no período da maturação com temperaturas altas e combinado com chuvas pode reativar a doença, resultando na podridão das bagas e do cacho. Os sintomas nos frutos, geralmente, não é extensivo, aparecendo isoladamente em um cacho ou outro. Entretanto, a ocorrência de chuva logo antes da colheita pode causar o aparecimento de manchas marrom claro sobre as bagas, as manchas se alargam rapidamente e tornam-se marrom escuro.
Controle
Devido às lesões que permanecem sobre o sarmento ser a fonte de inóculo para as infecções nas brotações novas, recomenda-se que na poda de inverno sejam eliminadas o máximo possível destas lesões. Quando ocorre ataque severo durante o período vegetativo, recomenda-se realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica a 4 o Baumé.
                No inicio da brotação aconselha-se efetuar dois tratamentos com fungicidas protetores, o primeiro quando os brotos tiverem cerca de 1 cm de comprimento e o segundo com 6 a 12 cm de comprimento (duas a três folhinhas abertas). Entretanto, em períodos muito frios em que o crescimento dos brotos é lento, é aconselhável realizar uma ou duas aplicações suplementares.
                Os fungicidas mais indicados para o controle desta doença são: dithianon, mancozeb, captan e enxofre.
ANTRACNOSE - A doença é causada pelo fungo Elsinoe ampelina (de Bary).
                O fungo sobrevive de um ano a outro nas lesões existentes sobre os sarmentos. Na primavera quando ocorrer um período mínimo de 24 horas de umidade e a temperatura estiver acima de 2 oC há a produção de esporos (conídios). Com a ocorrência de chuva, mínimo 2 mm, os conídios são projetados para as partes verdes da planta e encontrando água livre eles germinam e causam a infecção primária.
                O ataque de antracnose ocorre sobre todos os tecidos verdes e jovens da videira, como folhas, ramos, pecíolos, gavinhas, inflorescências e frutos, podendo ocasionar perda total da produção, caso não sejam tomadas medidas adequadas de controle.  Além de causar a perda da produção do ano, pode afetar seriamente a parte aérea da planta comprometendo também o seu desenvolvimento e a produção nos anos subseqüentes.
Sintomatologia
FOLHAS – sobre as folhas formam-se manchas arredondadas (1 a 5 mm de diâmetro), inicialmente amareladas e que com o passar do tempo tornam-se escuras e este tecido necrosa, desseca e cai, deixando a lâmina foliar com numerosos orifícios. Quando o ataque ocorre sobre as folhas novas evita que estas se desenvolvam normalmente e então ela encarquilha.
                A suscetibilidade das folhas diminui à medida que se tornam maduras, mas a ponta dos ramos novos ainda pode ser afetada pelo fungo.
BROTOS – sobre os brotos aparecem pequenas manchas isoladas, arredondadas ou angulares. Inicialmente a lesão é de cor marrom violeta e gradualmente torna-se escura. Tanto nos brotos novos como nas gavinhas as lesões vão se alargando, tornando-se mais profundas no centro, formando assim cancros acinzentados cuja parte central é deprimida e com bordas levemente salientes e de coloração pardo-escuro.
Quando o ataque ocorre sobre brotos novos, pode simplesmente interromper o seu crescimento, devido à confluência das lesões, e com isso comprometer a safra do ano e do ano seguinte.
CACHOS E UVA – os cachos são suscetíveis à antracnose desde a sua formação até o inicio da maturação. As lesões no ráquis e nos pedicelos são semelhantes a que ocorrem nos brotos.
                Nas bagas formam-se isoladamente manchas arredondadas (também denominadas olho de passarinho) com diâmetro entre 5 a 8 mm, estas manchas são deprimidas no centro e de cor acinzentada e circundadas por uma área pardo-avermelhada.
                  Sobre as bagas, o prejuízo advém se o ataque ocorrer durante a fase inicial do desenvolvimento, pois estas caem comprometendo a safra. No entanto, se ocorrer na fase final do desenvolvimento, causará sérios prejuízos, principalmente se a uva é destinada a o consumo “in natura”, mas se for para a vinificação os prejuízos ocorrem devido à uva não maturar uniformemente.

Controle
                Algumas medidas preventivas podem ser tomadas para evitar ou minimizar o risco de ocorrência desta doença, tais como:
                - Evitar o plantio em lugares com alta umidade e em terrenos expostos a ventos frios.
                - Utilizar variedades com maior resistência à doença.
                - Utilizar material vegetativo sadio.
                - Na poda de inverno eliminar o maior número possível de sarmentos com lesões de antracnose.
                - Fazer tratamento de inverno com calda sulfocálcica a 4 o Baumé.
                Durante o período vegetativo aplicar fungicidas recomendados para o controle desta doença, iniciando quando a brotação tiver de 5 a 10 cm de comprimento e seguir até que as condições climáticas estejam favoráveis ao desenvolvimento da doença (temperatura mínima abaixo de 15 oC e umidade).
                Os fungicidas indicados para o controle desta doença são:
a)          – Fungicidas de contato – dithianon, captan, folpet, clorothalonil, maneb e mancozeb.
b) – Fungicidas sistêmicos – Tiofanato metílico, difeconazole, tebuconazole e imibenconazole.
                A fase crítica é o início da brotação onde o controle é indispensável. A severidade da doença depende, principalmente, das condições locais de alta umidade e exposição a ventos frios. O tratamento de inverno com calda sulfocálcica e a retirada dos restos de  poda são medidas de grande eficiência no controle da doença.
Na fase inicial do desenvolvimento, como a área foliar é pequena, aconselha-se aplicar produtos de contato até que o broto tenha no mínimo 3 folhinhas abertas. Após este estágio pode-se aplicar produtos sistêmicos.
OBS= A aplicação continua (por mais de 3 vezes) do mesmo produto sistêmico poderá induzir o aparecimento de resistência.

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