sábado, 24 de setembro de 2011

Doenças da Videira (Parte dois)

                Com a elevação da temperatura e na presença de umidade há riscos de ocorrência de Míldio - Plasmopora vitícola (Berk & Curt).
                        As folhas do ciclo passado caídas sobre o solo, embora em decomposição, contem os oósporos do míldio e sobre os sarmentos que foram atacados existe o micélio dormente. Estas formas de resistência, na primavera, quando a temperatura ultrapassar os 10 oC e ocorrer chuva de no mínimo 10 mm gera inóculo (zoósporos) que são dispersados pelos pingos da chuva e carregados pelo vento.            Os zoósporos possuem cílios que se movimentam, ao caírem sobre as folhas locomovem-se e penetram nos estômatos e instalam-se na câmara estomática, ao germinarem emitem micélios que se  expandem através do espaço intercelular colonizando o tecido do hospedeiro. Se as condições de temperatura e umidade forem favoráveis, germinam em 90 minutos. Aproximadamente quatro dias após a germinação, dependendo da idade da folha, cultivar, temperatura e umidade, aparecerão os primeiros sintomas na forma de mancha amarelada (mancha de óleo) na face superior da folha. No final do processo de incubação (a duração deste período depende das condições climáticas) aparece a mancha branca sob a folha (nas condições de temperatura mínima de 14 oC e umidade relativa acima de 80%) no lado oposto a mancha amarelada, que são os órgãos de reprodução. Os zoósporos formados nas manchas de míldio ao serem transportados pelo vento e ao caírem sobre as folhas novas, se houver umidade, ocorrerá à infecção secundária, terciária, etc. Num mesmo ciclo vegetativo da videira, em condições climáticas favoráveis, podem ocorrer de 10 a 15 infestações.
                Do ponto de vista geral a infecção poderá ocorrer com temperatura entre 9 e 34 oC, sendo o ótimo entre 18 a 24 oC, com umidade adequada por cerca de duas horas e no mínimo 4 horas de pouca luz (nublado).
Sintomatologia:
FOLHAS – o ataque pode ocorrer desde o início do desenvolvimento foliar. Folhas com cerca de três centímetros de largura podem ser atacadas, pois neste estágio tem máxima sensibilidade e esta vai diminuindo à medida que vão envelhecendo. Sobre as folhas, inicialmente aparecem manchas amareladas, na página superior, (mancha de óleo) e mediante condições de alta umidade aparece a mancha branca da frutificação do fungo na página inferior da folha. As manchas brancas com o passar do tempo tornam-se pardo-avermelhadas podendo confluir uma na outra e tomar toda a área do limbo foliar. As folhas muito atacadas caem precocemente privando a planta deste órgão de nutrição, interrompendo o desenvolvimento dos cachos e dos sarmentos, empobrecendo a planta e prejudicando a produção do próximo ano.
BROTOS – quando o ataque ocorre sobre os brotos novos, estes dobram a ponta (formato de anzol), cobrem-se de uma camada branca de frutificação do fungo e morrem. Entretanto, se o ataque ocorrer sobre brotos maiores, forma manchas escuras e se ocorrer no nó podem quebrar com o vento. Nas lesões formadas sobre os brotos novos, ao envelhecerem, permanecem as manchas escuras.
CACHOS E UVA – ocorrendo ataque sobre a inflorescência (antes da floração) ou mesmo no cacho recém formado (logo após a floração), causa grande prejuízo a produção.
                        Se a infecção ocorrer mais tarde, quando as bagas estão formadas (bagoinhas), estas tomam a coloração verde azulada, param de crescer, endurecem, cobrem-se com a frutificação branca do fungo, secam e caem.
                Ocorrendo o ataque quando as bagas estão com mais da metade do tamanho normal, causa a chamada podridão parda. Como neste estágio do desenvolvimento das bagas os estômatos estão degenerados, portanto o patógeno não pode invadir via estômatos, a invasão ocorre via pedicelo e o fungo se desenvolve no interior da polpa. Causam, então, manchas escuras (forma larvada) e deprimidas em diversos pontos, as manchas tornam-se pardas, endurecem e as bagas podem se destacar facilmente do cacho. A suscetibilidade na uva vai até o início da maturação.
Controle
                Algumas práticas culturais são recomendadas para amenizar o ataque de míldio, como:
                - drenar a umidade superficial do solo;
                - reduzir as fontes de inoculo no inverno (tratamento de inverno);
                - fazer a poda verde e a desfolha – melhora a circulação de ar e a penetração dos fungicidas no interior da copa;
                - cortar as pontas dos brotos infestados – elimina a fonte de inoculo.
                Como nenhuma destas práticas é suficiente para o controle e prevenção do míldio, recomenda-se a aplicação de fungicidas preventivos.   
No inicio do ciclo vegetativo da videira quando a área foliar ainda é pequena, a temperatura não está dentro da faixa ótima para o desenvolvimento do míldio e a quantidade de inoculo é pequena, embora ocorram chuvas, os estragos que podem ser causados pelas infecções primárias são insignificantes. Nesta fase correspondem aos primeiros tratamentos, entre 2 a 3 folhas visíveis e os cachos visíveis, as intervenções podem ser feitas com produtos de contato, mesmo com tempo chuvoso. Embora não seja errado o uso de produtos sistêmicos ou de profundidade. Entretanto, devemos considerar que o uso de produtos sistêmicos ou de profundidade numa fase que não há tanta necessidade de usá-los, pode comprometer a sua utilização mais tarde (devido o risco de resistência é aconselhável usá-los no máximo 3 vezes por ciclo vegetativo) e, além disso, são mais caros.
                Na fase posterior que vai dos cachos separados  ao inicio da floração, podemos usar qualquer tipo de fungicida, dependendo das condições climáticas: tempo seco e sem míldio visível usar fungicidas de contato; tempo úmido, embora sem a presença de míldio, é aconselhável usar produtos sistêmicos ou de profundidade.  
Na fase de floração é aconselhável o uso de produtos sistêmicos ou de profundidade, a não ser que o tempo seja seco e neste caso podemos usar produtos de contato.
Após a floração, que geralmente coincide com o final de Outubro, entramos num período critico onde a probabilidade de ocorrência de míldio é muito grande, devido às condições de umidade e temperatura, e este período se estende normalmente até final de Novembro. Neste período devemos seguir tratando com produtos de ação sistêmica ou de profundidade.
Quando usarmos produtos sistêmicos tem que ter em mente que uma característica importante destes compostos é a translocação ao longo da rota de transpiração das plantas. As folhas são órgãos primários de transpiração, e o movimento dentro da planta é no sentido do sistema radicular para as folhas em expansão, com exceção do Fosetil alumínio que se move nos dois sentidos. Uma das características dos frutos não climatéricos (uva) é a queda considerável da transpiração dos frutos após a formação completa das células que o compõem (grão tamanho ervilha). Por não transpirarem quantidades significantes de água, recebem pequena quantidade de fungicida e é de se esperar que também não recebam resíduos desses produtos, assim como acontece com as folhas muito jovens. Portanto, a partir do grão de uva tamanho ervilha não é aconselhável o uso de produtos sistêmicos.
A partir desta data, final de Novembro, se o tempo for seco podemos seguir tratando com produtos de contato, mas se o tempo for chuvoso aconselha-se utilizar produtos de profundidade.
A fase critica está compreendida entre os estadios de floração a fechamento do cacho. Geralmente, as cultivares americanas e híbridas são mais resistentes que as européias.
Fungicidas recomendados para o controle do Míldio:
                - Produtos de contato = Os fungicidas de contato caracterizam-se por formar uma película protetora na superfície da planta que impede a penetração dos esporângios ou zoósporos. Principais fungicidas =  dithianon, captan, folpet, mancozeb, hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre, metiran, propineb, maneb e sulfato de cobre.
                - Produtos de profundidade = (Fungicidas penetrantes ou translaminares) - Fungicidas com ação translaminar caracterizam-se por penetrar e se redistribuir rapidamente no local tratado, todavia não se translocam pela planta e não protegem brotações novas.  Principais fungicidas = azoxistrobina, zoxamida, cymoxanil, famoxadone, fenamidone, iprovalicarbe e piraclostrobina.
                - Produtos sistêmicos = Os fungicidas sistêmicos são, portanto, produtos químicos orgânicos absorvidos e transportados dentro da planta. Pouco são os produtos químicos considerados sistêmicos no sentido estrito da palavra, isto é, aqueles cujo ingrediente ativo move-se intacto dentro da planta. No interior da planta esses produtos podem mover-se para sítios metabólicos ou translocar-se para órgãos de transpiração da planta, protegem brotações novas.
Principais fungicidas = benalaxil, metalaxil e fosetil alumínio.
Lembrete = fungicidas são substâncias toxicas (o grau de toxidez depende de cada um), portanto, no manuseio e aplicação utilize os equipamentos de proteção individual, respeite as doses indicadas, o período de carência e utilize somente os produtos registrados para a cultura.

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